(RV) Muito animado o
encontro com os milhares de jovens, em que o Papa Francisco pôs de lado o
discurso que tinha preparado em inglês e improvisou em espanhol,
respondendo às perguntas que três deles lhe dirigiram. Antes de mais a
jovenzinha Shon que, chorando quis saber “porque é que as crianças
sofrem”.
Antes de responder a esta pergunta, o Papa aproveitou para realçar
essa pequena representação das mulheres, poucas – disse – chamando a
atenção para o machismo que muitas vezes não deixa lugar às mulheres
que, no entanto, têm um olhar diferente dos homens sobre a realidade.
“Assim, quando vier o próximo Papa que haja mais mulheres” - disse, suscitando aplausos dos presentes.
O Papa colheu o facto de Shon ter feito essa pergunta chorando para
dizer que ao mundo de hoje falta a capacidade de chorar, falta sobretudo
aos que levam uma vida folgada. Mas certas realidades da vida só podem
ser vistas como olhos lavados pelas lágrimas – disse.
A pergunta de Shon quase que não tem resposta, mas lança um desafio –
frisou o Papa – lançando, por sua vez, uma pergunta aos jovens: “Eu
aprendi a chorar?” perante os sofrimentos do mundo (fome, droga,
crianças abandonadas, abusos, escravatura) “ou o meu pranto é um pranto
caprichoso só para ter algo mais?”.
“Aprendamos a chorar” – exortou o Papa aos jovens, recordando que
também Jesus chorou em diversas ocasiões. “Se não aprendeis a chorar não
sois bons cristãos”.
E à pergunta “porque as crianças sofrem” o Papa convidou a responder com o silêncio.
“Que a nossa resposta seja o silêncio ou a palavra que nasce das lágrimas. Sêde valentes, não tenhais medo de chorar”.
Por sua vez, o jovem Leandro Santos, fazendo notar que vivemos num
mundo, onde abunda a informação, perguntou se isto é um mal. “Não” –
respondeu o Santo Padre, sublinhando que o importante é saber o que
fazer dessa informação e não correr o risco de ser “jovens museus” que
só acumulam informação, mas não saber o que fazer dela. É preciso ser,
pelo contrário, “jovens sábios” . E como ser sábios? – perguntou o Papa,
respondendo que este é outro desafio, o desafio do amor. “Aprender a
amar” e “através do amor fazer com que a informação seja fecunda”.
Para isso o Evangelho nos propõe um caminho tranquilo baseado em três
elementos, harmoniosamente articulados: a linguagem da mente, do
coração e das mãos, ou seja, pensar, sentir, realizar - frisou o Papa
convidando os jovens a repetir em voz alta as três linguagens … E depois
disse:
“O verdadeiro amor é amar e deixar-se amar. É mais difícil deixar-se amar do que amar” .
Podemos amar a Deus, mas o mais importante é deixar-se amar por Ele:
“O verdadeiro amor é abrir-se a esse amor primordial e que nos provoca
surpresa.”
Se estivermos sempre concentrados no computador que parece ter
respostas para tudo, não nos abrimos a essa surpresa, porque isso supõe
um diálogo a dois: entre quem ama e quem é amado – afirmou o Papa,
exortando:
“Deixemo-nos surpreender por Deus. E não tenhamos a psicologia do computador de querer saber tudo”.
E dando o exemplo de São Mateus que se deixou surpreender e convencer
pelo amor de Jesus, acabando por segui-Lo, o Papa exclamou: “Deixa-te
surpreender por Deus. Não tenhas medo das surpresas que movem o chão
debaixo dos teus pés, que te fazem sentir inseguro, mas que nos põem a
caminho. O verdadeiro amor leva a queimar a vida, embora com o risco de
ficar com as mãos vazias” – disse mencionando São Francisco de Assis que
deixou tudo e morreu de mãos vazias, mas de coração cheio.
“De acordo? Não jovens de museu, mas jovens sábios. Para ser sábios
usar as três linguagens: pensar bem, sentir bem e fazer bem, e deixar-se
surpreender pelo amor de Deus e andar e queimar a vida”.
Finalmente a terceira pergunta colocada pelo jovem Riqui que ilustrou ao Papa as actividades que ele e o seu grupo levam avante.
O Papa apreciou esse serviço aos outros mas desafiou-os imediatamente
a pensarem se se deixam que os pobres lhes dêem a riqueza que eles
também têm, se se deixam evangelizar pelos pobres.
A este respeito evocou a leitura do Evangelho que tinham feito pouco
antes e que mostra que o que nos falta muitas vezes é “aprender a
mendigar daqueles a quem damos”, “aprender a receber da humildade
daqueles a quem ajudamos. As pessoas a quem ajudamos, pobres enfermos,
órfãos têm muito para nos dar. Mas me faço mendigo e peço também isto,
ou sou suficiente e vou só dar".
“Vos que viveis dando sempre e pensais que não tendes necessidade de
nada, sabeis que sois um pobre tipo, sabeis que tendes muita pobreza e
precisais que te (vos) dêem?
E perguntando mais uma vez aos jovens se se deixam amar por aqueles a quem ajudam, o Papa rematou:
“É isto que ajuda a amadurecer jovens comprometidos como Riqui no
trabalho de dar, aprender a estender a mão a partir da própria miséria”.
Aprender a amar e a deixar-se amar. E o Papa concluiu referindo, em
inglês, a um aspecto que tinha previsto no seu texto escrito: o desafio
da integridade. Recordando que os bispos das Filipinas declararam 2015
“Ano do Pobre” convidou ao amor aos pobres, sempre interrogando os
jovens se pensam nos pobres, se lhes pedem que lhes transmitam a sua
sabedoria, se se deixam evangelizar pelos pobres…e por fim pediu
desculpas por não ter lido o discurso que tinha preparado, mas disse
sentir-se consolado pelo facto que “a realidade é superior à ideia” e a
realidade que vocês apresentaram e a vossas realidade é superior a todas
as respostas que eu tinha preparado. Obrigado!”
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