Hoje apetece-me escrever-te, a ti, que fazes do desânimo, do desespero uma
razão de viver ... para morrer.
Pois, não me venhas dizer que não sei do que falo, porque também eu um dia
fiquei sem nada, vi o mundo ruir à minha volta, fiquei sem casa, sem horizonte,
mas restou-me a esperança!
E sabes tu, qual era a minha esperança?
Chama-se Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que continuamente me
repetia aos ouvidos do coração: «Não desistas, um dia compreenderás que sempre
estive contigo.»
E eu perguntava: «Onde, que não Te vejo, quase não Te sinto, e o horizonte
apresenta-se-me escuro, tão escuro, como a noite mais escura.»
E Ele não se calava, (oh sim, Ele nunca se cala quando O temos em nós), e
dizia-me: «Olha para o teu lado, todos te abandonam! Mas não vês agarrados à
tua mão, a tua mulher, os teus filhos, os teus verdadeiros amigos? Pois é neles
que Eu estou, para te dizer que é uma curva no caminho, um obstáculo a
ultrapassar, um meio que finaliza numa fé mais forte, mais coesa, mais vivida,
mais sentida, mais dependente da minha vontade.»
«Mas Senhor, precisavas de ser tão duro, ou seja, precisavas de permitir
que tal acontecesse?»
Ah, mas Ele não se cala mesmo, e respondia-me. «Mas, meu filho, e não era mesmo
preciso? Falei-te tantas vezes e não me ouvias, embora me quisesses seguir. E
Eu sabia que esse era o teu desejo mais profundo, seguir-Me. Tinha que
mostrar-te tudo, ou seja, que nada do que vivias era Eu, ou melhor, que aquilo
que vivias, o vivias sem Mim. E lembras-te, que percebeste então?»
«É verdade, Senhor!»
E ouve tu agora, meu amigo que fazes do desânimo, do desespero uma razão de
viver ... para morrer.
Baixei a cabeça, entrei no fundo de mim, olhei para o Céu, sorri, e
disse-Lhe que Ele e apenas Ele, era a minha razão de viver, e que tudo mais,
família, amigos, trabalho e lazer apenas faziam sentido envolvidos no seu amor,
porque assim sendo eram extensão d’Ele mesmo que assim me tocava, tão física e
proximamente.
Vês agora, tu, meu irmão, que fazes do desânimo, do desespero uma razão de
viver ... para morrer, que Ele também está sempre contigo, mesmo no
“infinitamente” pouco que te dá a conhecer, ou melhor, em que se te dá a
conhecer?
Razão para morrer há só uma, viver com Ele, nEle, para Ele, em todos os
momentos e horas, até que Ele nos chame, para nEle morrermos, para com Ele
vivermos, eternamente no amor!
Marinha Grande, 25 de Janeiro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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