12 dezembro, 2019

"Toda a guerra é um fratricídio", afirma o Papa na Mensagem para o Dia Mundial da Paz

 
Viagem ao japão foi amplamente citada na Mensagem  (Vatican Media)
 
O Sínodo dos Bispos para a Amazõnia e a viagem do Santo Padre ao Japão foram eventos amplamente citados na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020.
 
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano  

“A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica” é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2020, a ser celebrado no 1º de janeiro.

O texto foi divulgado esta quinta-feira (12/12) e traz como referências principais dois eventos que marcaram o Vaticano neste ano: o Sínodo dos Bispos para a Amazónia, realizado em outubro, e a viagem do Santo Padre ao Japão, no final de novembro.

“A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”, escreve o Pontífice.

Entre esses obstáculos, o Papa cita as guerras e os conflitos que continuam a ocorrer e que marcam a humanidade na alma. Toda a guerra, reforça, é um fratricídio.
“Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências.”
Memória: horizonte da esperança
 
Francisco citou um trecho do seu discurso pronunciado em Nagasaki sobre as armas nucleares, recordando que “a paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total”. (...) “Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.”

Como então romper esta lógica do medo? Para Francisco, não há outro caminho senão na procura de uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua.

O Papa mencionou os sobreviventes dos bombardeiros atómicos em Hiroshima e Nagasaki, que “mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje”.

A memória, portanto, é um dos aspetos ressaltados pelo Papa como elemento fundamental da construção da paz, definindo-a como “horizonte da esperança”.
“O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações.”
Paz: procura da verdade e da justiça
 
Neste diálogo, é preciso procurar a paz para além das ideologias.

“O processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória 

Por outras palavras, trata-se de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olharrem-nas como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. Trata-se de superar as desigualdades sociais, construindo um sistema ecómico mais justo. 

Conversão ecológica

Para Francisco, a paz implica também a conversão ecológica, pois hoje vemos as consequências da hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais.
“O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.”
A conversão ecológica, portanto, conduz a uma nova perspectiva sobre a vida, levando em consideração a generosidade do Criador e a necessidade de partilha.

Esta conversão, explica o Papa, deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com os irmãos. 

Aprender a viver no perdão

Para os cristãos, a paz requer um esforço ainda maior, porque engloba a dimensão do perdão seguindo o exemplo do Mestre. “Aprender a viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz.”

O Sacramento da reconciliação renova as pessoas e as comunidades, pois pede “para depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação”.

O Santo Padre então conclui:
“Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz. Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.”
VN

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