(RV) No final de quarta-feira (25/01),
na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, o Papa Francisco presidiu à
cerimónia das II Vésperas que recorda a conversão de S. Paulo.
A celebração marcou o encerramento da Semana de Oração pela Unidade
dos Cristãos, que teve tema inspirado no quinto capítulo da segunda
Carta de São Paulo aos Coríntios: “Reconciliação – É o amor de Cristo
que nos impele”. A mensagem do Papa na homilia foi motivada pelo mesmo
caminho e empenho ecuménico do diálogo através dos “embaixadores da
reconciliação”, “unidos no sofrimento pelo nome de Jesus”.
Francisco começou a sua exortação lembrando o encontro de Paulo com
Jesus, na estrada para Damasco, que transformou radicalmente a vida do
apóstolo ao aderir ao “amor gratuito e imerecido de Deus, a Jesus Cristo
crucificado e ressuscitado”. Uma feliz notícia, a da “reconciliação do
homem com Deus”, que Paulo não poderia guardar para si mesmo e foi
impelido a proclamar.
"O amor de Cristo": não se trata do nosso amor por Cristo, mas do
amor que Cristo tem por nós. Da mesma forma, a reconciliação para a qual
somos impelidos não é simplesmente uma iniciativa nossa: é
primariamente a reconciliação que Deus nos oferece em Cristo. Antes de
ser esforço humano de crentes que procuram superar as suas divisões, é
um dom gratuito de Deus. Como resultado desse dom, a pessoa perdoada e
amada é chamada, por sua vez, a proclamar o evangelho da reconciliação
em palavras e obras, a viver e dar testemunho de uma existência
reconciliada.
Nessa perspectiva, “podemos hoje nos perguntar”, disse Francisco,
“como é possível proclamar esse evangelho de reconciliação depois de
séculos de divisões?”. O caminho vem do próprio Paulo que enfatiza que
“a reconciliação em Cristo não se pode realizar sem sacrifício”.
Jesus deu a sua vida morrendo por todos. De modo semelhante os
embaixadores de reconciliação, em seu nome, são chamados a dar a vida, a
não viver mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou
por eles (cf. 2 Cor 5, 14-15). É a revolução que Paulo viveu, mas é
também a revolução cristã de sempre: deixar de viver para nós mesmos,
buscando os nossos interesses e a promoção da nossa imagem, mas
reproduzir a imagem de Cristo, vivendo para Ele e de acordo com Ele, com
o seu amor e no seu amor.
Para a Igreja e para cada confissão cristã, disse o Papa, “é um
convite a não se basear em programas, cálculos e benefícios, a não se
abandonar a oportunidades e modas passageiras, mas a procurar o caminho
com o olhar sempre fixo na cruz do Senhor: lá está o nosso programa de
vida”.
É um convite também a sair de todo o isolamento, a superar a tentação
da auto-referencialidade, que impede de identificar aquilo que o
Espírito Santo realiza fora do nosso próprio espaço. Poderá se realizar
uma autêntica reconciliação entre os cristãos quando soubermos
reconhecer os dons uns dos outros e formos capazes, com humildade e
docilidade, de aprender uns dos outros, sem esperar que primeiro sejam
os outros a aprender de nós.
“Se vivermos esse morrer para nós mesmos por amor de Jesus”, disse o
Papa, o nosso velho estilo de vida é relegado ao passado. Um passado que
é útil e necessário para purificar a memória, mas que “pode paralisar e
impedir de viver o presente”.
A Palavra de Deus nos encoraja a tirar força da memória, a recordar o
bem recebido do Senhor; mas também nos pede que deixemos o passado para
trás a fim de seguir Jesus no presente e, n’Ele, viver uma vida nova.
Àquele que renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5), consintamos que nos
oriente para um futuro novo, aberto à esperança que não decepciona, um
futuro onde será possível superar as divisões e os crentes, renovados no
amor, que irão se encontrar plena e visivelmente unidos.
O Papa Francisco finalizou a homilia saudando os representantes de
outras confissões cristãs e comunidades eclesiais presentes na cerimónia
e recordando o caminho da unidade, em modo particular o quinto
centenário da Reforma Protestante.
O facto de, hoje, católicos e luteranos poderem recordar, juntos, um
evento que dividiu os cristãos e de o fazerem com a esperança posta
sobretudo em Jesus e na sua obra de reconciliação, constitui um marco
significativo, alcançado – graças a Deus e à oração – através de
cinquenta anos de mútuo conhecimento e de diálogo ecuménico. (BS/AC)
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