(RV) Hoje – disse o Papa, saudando os presentes –
“quero contemplar convosco uma figura de mulher que nos fala de
esperança vivida no pranto. A esperança vivida no pranto”.
Essa mulher é Raquel, esposa de Jacob e mãe de José. A história de
Raquel que morre dando à luz o seu segundo filho, é usada pelo profeta
Jeremias para consolar os israelitas em exílio, dando-lhes esperança.
Raquel morreu para que o filho pudesse viver, mas o profeta apresenta-a
como viva, em Rama, chorando pelos seus filhos que morreram a caminho do
exílio, e por isso ela não quer ser consolada.
Esta recusa exprime a profundidade da sua dor e a amargura do seu
pranto. Uma dor proporcional ao amor de uma mãe pelos filhos. Qualquer
mãe sabe isso – afirmou o Papa, recordando que também hoje são muitas as
mães que choram, que não se resignam pela perda de um filho. Raquel –
disse - Raquel representa em si a dor de todas as mães do mundo, de
todos os tempos, e as lágrimas de cada ser humano que chora devido a
perdas irremediáveis.
Esta recusa de Raquel de ser consolada, ensina-nos que é preciso muita delicadeza perante a dor do outro – disse Francisco:
“Para falar de esperança a quem está desesperado, é preciso
partilhar o seu desespero; para enxugar uma lágrima do rosto de quem
sofre, é preciso unir o seu pranto ao nosso. Só assim as nossas palavras
podem ser realmente capazes de dar um pouco de esperança. E se não
posso dizer palavras assim, com o pranto, com a dor, então, melhor o
silêncio, o carinho, o gesto e nada de palavras”.
E o texto de Geremias recorda que Deus responde a Raquel não com
palavras artificiais, mas com a delicadeza do amor, dizendo-lhe para
reter o seu pranto porque há esperança para a sua descendência. “Os teus
filhos voltarão à sua terra”, ou seja, o povo no exílio poderá
regressar e viver na fé e de forma livre a sua relação com Deus. Raquel
que tinha morrido para que o filho pudesse viver, com o seu pranto, é
agora o início de uma nova vida.
“As lágrimas geraram esperança. Não é fácil compreender isto,
mas é verdade. Muitas vezes na nossa vida, as lágrimas semeiam
esperança, são sementes de esperança”.
O texto do profeta Jeremias sobre o pranto de Raquel é retomado pelo
Evangelista Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes – continuou o
Papa – chamando a atenção para “a tragédia do massacre de seres humanos
de hoje indefesos, ao horror do poder que despreza e suprime a vida”.
Não devemos esquecer que as crianças de Belém morreram devido a Jesus e
que Cristo seria por sua vez morto inocentemente, para todos nós.
“O filho de Deus entrou na dor do homem. Não podemos nunca
esquecer isto. Quando alguém se dirige a mim e me faz perguntas
difíceis, por exemplo: “Diga-me Padre: porque sofrem as crianças?”, e eu
não sei realmente o que responder. Digo apenas: “Olha para o Crucifixo:
Deus deu-nos o seu Filho, Ele sofreu, e talvez possas encontrar ali a
resposta”.
Mas respostas racionais não há – afirmou o Papa indicando a cabeça.
Só olhando para o amor de Deus que dá o seu Filho, Filho que morre por
nós, se pode indicar algum caminho de consolação.
“E por isso dizemos que o Filho de Deus entrou na dor do
homem; partilhou e acolheu a morte; a sua Palavra é definitivamente a
palavra de consolação, porque nasce do pranto”.
Francisco concluiu frisando que é Jesus morrente na cruz que dá nova
fecundidade à sua mãe, ao confiar-lhe o discípulo João e tornando-a a
mãe de todos os crentes. A morte é vencida. A profecia de Jeremias
concretiza-se. Tal como as lágrimas de Raquel, também as de Maria,
geraram esperança e uma vida nova – rematou o Papa Bergoglio.
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Depois da sua catequese, o Papa saudou em italiano os peregrinos
presentes, para os quais a catequese foi resumidas em diversas línguas:
francês, inglês, alemão, espanhol, português, árabe, e polaco. Eis a sua
saudação em português :
“Com grande afeto, saúdo os peregrinos de língua portuguesa, e
de modo particular os sacerdotes da diocese de Angra, desejando a cada
um que sempre possa dar-se conta do dom maravilhoso que é pertencer à
santa Mãe Igreja. Vele sobre o vosso caminho a Virgem Maria e vos ajude a
ser sinal de confiança e esperança no meio dos vossos irmãos. Sobre vós
e vossas famílias desça a Bênção de Deus.”
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O Papa referiu-se também aos dramáticos factos ocorridos numa prisão do Brasil, com estas palavras:
“Ontem chegaram do Brasil as notícias dramáticas do massacre
ocorrido na prisão de Manaus, onde um violentíssimo recontro entre
grupos rivais causou dezenas de mortos. Exprimo dor e preocupação pelo
ocorrido. Convido a rezar pelos defuntos, pelos seus familiares, por
todos os detidos daquela prisão e por quantos nela trabalham. E renovo o
apelo a fim de que os institutos penitenciários sejam lugares de
reeducação e reinserção social, e as condições de vida dos detidos sejam
dignas de pessoas humanas.”
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