29 abril, 2020

Francisco: o caminho das Bem-aventuranças leva-nos a ser de Cristo e não do mundo

 
O Papa Francisco na Bisioteca do Palácio Apostólico
durante a Audiência Geral nesta quarta-feira
 
"Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”, disse o Papa na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira.
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (29/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico devido à pandemia do coronavírus, o Papa Francisco concluiu o percurso das Bem-aventuranças.

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Segundo Francisco, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.

“Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade,  misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, esta perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”, sublinhou Francisco. Para o Pontífice, “o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito”. E o Papa acrescentou:

O mundo, com os seus ídolos, os seus acordos e as suas prioridades, não pode aprovar este tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. O mundo pensa assim: estes são idealistas ou fanáticos.

Segundo Francisco, “se o mundo vive em função do dinheiro, qualquer um que demonstre que a vida pode ser cumprida no dom e na renúncia torna-se um incómodo para o sistema ávido. A palavra ‘fastio’ é fundamental, pois o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isto como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nesta beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar esta luz e endurecer o coração”.

O Papa frisou que “é curioso, chama a atenção para ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta ao ponto de incomodar”. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”.

É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que a sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos a nossa proximidade a estes irmãos e irmãs: somos um único corpo, e estes cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja.

Segundo o Papa, “devemos estar atentos para não ler esta Bem-aventurança de maneira vitimista, de auto-comiseração. De facto, o desprezo dos homens nem sempre é sinónimo de perseguição: logo após Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.

Francisco afirmou que “devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo. Vale a pena lembrar o percurso de São Paulo: quando ele pensava que era justo, era de facto perseguidor, mas quando descobriu que era perseguidor, tornou-se um homem de amor, que enfrentou de bom grado o sofrimento da perseguição que sofria”.

A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, faz-nos assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à sua paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi “desprezada e rejeitada pelos homens”. Acolher o seu  Espírito pode levar-nos a ter tanto amor no coração ao ponto de oferecermos a vida ao mundo sem fazer acordos com os seus enganos e aceitando a recusa.

“Os acordos com o mundo são perigosos: o cristão é sempre tentado a fazer acordos com o mundo, com o espírito do mundo”, disse o Papa, ressaltando que é preciso “rejeitar os acordos e seguir o caminho de Jesus Cristo. A vida do Reino dos Céus é a maior alegria, a verdadeira alegria”.

“Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito sustenta-nos neste caminho”, concluiu o Papa.

VN

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