Este Domingo marca o início do tempo do Advento, um dos denominados "tempos fortes" do ano litúrgico. A sua história, no Rito Romano, começa no Século VI, no sentido de espera jubilosa do Natal, e a sua pré-história remonta às Gálias e à Espanha dos fins do Século IV, como preparação ascética para o Natal e a Epifania.
No Século V o começo do Advento era na festa da Anunciação (18 de Dezembro - hoje, a Anunciação é comemorada em 19 de Março). Apenas no Século X o seu início passou a ser no Domingo, quatro semanas antes do Natal.
O tempo litúrgico de preparação para o Natal começa no domingo mais próximo da festa de Santo André Apóstolo (30 de Novembro) e abarca os três domingos seguintes.
A "feliz expectativa" do Advento assinala de forma clara que o tempo da festa não chegou; aliás, no início do Cristianismo a palavra "adventum" (“parusia”, em grego) utilizava-se para denominar não a primeira vinda de Jesus, mas a sua vinda definitiva no fim dos tempos, como Senhor do Universo.
Quem participar nas celebrações dos primeiros três Domingos do Advento notará que esta perspectiva continua a dominar, com destaque para os profetas e para João Baptista. No entanto, a partir do dia 17 de Dezembro, a preparação do Natal fixa-se nos antecedentes próximos do nascimento de Jesus e na figura da Virgem Maria, com as célebres antífonas do "Ó" na Liturgia das Horas ou as tradicionais "missas do Parto", na ilha Madeira.
Do Oriente para o Ocidente
Apesar desse Tempo ser muito peculiar nas Igrejas do Ocidente, o seu impulso original provavelmente veio das Igrejas Orientais, onde era comum, depois do Concílio Ecuménico de Éfeso em 431 dedicar sermões nos domingos anteriores ao Natal, ao tema da Anunciação. Em Ravena, na Itália (onde era grande a influência Oriental) São Pedro Crisóstomo fazia esses sermões.
A primeira referência sobre o Advento é a do Bispo de Tours, França, chamado Perpétuo (461-490) que estabeleceu um jejum antes do Natal, que começava a 11 de Novembro (Dia de São Martinho de Tours). O Concílio de Tours (567) faz menção ao tempo do Advento, costume que se conhecia como a "Quaresma de São Martinho".
Este carácter ascético para a preparação do Natal devia-se à preparação dos catecúmenos para o Baptismo na festa da Epifania. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 Domingos.
Um período de seis semanas foi adoptado pelas Igrejas de Milão e pelas Igrejas da Espanha. Na Itália somente aparece no século VI, quando foi reduzida, provavelmente pelo Papa São Leão Magno (590-604), para as quatro semanas antes do Natal.
O Advento é hoje celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal os fiéis se unam aos anjos e entoem este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós.
Pelo mesmo motivo, o directório litúrgico orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, "para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus".
As vestes litúrgicas (casula, estola, etc.) são de cor roxa, bem como o pano que recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal, com excepção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria, cuja cor tradicionalmente usada é o rosa, para revelar a alegria da vinda do libertador que está próxima.
Lugar espiritual
Em 2008, na celebração inicial do Advento, Bento XVI citava um texto no qual Paulo exorta os cristãos de Tessalónica a conservar-se irrepreensíveis "para a vinda" do Senhor. Ali lê-se "na vinda" (en tê parousia), como se, frisou o Papa, “o Advento do Senhor fosse, mais que um ponto futuro do tempo, um lugar espiritual pelo qual caminhar já no presente, durante a espera, e dentro do qual precisamente ser conservados perfeitos em cada dimensão pessoal”.
“A palavra que resume esta condição particular, em que se espera algo que deve manifestar-se, mas que ao mesmo tempo se entrevê e se antegoza, é «esperança». O Advento é por excelência a temporada da esperança, e nele a Igreja inteira é chamada a tornar-se esperança, para si mesma e para o mundo”, disse.
Octávio Carmo – AE
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt
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