(RV) “Quem reencontra as próprias raízes é uma
pessoa da alegria. O autoexílio psicológico da comunidade e da sociedade
faz muito mal”, disse o Papa Francisco na homilia da missa matutina
celebrada nesta quinta-feira (05/10), na capela da Casa Santa Marta.
O Papa exortou a encontrar novamente a própria pertença, partindo da
Primeira Leitura do dia, extraída do Livro de Neemias, que descreve “uma
grande assembleia litúrgica”: é o povo, disse o Papa, que se reuniu na
praça que fica defronte da porta das Águas, em Jerusalém. Era o final de
uma história que durou mais de 70 anos, a história da deportação para a
Babilónia, uma história de pranto para o povo de Deus. Depois da queda
do império da Babilónia causada pelos persas, o rei persa Artaxerxes,
vendo triste Neemias, seu copeiro, enquanto lhe servia o vinho, começou a
dialogar com ele. Neemias manifestou o desejo de voltar a Jerusalém e
“chorava”: tinha, acrescentou o Pontífice, “saudade da sua cidade”
natal.
Francisco lembrou então o Salmo que diz: “Ao longo dos rios da
Babilónia se sentavam e choravam”. Não podiam cantar, as suas liras
estavam penduradas nos salgueiros, mas não queriam esquecer. E o Papa
pensou também na “saudade dos migrantes”, aqueles que “estão distantes
da Pátria e querem voltar”. Francisco recordou também o gesto do coral,
em Génova, no final da missa que cantou uma música recordando todos os
migrantes que gostariam de estar ali, na missa com o Papa, mas estavam
distantes.
Neemias se prepara para voltar e levar novamente o povo a Jerusalém.
Uma viagem “para reencontrar a cidade, uma viagem difícil”, ressaltou o
Papa, pois “deveria convencer muita gente” e levar as coisas para
reconstruir a cidade, os muros e o Templo, “mas sobretudo era uma viagem
para reencontrar as raízes do povo”. Depois de muitos anos, as raízes
“tinham- se enfraquecido”, mas não foram perdidas. Retomar as raízes
“significa retomar a pertença a um povo”, explicou o Papa. “Sem as
raízes não é possível viver: um povo sem raízes ou que deixa perder as
raízes, é um povo doente”. Disse o Papa que acrescentou:
“Uma pessoa sem raízes, que esqueceu as próprias raízes, é doente.
Reencontrar, redescobrir as próprias raízes e tomar a força para ir
adiante, a força para frutificar, e como disse o profeta, ‘a força para
florescer, pois o que floresce na árvore vem do subterrâneo. Aquela
relação entre a raiz e o bem que nós podemos fazer.”
Neste caminho, sublinhou, existem porém “muitas resistências: as vezes não é possível percorre-lo, existem dificuldades”:
“As resistências, disse Francisco, são daqueles que preferem o
exílio, e quando não há o exílio físico, há o exílio psicológico: o
autoexílio da comunidade, da sociedade, aqueles que preferem ser povo
desenraizado, sem raízes. Devemos pensar na doença do autoexílio
psicológico que faz muito mal, nos tira as raízes, nos tira a pertença,
advertiu o Santo Padre.
O povo, porém, acrescentou, vai adiante e chega o dia da
reconstrução. O povo se reúne para “restabelecer as raízes”, ou seja,
para ouvir a Palavra de Deus que o escriba Esdras lia e o povo chorava.
Mas desta vez não era o pranto da Babilónia: “era o choro da alegria, do
encontro com as próprias raízes, o encontro com, a própria pertença”.
Terminada a leitura, Neemias convida o povo a festejar. Trata-se da
alegria de quem encontrou finalmente as próprias raízes:
“O homem e a mulher que reencontram as próprias raízes, que são fiéis
à própria pertença, são um homem e uma mulher na alegria, de alegria e
esta alegria é a sua força. Do choro de tristeza ao choro de alegria, do
choro de fraqueza por estar distante das raízes, distante do seu povo,
ao choro da pertença: estou em casa, estou em casa”.
O Papa convidou os fiéis presentes na missa a lerem o capítulo oitavo
de Neemias, primeira leitura da liturgia de hoje, e a se perguntarem se
deixaram perder a lembrança do Senhor, se devem começar um caminho
para reencontrar as próprias raízes ou se preferem o autoexílio
psicológico, fechados em si mesmos.
O Papa disse ainda que quem tem medo de chorar, terá medo de sorrir,
pois quando se chora de tristeza, depois se chora de alegria. É preciso
pedir a graça do “choro arrependido”, triste pelos nossos pecados, mas
também a graça do choro de alegria, pois o Senhor “nos perdoou e fez na
nossa vida o que fez com o seu povo. Enfim, pedir a graça de se colocar a
caminho para se encontrar com as próprias raízes.
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