Bolonha
(RV) – Um dos momentos mais significativos da visita do Papa Francisco a
Bolonha foi o encontro com os estudantes, já que a cidade é
internacionalmente conhecida pela sua milenária Universidade como
observou o próprio Papa:
“Há quase mil anos, disse, a Universidade de Bolonha é laboratório de
humanismo: aqui o diálogo com as ciências inaugurou uma época e plasmou
a cidade. Por isso, Bolonha é chamada ‘a douta’.”
Recordando que o primeiro curso da Universidade foi o de Direito, o
Papa propôs aos estudantes três direitos que ele considera serem de
grande actualidade. O primeiro deles é o “direito à cultura”.
“Não me refiro somente ao sacrossanto direito de todos de ter acesso
ao estudo, mas também ao fato de que, especialmente hoje, o direito à
cultura significa tutelar a sabedoria, isto é, um saber humano e
humanizador. (...) O estudo serve para se fazer perguntas, não para se
deixar anestesiar pela banalidade, para procurar o sentido da vida.”
Cultura, recordou ainda o Papa, é o que cultiva, que faz crescer o
humano. Diante de tanto clamor que nos circunda, acrescentou Francisco,
hoje não precisamos de quem desabafa gritando, mas de quem promove a boa
cultura.
O segundo é o “direito à esperança”, isto é, é o direito a não ser
quotidianamente invadidos pela retórica do medo e do ódio. “É o direito a
não ser submersos pelas frases feitas dos populismos. É o direito a
acreditar que o amor verdadeiro não é descartável e que o trabalho não é
uma miragem a alcançar, mas uma promessa que deve ser mantida. Que belo
seria se as salas das universidades fossem canteiros de esperança,
oficinas onde se trabalha por um futuro melhor, onde se aprende a ser
responsáveis por si e pelo mundo”, disse Francisco, exortando os jovens a
serem artesãos de esperança.
Finalmente, o “direito à paz” que, além de ser um direito, é também
um dever inscrito no coração da humanidade. O Papa recordou o Papa Bento
XV, que foi Bispo justamente de Bolonha, e que 100 anos atrás elevou
seu clamor definindo a guerra um “inútil massacre”.
“Invoquemos o ius pacis como direito a todos de resolver os conflitos
sem violência. Por isso vamos repetir: nunca mais a guerra, nunca mais
contra os outros, nunca mais sem os outros! Que venham à luz os
interesses e as tramas, muitas vezes obscuras, de quem fabrica
violência, alimentando a corrida às armas e espezinhando a paz com os
negócios.”
Não se contentem com sonhos pequenos, mas sonhem grande, concluiu
dizendo o Papa, dirigindo-se especialmente aos jovens universitários
presentes no Estádio Olímpico de Bolonha. “Eu também sonho, e não só
quando durmo, porque os verdadeiros sonhos se fazem de olhos abertos e
se levam avante à luz do sol. Renovo convosco o sonho de um humanismo
europeu para o qual servem a memória, a coragem, uma utopia sã e humana;
de uma Europa Mãe que respeita a vida e oferece esperança de via; de
uma Europa na qual os jovens possam respirar o ar limpo da honestidade,
amem a beleza da cultura e de uma vida simples, não inquinada pelas
infinitas necessidades do consumismo; uma Europa na qual casar-se e ter
filhos seja uma responsabilidade e uma alegria grande e não um problema
provocado pela falta de trabalho estável. Sonho uma Europa universitária
e Mãe que radicada na memória da sua cultura, infunda esperança aos
filhos e seja instrumento de paz para o mundo”.
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