O Papa Francisco apela aos líderes e representantes do Direito Penal para que dêem mais atenção aos crimes dos poderosos e contribuam e assegurem uma tutela jurídica adequada da nossa Casa comum. Os participantes do Congresso Internacional foram recebidos em audiência com o Pontífice nesta sexta-feira (15) no Vaticano
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano
Na sua audiência, na manhã desta sexta-feira (15/11), no Vaticano, o Santo Padre recebeu, na Sala Régia, cerca de 600 participantes no Congresso Internacional de Direito Penal.
No seu discurso, o Papa expressou o seu apreço e reconhecimento pelo serviço que a Associação presta à sociedade e ao desenvolvimento de uma justiça, que respeita a dignidade e os direitos da pessoa humana.
A este propósito, Francisco fez uma reflexão sobre as questões que interpelam a Igreja na sua missão de evangelização e serviço à justiça e à paz.
Idolatria do mercado e riscos do idealismo penal
Por várias décadas, disse, o Direito Penal incorporou diversos conhecimentos sobre algumas problemáticas relacionadas com o exercício da função sancionadora.
No entanto, apesar da sua abertura epistemológica, o Direito Penal não conseguiu livrar-se das ameaças que, nos nossos dias, pairam sobre as democracias e a plena vigência do Estado de Direito. Por outro lado, o Direito Penal, muitas vezes, descuida os dados da realidade, que assumem a aparência de um conhecimento meramente especulativo.
O contexto atual, disse Francisco, destaca dois aspectos relevantes: a “idolatria do mercado” e os “riscos do idealismo penal”:
O princípio de maximização do lucro, isolado de qualquer outra
consideração, disse o Papa, leva a um modelo de exclusão, que ataca, de
modo violento, os que sofrem pelos seus custos sociais e ecoóômicos,
enquanto que as gerações futuras são condenadas a pagar os custos
ambientais. E ponderou:
O desafio atual para os advogados criminais, afirmou Francisco, é
conter a irracionalidade punitiva, que se manifesta: com a prisão de
massas, a aglomeração e tortura nas prisões, arbitrariedade e abusos das
forças de segurança, expansão no âmbito da pena, a criminalização dos
protestos sociais, o abuso da prisão preventiva e o repúdio às garantias
penais e processuais mais elementares.
Crime dos poderosos
A seguir, o Pontífice recordou que, uma das omissões mais frequentes do Direito Penal e uma das consequências da seletividade das sanções, são a escassa ou pouca atenção ao crime dos mais poderosos, sobretudo a macro delinquência das empresas. E acrescentou:
Depois, o Santo Padre falou sobre a tutela jurídica e penal do
ambiente. A resposta penal ocorre quando o crime foi cometido, mas,
devido à sua seletividade estrutural, a sanção recai, geralmente, sobre
os setores mais vulneráveis. E afirmou:
“Um senso elementar de justiça imporia a não impunidade de alguns comportamentos, sobretudo os considerados "ecocídios": contaminação do ar, dos recursos da terra e da água; destruição em grande escala da flora e fauna, e toda ação que produz desastres ecológicos ou destruição do ecossistema”.
Pecado ecológico
Aqui, Francisco recordou o que os Padres sinodais da Região Pan-Amazónica definiram o pecado ecológico como ação ou omissão contra Deus, contra os outros, contra a comunidade e o meio ambiente: um pecado contra as gerações futuras, que se manifesta com a poluição e a destruição do meio ambiente e contra a virtude da justiça. E o Papa exortou:
Por fim, o Santo Padre recordou alguns problemas, que pioraram ao
longo destes anos: o uso indevido de prisão preventiva; o incentivo
involuntário à violência; a cultura do descarte, do ódio e o “lawfare” ou emprego da justiça penal.
Mediante os instrumentos próprios da lei, é explorada a necessária luta contra a corrupção, com o objetivo de combater governos indesejados, reduzir os direitos sociais e promover um sentimento anti-político, que beneficia os que aspiram a um poder autoritário.
