(RV) O Papa celebrou a missa na capela da Casa
Santa Marta na sexta-feira (24/02). Na homilia, Francisco advertiu para a
hipocrisia e para o engano provocado por uma fé reduzida a uma “lógica
casuística”.
“É lícito para um marido repudiar a própria mulher?”. Esta é a
pergunta contida no Evangelho de Marcos que os doutores da Lei fazem a
Jesus durante a sua pregação na Judeia. “E o fazem para colocar Cristo à
prova mais uma vez”, observou o Papa, que se inspirou na resposta de
Jesus para explicar o que mais conta na fé:
“Jesus não responde se é lícito ou não; não entra na lógica
casuística deles. Porque eles pensavam na fé somente em termos de ‘pode’
ou ‘não pode’, até onde se pode, até onde não se pode. É a lógica da
casuística: Jesus não entra nisso. E faz uma pergunta: ‘Mas o que Moisés
vos ordenou? O que está na vossa lei?’. E eles explicam a permissão que
Moisés deu de repudiar a mulher, e são eles a cair na própria
armadilha. Porque Jesus os qualifica como ‘duros de coração’: ‘Foi por
causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este
mandamento’, e diz a verdade. Sem casuística. Sem permissões. A
verdade.”
“Jesus sempre diz a verdade”, “explica as coisas como foram criadas”,
destaca ainda o Papa, a verdade das Escrituras, da Lei de Moisés. E o
faz também quando a interrogá-lo sobre o adultério são os seus
discípulos, aos quais repete: “Quem se divorciar de sua mulher e casar
com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se
divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.
Mas se a verdade é esta e o adultério é “grave”, como explicar então
que Jesus falou “tantas vezes com uma adúltera, com uma pagã”?, pergunta
o Papa. “Bebeu de seu copo, que não era puro?”. E no fim lhe disse: “Eu
não te condeno. Não peques mais”? Como explicar isso?
“O caminho de Jesus – vê-se claramente - é o caminho da casuística à
verdade e à misericórdia. Jesus deixa a casuística de fora. Aos que
queriam colocá-lo à prova, aos que pensavam com esta lógica do ‘pode’,
os qualifica – não aqui, mas em outro trecho do Evangelho – como
hipócritas. Também com o quarto mandamento eles negavam de assistir os
pais com a desculpa de que tinham dado uma bela oferta à Igreja.
Hipócritas. A casuística é hipócrita. É um pensamento hipócrita. ‘Pode –
não pode… que depois se torna mais sútil, mais diabólico: mas até que
ponto posso? Mas daqui até aqui não posso. É a enganação da casuística.”
O caminho do cristão, portanto, não cede à lógica da casuística, mas
responde com a verdade que o acompanha, a exemplo de Jesus, “porque Ele é
a encarnação da Misericórdia do Pai, e não pode negar a si mesmo. Não
pode negar a si mesmo porque é a Verdade do Pai, e não pode negar a si
mesmo porque é a Misericórdia do Pai”. “Este é o caminho que Jesus nos
ensina”, notou o Papa, difícil de ser aplicado diante das tentações da
vida:
“Quando a tentação toca o coração, este caminho de sair da casuística
à verdade e à misericórdia não é fácil: é necessária a graça de Deus
para que nos ajude a ir assim avante. E devemos pedi-la sempre. ‘Senhor,
que eu seja justo, mas justo com misericórdia’. Não justo, coberto com a
casuística. Justo na misericórdia. Como és Tu. Justo na misericórdia.
Depois, uma pessoa de mentalidade casuística pode se perguntar: ‘Mas o
que é mais importante em Deus? Justiça ou misericórdia?’. Este também é
um pensamento doente… o que é mais importante? Não são duas: é somente
uma, uma só coisa. Em Deus, justiça é misericórdia e misericórdia é
justiça. Que o Senhor nos ajude a entender esta estrada, que não é
fácil, mas nos fará felizes, a nós, e fará feliz muitas pessoas.”
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