(RV) O
Papa Francisco recebeu nesta sexta-feira os membros do Tribunal da Rota
Romana, no dia da inauguração do ano judicial. O juiz, afirma o Papa na
sua mensagem, ao ponderar a validade do consentimento dado pelos
esposos, deve ter em conta o contexto de valores e de fé - ou da sua
carência ou ausência - em que a intenção matrimonial se formou. Em
seguida o Papa solicitou ao Tribunal de Justiça para um maior empenho
para o bem dos muitos casais que se dirigem à Igreja para esclarecer a
própria situação conjugal, esperando que haja cada vez mais causas
totalmente gratuitas.
O Papa aproveita a ocasião da inauguração do Ano judicial para
oferecer uma reflexão sobre o contexto humano e cultural em que hoje
muitos matrimónios são contratados. A crise dos valores não é certamente
um fenómeno recente, reconhece o Papa Francisco, já o Beato Paulo VI
estigmatizava as doenças do homem moderno "por vezes invadido por um
relativismo sistemático ... ao ponto de exteriormente tentar desafiar a
‘majestade da lei', e interiormente substituir o império da consciência
moral com o capricho da consciência psicológica”.
"Na verdade, o abandono de uma perspectiva de fé leva inexoravelmente
a uma falsa compreensão do matrimónio, que não fica sem consequências
na maturação da vontade nupcial".
A experiência pastoral, continua o Papa Francisco, ensina-nos que
existe hoje um grande número de fiéis em situação irregular, em cuja
história teve forte influxo uma mentalidade mundana generalizada, e que
leva a buscar, em vez da glória do Senhor, o bem-estar pessoal.
Por isso, afirma o Papa: "o juiz, ao ponderar a validade do
consentimento expresso, deve ter em conta o contexto de valores e de fé -
ou da sua carência ou ausência - em que se formou a intenção
matrimonial. De facto, a falta de conhecimento dos conteúdos da fé
poderia levar àquilo que o código chama erro que determina a vontade.
Esta eventualidade já não deve ser considerada excepcional, como no
passado".
Este erro, continua o Santo Padre, não ameaça apenas a estabilidade do
matrimónio, a sua exclusividade e fecundidade, mas constringe os noivos à
reserva mental sobre a própria permanência da união, ou a sua
exclusividade, que desapareceriam logo que a pessoa amada já não
realizasse mais as próprias expectativas de bem-estar afectivo”.
"Gostaria, pois, de vos exortar para a um empenho intensificado e
apaixonado no vosso ministério, utilizado para salvaguardar a unidade da
jurisprudência na Igreja. Quanto trabalho pastoral para o bem de muitos
casais, e muitos filhos, muitas vezes vítimas destes eventos! Também
aqui, é necessária uma conversão pastoral das estruturas eclesiásticas,
para fornecer a opus iustitiae àqueles que se dirigem à Igreja para
esclarecer a própria situação conjugal”.
Não se deve, portanto, fechar a salvação das pessoas dentro dos
constrangimentos do legalismo mas, evitando sofismas distantes da carne
viva das pessoas com dificuldades, estabelecer a verdade no momento
consensual. Finalmente um dado positivo que o Papa comenta
espontaneamente: um número significativo de casos na Rota Romana são de
patrocínio gratuito em favor daqueles que, pelas difíceis condições
económicas em que vivem, não são capazes de obter um advogado.
"E este é um ponto que quero sublinhar: os Sacramentos são gratuitos.
Os sacramentos dão-nos a graça. E um processo matrimonial toca o
Sacramento do matrimónio. Como gostaria que todos os processos fossem
todos gratuitos!” (BS)
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