23 outubro, 2018

Papa: gostaria de um mundo com um novo abraço entre os jovens e os idosos


“Os idosos são a reserva sapiencial da nossa sociedade.
A atenção pelos anciãos é aquilo que distingue uma civilização”

“Como é bonito, pelo contrário o encorajamento que o idoso consegue comunicar a uma jovem ou a um jovem em busca do sentido da vida! Esta é a missão dos avós. Uma verdadeira vocação”, escreve o Papa Francisco no prefácio do livro "A sabedoria do tempo". 

Cidade do Vaticano 

"Há uma expressão que não me agrada: “Voltar à casa do Pai”, como se a nossa vida fosse uma viagem de ida e volta. É bonito dizer: “Estou a ir para aquele encontro”. É o que sublinha o Papa Francisco no prefácio do livro “A sabedoria do tempo”, organizado pelo diretor da revista dos jesuítas "La Civiltà Cattolica" Padre Antonio Spadaro, apresentado nesta terça-feira, 23, no Instituto Augustinianum em Roma, no evento intergeracional que teve a participação do diretor de cinema Martin Scorcese.

O livro reúne 250 entrevistas realizadas em mais de trinta países, graças ao projeto "Partilhando a Sabedoria do Tempo” realizado por um grupo de editoras coordenadas pela estadunidense Loyola Press, com a ajuda da organização sem fins lucrativos Unbound e do Serviço dos Jesuíta para os Refugiados.

É uma história coral composta de palavras e imagens, nas quais se encontam histórias e rostos de idosos dos cinco continentes: o Papa comenta, em diálogo com o padre Spadaro, as aulas de desenho, momentos pastorais, e partilha momentos de sua própria biografia pessoal.

“A nossa sociedade – escreve o Papa – privou os avós da sua voz. Tiramos o espaço e a oportunidade deles nos contarem a sua experiência, as suas histórias, a sua vida. Deixamo-los de lado e perdemos o bem da sua sabedoria. Quisemos remover o nosso medo da fraqueza e da vulnerabilidade, mas assim procedendo, fizemos aumentar nos idosos a angústia de serem mal apoiados e abandonados".

Ao invés disto, “devemos despertar o sentido civil da gratidão, do apreço, da hospitalidade, capaz de fazer com que o idoso se sinta parte viva da comunidade. Colocando de lado os avós, descartamos a possibilidade de entrar em contacto com o segredo que permitiu a ele seguir em frente, fazer caminho na aventura da vida”.

E assim procedendo – observou Francisco – “faltam-nos modelos, testemunhos vividos. Ficamos perdidos. Privamo-nos do testemunho de pessoas que não somente perseveraram no tempo, mas que conservam no coração a gratidão por tudo aquilo que viveram”.

E por outro lado, “como é feio o cinismo de um idoso que perdeu o sentido de seu testemunho, que despreza os jovens, que se lamenta sempre. Deste modo, a sua sabedoria de vida não é mais transmitida, torna-se estéril nostalgia”.

“Como é  bonito, pelo contrário – observa o Papa – o encorajamento que o idoso consegue comunicar a uma jovem ou a um jovem em busca do sentido da vida! Esta é a missão dos avós. Uma verdadeira vocação”.

“Os idosos são a reserva sapiencial da nossa sociedade. A atenção pelos anciãos é aquilo que distingue uma civilização”, acrescenta.

O Papa pede aos idosos – que defina os “memoriosos da história”, para “formarem um coro”, “um coro permanente de um grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor apoiem a comunidade que trabalha e luta no “campo” da vida”.

“Mas peço também para agirem! Terem a coragem de contrastar de todas as formas a “cultura do descarte” que lhes é imposta a nível mundial”.

“E o que peço aos jovens?”. “Sinto pena de um jovem - disse - cujos sonhos se apagam na burocracia. Como o jovem rico do Evangelho. Vai-se embora triste, vazio. Peço portanto escuta, proximidade dos idosos; peço para não aposentar a existência deles na “quietude burocrática” na qual guardam tantas propostas privadas de esperança e de heroísmo. Peço um olhar às estrelas, aquele espírito saudável de utopia que leva a recolher energia para um mundo melhor”.

“Eis o que eu gostaria: um mundo que viva um novo abraço entre os jovens e os idosos”, conclui o Santo Padre.

VATICAN NEWS

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