(RV) "Deus
tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à
nossa procura, quando O deixamos, porque quer levar-nos de novo para
Ele; esta é a constatação da qual parte a Mensagem do Santo Padre para a
Quaresma de 2015, este ano intitulada "fortalecei os vossos corações”.
Insistindo nesta verdade consoladora, o Papa convida-nos a acolher o
amor de Deus que sempre nos precede. Ele, de facto, nada nos pede que
antes não no-lo tenha dado: "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro",
diz o Papa citando a primeira carta de S. João. E como o Senhor, em
virtude do seu amor, não é indiferente para connosco e para aquilo que
nos acontece, assim também nós somos chamados a cuidar dos que nos
rodeiam, a dar de volta este amor que recebemos dele a todos os que Ele
coloca no nosso caminho, interessando-nos deles, especialmente os que
passam por dificuldades.
E é exatamente quando estamos bem que
inevitavelmente nos acontece de esquecermos os outros. Saciados dos
nossos confortos, na nossa comodidade não conseguimos ver os seus
problemas, os seus sofrimentos e as injustiças de que são vítimas;
"então, o nosso coração cai na indiferença", naquela tentação do Maligno
que hoje é cada vez mais frequente, ao ponto de atingir uma dimensão
mundial; e por isso o Papa fala dessa atitude egoísta como uma
globalização da indiferença.
Somente aquele que se deixou lavar os
pés por Jesus pode ter "parte" com Ele – continua o Papa Francisco na
mensagem – ou seja, pode participar no seu cuidado para com o homem.
Pelo contrário, Em vez disso, o cristão que não fez a experiência de
Jesus a lavar-lhe os pés, isto é, o amor carinhoso com o qual Ele se
inclina para a nossa pobre humanidade, acaba por permanecer voltado para
si mesmo, fechado na indiferença em relação aos que o rodeiam.
Precisamos de nos deixar lavar os pés pelo Senhor, de fazer experiência
do seu amor que cura e ao mesmo tempo a experiência do nosso deixar-nos
amar por Ele, e isto pode acontecer novamente também hoje através da
Igreja; é na Igreja que o cristão pode permitir que Deus o revista da
sua bondade e misericórdia, de modo a ser capaz de lavar os pés aos
outros, capaz de se colocar ao serviço de Deus e dos homens.
A profunda solidariedade que os
cristãos são chamados a manifestar entre eles, principal antídoto à
indiferença, baseia-se no conhecimento de que todos são membros do mesmo
corpo, que é a Igreja. Porque quem é de Cristo pertence a um só corpo e
nele não se pode indiferentes uns dos outros. Se um membro sofre, com
ele sofrem todos os membros; e se um membro é honrado, todos os membros
se alegram com ele"(1 Cor 12,26).
Eis, pois, traçado o caminho para a
vida das nossas comunidades e paróquias. Fazendo-nos algumas perguntas, o
Papa indica o percurso a seguir nesta Quaresma: "Consegue-se nessas
realidades eclesiais fazer experiência de fazer parte de um só corpo? Um
corpo que ao mesmo tempo recebe e partilha o que Deus quer dar? Um
corpo, que conhece e cuida os seus membros mais fracos, pobres e
pequenos? Ou nos refugiamos num amor universal, que se empenha lá longe
no mundo, mas se esquece do pobre Lázaro sentado diante da própria porta
fechada? "Tal caminho de caridade concreta ao qual somos chamados como
comunidades cristãs, está ligado o caminho da união com a Igreja do Céu
através da oração, de modo a estabelecer entre a Igreja terrena e a
Igreja celestial "uma comunhão de serviço recíproco e do bem que chega
aos olhos de Deus" Tanto a Igreja terrena como a Igreja gloriosa, diz o
Papa, colaboram para garantir que nenhum homem na terra sofra ou gema,
para deste modo levar à plenitude no céu a alegria pela vitória do amor
crucificado, nas palavras de Santa Teresa de Lisieux, Doutora da Igreja.
Por outro lado, conclui o Papa, a
Igreja é missionária por natureza, ou seja, ela é enviada a todos os
homens, e não a voltar-se para si mesma; mais uma vez cada comunidade
cristã é chamada a passar o limiar que a separa da sociedade que a
rodeia, dos pobres e dos distantes. E da mesma forma, mesmo como
indivíduos, somos chamados a vencer a tentação da indiferença por meio
da oração, gestos de caridade, de modo que o nosso coração se converta
cada vez mais ao Senhor e por Ele seja feito forte e misericordioso,
vigilante e generoso, isto é, não mais fechado em si mesmo. (BS)
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