(RV) “Não cair na insensatez que consiste na
incapacidade de escutar a Palavra de Deus e que conduz à corrupção”. Foi
o conceito expresso pelo Papa na homilia da missa matutina, presidida
na Casa Santa Marta. Jesus chora com nostalgia – recorda o Papa – quando
o povo amado se afasta, por insensatez, preferindo aparências, ídolos
ou ideologias.
A reflexão do Papa Francisco começa pela palavra ‘insensatos’, que
consta duas vezes na Liturgia do dia. Jesus a diz aos fariseus e São
Paulo aos pagãos. Mas também aos Gálatas, cristãos, o apóstolo dos
gentios havia dito “tolos”. Esta palavra, além de uma condenação, é uma
assinalação – afirma Francisco – porque mostra o caminho da insensatez,
que conduz à corrupção. “Estes três grupos de insensatos são corruptos”,
observa o Papa.
Aos doutores da lei, Jesus havia dito que pareciam sepulcros
decorados: tornam-se corruptos porque se preocupavam apenas em embelezar
‘o exterior’ das coisas, mas não daquilo que estava dentro, onde está a
corrupção. Eram, portanto, “corruptos pela vaidade, pela aparência,
pela beleza exterior, pela justiça exterior”.
Os pagãos, ao contrário, têm a corrupção da idolatria: se tornaram
corruptos porque trocaram a glória de Deus pelos ídolos. Existem também
idolatrias de hoje, como o consumismo - nota o Papa –, procurar um deus
‘cómodo’.
Enfim, os Gálatas, os cristãos, que se deixaram corromper pelas
ideologias, ou seja, deixaram de ser cristãos para serem ‘ideólogos do
cristianismo’.
Todos os três grupos, por causa desta insensatez, acabam na corrupção. Francisco explica no que consiste esta insensatez:
“A insensatez é não escutar, literalmente ‘não saber’, ‘não ouvir’: a
incapacidade de escutar a Palavra. Quando a Palavra não entra, eu a
deixo entrar porque não a escuto. O tolo não escuta. Ele crê que ouve,
mas não ouve, não escuta. Fica na dele, sempre. E por isso, a Palavra de
Deus não pode entrar no coração e não há lugar para o amor. E quando
entra, entra destilada, transformada pela mia concepção da realidade. Os
tolos não sabem ouvir. E esta surdez os leva à corrupção. Quando não
entra a Palavra de Deus, não há lugar para o amor e enfim, não há espaço
para a liberdade”.
E eles se tornam escravos porque trocam “a verdade de Deus com a mentira” e adoram as criaturas em vez do Criador.
“Não são livres, e não escutam, essa surdez não deixa espaço para o amor
nem para a liberdade: isso sempre nos leva à escravidão. Eu ouço a
Palavra de Deus? Mas a deixo entrar? Esta Palavra, da qual ouvimos
cantando o Aleluia, a Palavra de Deus é viva, eficaz, revela os
sentimentos e os pensamentos do coração. Corta, vai para dentro. Esta
Palavra, eu a deixo entrar ou sou surdo a essa palavra? E a transformo
em aparência, a transformo em idolatria, hábitos idólatras ou a
transformo em ideologia? E não entra ... Esta é a insensatez dos
cristãos”.
O Papa exorta, em conclusão, a olhar para os “ícones dos tolos de
hoje”: “há cristãos tolos e também pastores tolos”. “Santo Agostinho -
afirma -, “ataca-lhes duro, com força”, porque “a tolice dos pastores
faz mal ao rebanho”. A referência é à “tolice do pastor corrupto”, à
“insensatez do pastor satisfeito de si mesmo, pagão”, e à “insensatez do
ideólogo”.
“Olhemos o ícone dos cristãos tolos” - insiste o Papa – “e ao lado
desta insensatez, olhamos para o Senhor que está sempre à porta”, ele
bate e espera. Seu convite final é, portanto, de pensar na nostalgia do
Senhor por nós: “do primeiro amor que ele teve connosco”:
“E se caímos nesta insensatez, nos afastamos d’Ele e Ele sente essa
nostalgia. Nostalgia de nós. E Jesus com essa nostalgia chorou, chorou
sobre Jerusalém: era precisamente a nostalgia de um povo que tinha
escolhido, tinha amado, mas que tinha se afastado por insensatez, que
tinha preferido as aparências, os ídolos ou as ideologias”. (BS/CM-SP)
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