Ao mesmo tempo, frisou o Papa, é estranho que o recurso a paraísos fiscais, que serve para ocultar todo o tipo de crime, não seja visto como uma questão de corrupção e crime organizado. Da mesma forma, fenómenos maciços de apropriação de recursos públicos passam despercebidos ou até minimizados como meros conflitos de interesse.
O Papa Francisco concluiu o seu denso discurso, chamando a atenção dos estudiosos de Direito Penal e a todos os que são chamados a desempenhar funções relacionadas com a aplicação do Direito Penal, por uma maior responsabilidade na atuação da justiça:
As nossas sociedades, disse por fim o Papa, são chamadas a avançar em
direção a um modelo de justiça fundado no diálogo e no encontro. Não se
trata de uma utopia, mas, certamente, de um grande desafio! Um desafio
que devemos enfrentar, se quisermos resolver os problemas da convivência
civil, de modo racional, pacífico e democrático. Todos, cristãos e não
cristãos, precisamos da ajuda de Deus, que é fonte de razão e de
justiça.
Na sua audiência, na manhã desta sexta-feira (15/11), no Vaticano, o Santo Padre recebeu, na Sala Régia, cerca de 600 participantes no Congresso Internacional de Direito Penal.
No seu discurso, o Papa expressou o seu apreço e reconhecimento pelo serviço que a Associação presta à sociedade e ao desenvolvimento de uma justiça, que respeita a dignidade e os direitos da pessoa humana.
A este propósito, Francisco fez uma reflexão sobre as questões que interpelam a Igreja na sua missão de evangelização e serviço à justiça e à paz.
Idolatria do mercado e riscos do idealismo penal
Por várias décadas, disse, o Direito Penal incorporou diversos conhecimentos sobre algumas problemáticas relacionadas com o exercício da função sancionadora.
No entanto, apesar da sua abertura epistemológica, o Direito Penal não conseguiu livrar-se das ameaças que, nos nossos dias, pairam sobre as democracias e a plena vigência do Estado de Direito. Por outro lado, o Direito Penal, muitas vezes, descuida os dados da realidade, que assumem a aparência de um conhecimento meramente especulativo.
O contexto atual, disse Francisco, destaca dois aspectos relevantes: a “idolatria do mercado” e os “riscos do idealismo penal”:
Crime dos poderosos
A seguir, o Pontífice recordou que, uma das omissões mais frequentes do Direito Penal e uma das consequências da seletividade das sanções, são a escassa ou pouca atenção ao crime dos mais poderosos, sobretudo a macro delinquência das empresas. E acrescentou:
“Um senso elementar de justiça imporia a não impunidade de alguns comportamentos, sobretudo os considerados "ecocídios": contaminação do ar, dos recursos da terra e da água; destruição em grande escala da flora e fauna, e toda ação que produz desastres ecológicos ou destruição do ecossistema”.
Pecado ecológico
Aqui, Francisco recordou o que os Padres sinodais da Região Pan-Amazónica definiram o pecado ecológico como ação ou omissão contra Deus, contra os outros, contra a comunidade e o meio ambiente: um pecado contra as gerações futuras, que se manifesta com a poluição e a destruição do meio ambiente e contra a virtude da justiça. E o Papa exortou:
Mediante os instrumentos próprios da lei, é explorada a necessária luta contra a corrupção, com o objetivo de combater governos indesejados, reduzir os direitos sociais e promover um sentimento anti-político, que beneficia os que aspiram a um poder autoritário.
Ao mesmo tempo, frisou o Papa, é estranho que o recurso a paraísos fiscais, que serve para ocultar todo o tipo de crime, não seja visto como uma questão de corrupção e crime organizado. Da mesma forma, fenómenos maciços de apropriação de recursos públicos passam despercebidos ou até minimizados como meros conflitos de interesse.
O Papa Francisco concluiu o seu denso discurso, chamando a atenção dos estudiosos de Direito Penal e a todos os que são chamados a desempenhar funções relacionadas com a aplicação do Direito Penal, por uma maior responsabilidade na atuação da justiça:
VN
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