23 novembro, 2019

Uma transformação moral contra as armas nucleares

 
Monumento pela Paz das Crianças, em Hiroshima  (©hacksss23 - stock.adobe.com)
 
O desenvolvimento do Magistério da Igreja sobre a trágica realidade da guerra, à luz da devastação do ataque nuclear sobre Hiroshima e Nagasaki
 
Alessandro Gisotti

Na história da humanidade, há um antes e um depois Hiroshima e Nagasaki . Assim como há um antes e um depois no modo com o qual a Igreja, após o devastador ataque atómico sobre as cidades japonesas, vê a trágica experiência da guerra. Principalmente através do Magistério dos Pontífices. A destruidora devastação que as bombas nucleares causam, obriga a Igreja a reconsiderar o tema do conflito bélico com uma nova mentalidade. Jamais na história, de facto, os homens tiveram à disposição uma arma capaz de cancelar potencialmente qualquer sinal de vida na terra.

Pio XII e João XXIII

Papa Pio XII na sua Radiomensagem de 24 de agosto de 1939 tinha advertido profeticamente “Nada se perde com a paz. Tudo se perde com a guerra”.

À sombra das tragédias profetizadas por Pio XII, em outubro de 1962 o futuro santo João XXIII recorre à Rádio Vaticano para que a sua palavra alcance os que estão mais longe, para que seja ouvida na Casa Branca e no Kremlin, naquele trágico período da “Guerra Fria”. Na sua mensagem exorta os responsáveis pelas nações a evitarem “os horrores da guerra” para o mundo. Um conflito que precisamente pelas armas nucleares, “não se pode prever as terríveis consequências”. 

Paulo VI e João Paulo II

Paulo VI continua a defender a paz com fervor. No seu histórico discurso à ONU em 4 de outubro de 1965 afirmou: “Se vós quereis ser irmãos, deixai cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos. As armas, sobretudo as terríveis armas que a ciência moderna vos deu, antes mesmo de causarem vítimas e ruínas, engendram maus sonhos, alimentam maus sentimentos, criam pesadelos, desconfianças, sombrias resoluções. Exigem enormes despesas. Detêm os projetos de solidariedade e de útil trabalho. Falseiam a psicologia dos povos”.

Como ps seus predecessores, João Paulo II também se dirige com particular atenção aos cientistas e governantes. Durante a sua visita ao Memorial da Paz em Hiroshima em 25 de fevereiro de 1981 denuncia com força a corrida armamentista. Na ocasião lança um desafio às mentes mais brilhantes e aos líderes do mundo. “O nosso futuro neste planeta, exposto como é aos riscos da destruição nuclear, depende apenas de um facto: a humanidade deve partir para uma transformação moral”. 

Bento XVI

Bento XVI na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2006 advertia: “Que dizer dos governos que contam com as armas nucleares para garantir a segurança dos seus países? Juntamente com inúmeras pessoas de boa vontade, pode-se afirmar que tal perspectiva, além de ser funesta, é totalmente falaz. Numa guerra nuclear, não haveria realmente vencedores, mas apenas vítimas”. 

Francisco

Todos estes esforços foram retomados e intensificados pelo Papa Francisco para evitar o chamado “suicídio” da humanidade.

No decorrer do seu pontificado Francisco aprofunda a reflexão sobre o assunto, chegando à convicção de que o uso de armas nucleares seja imoral. Manifestou várias vezes este seu sentimento e por último na Mensagem ao povo japonês antes da viagem.

A imagem mais evocativa deste engajamento do Papa Francisco pelo desarmamento, é sem dúvida, a foto do menino com o seu irmãozinho menor,  morto nos seus braços depois do bombardeio nuclear. Uma foto que toca profundamente o Santo Padre. “Uma imagem deste tipo”, confidencia, “comove mais do que mil palavras” Uma imagem que, mais do que mil palavras interroga as consciências e representa uma advertência imperativa para que a humanidade nunca mais deva conhecer a devastação de um ataque atómico.

VN

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