(RV) Prossegue o cessar-fogo na Síria depois do
acordo que entrou em vigor nesta sexta-feira dia 30 de dezembro. Uma
trégua muitas vezes invocada pelo Papa Francisco que se comprometeu
pessoalmente a facilitar de toda maneira o fim das hostilidades no país e
o respeito pelos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no
conflito que dura mais de 5 anos.
Sobre as esperanças de paz na Síria e o papel do Papa e da Santa Sé, a
nossa emissora entrevistou o Arcebispo Silvano Maria Tomasi, membro do
Pontifício Conselho da Justiça e da Paz.
Dom Tomasi: “A paz que se prevê neste momento para a Síria é uma
opção realmente oportuna, uma janela de oportunidade, ou seja, é um
momento em que se pode tentar começar as negociações por uma paz estável
no Oriente Médio. É um cessar-fogo frágil. Agora, a comunidade
internacional deve fazer o possível para ajudar neste momento o diálogo e
levar adiante uma negociação sólida, que constitua a base para um
futuro mais sereno nesta parte do mundo. O problema é que nesses cinco
anos foram mortas mais de 300 mil pessoas, causados seis milhões de
deslocados internos e quatro milhões de refugiados nos países vizinhos
como a Jordânia, Turquia e Líbano, sobretudo. Devemos realmente nos
mover na direção de responsabilidade da parte da comunidade
internacional, porque a guerra na Síria foi uma guerra feita pelos
grandes poderes e grupos regionais no território. Esperamos que desta
vez seja o momento oportuno. Que o passo dado, o de permitir a chegada
de ajudas humanitárias e sobretudo o cessar-fogo, possam realmente
iniciar uma solução estável”.
O Papa Francisco disse várias vezes em relação à Síria, e não só, que
não se pode falar de paz e depois com uma mão, debaixo do banco, passar
armas para as partes em conflito. Existe sempre um interesse econômico
perverso que alimenta as guerras...
Dom Tomasi: “Na raiz desta violência, que foi destruidora de um país
que funcionava, existe a sede de poder. Quem vai dominar o Oriente
Médio? Sunitas ou xiitas? A Rússia ou os Estados Unidos? Devemos fazer
com que os interesses das grandes potências e dos grandes movimentos
religiosos não se tornem força de morte para as pessoas e populações
locais que se tornam simplesmente vítimas de ambições que não tem nada a
ver com o seu futuro, com o futuro e a vida normal dessas famílias e
pessoas. O Papa insiste na proteção dos civis e dos vulneráveis porque é
a vida das pessoas comuns e são as famílias que nós encontramos pelas
ruas de várias cidades do Oriente Médio que pagam o preço mais caro, com
a morte de seus entes queridos, a fome e o exílio. Devemos realmente
fazer com que a comunidade internacional retome a consciência de que não
se pode brincar com a vida dos outros.”
Amanhã é o Dia Mundial da Paz. Neste 2016, que está se concluindo, a
Igreja, a Santa Sé, facilitaram processos de paz: pensemos nas relações
diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, pensemos na Colômbia. Qual é o
papel específico que a Santa Sé pode desempenhar pela paz e a
reconciliação?
Dom Tomasi: “A Santa Sé não é um poder econômico ou militar. Digo
sempre que as alabardas da Guarda Suíça não podem deter as bombas
modernas, especialmente as bombas atômicas. Devemos agradecer ao Senhor
pelos passos positivos que foram dados neste ano que está se concluindo.
A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pela Paz se
concentra na não-violência ativa, ou seja, usar a não-violência como
estratégia política que recolhe, depois de 50 anos de mensagens sobre a
paz, um pouco do fruto deste caminho que foi percorrido. Fazer com que a
família humana se conscientize que a solução dos problemas não está no
uso de armas, mas no diálogo, na criação de encontros fraternos e na
criação de pontes e não de muros.”
(MJ)
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