17 fevereiro, 2017

Universidade: lugar de “diálogo na diferença” - Papa na "Roma Três"




(RV) O Papa optou por entregar o discurso que tinha preparado ao Reitor, preferindo falar em estilo coloquial em resposta às perguntas que lhe tinham sido colocadas por quatro estudantes.

Esta é a primeira vez que o Papa Francisco visita uma universidade publica em Roma e esclareceu imediatamente a sua ideia de universidade: um lugar de “diálogo na diferença”.

Com 25 anos de vida, a “Universidade Roma 3”  tem cerca de 43 mil inscritos, um milhar dos quais chegaram hoje muito cedo no adro da Universidade para acolher Francisco.

Logo à sua chegada Francisco foi saudado pelo Reitor Mário Panizza e por outras autoridades universitárias. Depois, tendo ao seu lado uma tradutora na linguagem dos sinais para os surdos, começou por responder a uma pergunta sobre a violência que, infelizmente, persiste na sociedade. Francisco faz notar que há violência no exprimir-se, no falar, por vezes nos esquecemos mesmo “dar bom dia”.

“A violência é um processo que torna cada vez mais anónimos: tira--nos o nome. Anónimos uns em relação aos outros (…). Mas isto que vemos aqui, está a crescer e torna-se violência mundial. Ninguém hoje pode negar que estamos numa guerra e esta é uma guerra mundial aos bocados, mas há. É necessário abaixar um pouco a voz e escutar mais”.

Num mundo em que – faz notar Francisco – também “a politica desceu tanto”, perdendo o “sentido da construção social, da convivência social, o primeiro remédio contra a violência é o do coração que “sabe receber”, num diálogo que nos “aproxima”  na escuta do outro:

“A paciência do diálogo. E onde não há diálogo, há violência. Falei de guerra: é verdade, estamos em guerra. É verdade. Mas as guerras não começam ali: começam no coração, eh!, no nosso coração. Quando não sou capaz de exprimir-me perante os outros, de respeitar os outros, de falar com os outros, de dialogar com os outros, ali começa a guerra”.
A universidade – sublinhou Francisco – é, pelo contrário,  um lugar “onde se deve dialogar, onde há lugar para todos”, cada um com o seu próprio modo de pensar. Outros lugares, observa, onde isto não acontece não podem ser considerados da mesma forma:

“As universidade de elite, que são geralmente as chamadas universidades ideológicas (…) e onde te ensina apenas esta linha de pensamento (…) essa não é universidade: onde não há diálogo, onde não há confrontação de ideias, onde não há escuta, onde não há respeito pela maneira de pensar do outro, onde não há amizade, onde não há a alegria do jogo, o desporto, tudo isso, não há universidade. Todos juntos.”

O convite do Papa aos estudantes é, portanto, “procurar sempre a unidade, conceito “totalmente” diferente da uniformidade.  O perigo hoje a nível mundial – disse o Papa – é “conceber a globalização na uniformidade”. A via a seguir é a de um modelo poliédrico:

“Há uma globalização poliédrica, há uma unidade, mas cada pessoa, cada raça, cada país, cada cultura conserva sempre a sua própria identidade. E isto é unidade na diversidade que a globalização deve procurar”.

Também a comunicação – frisou o Papa – está a trazer uma certa celeridade, uma “rapidazione” – diz usando um termo comum aos holandeses  e explica:

“Muitas vezes a comunicação é tão rápida, tão ligeira que pode tornar-se líquida , sem consistência e isto é um dos perigos desta sociedade” – referiu, citando Baum. E nós “devemos assumir o desafio de transformar esta sociedade líquida em algo de concreto”.

O Papa disse depois que o drama da “liquidez” verifica-se também na economia. Há países ditos desenvolvidos, como na Europa, que não conseguem garantir trabalho a uma alta percentagem de jovens:

“Esta liquidez da economia tira o caracter concreto do trabalho e tira a cultura do trabalho porque não se pode trabalhar, os jovens não sabem o que fazer”. São explorados, caiem na ratoeira das dependências que os levam a suicídios, a integrar-se “num exército terrorista”. Serve – repetiu o Papa – uma economia concreta, no mundo, na Europa.

O Papa recordou depois que este continente caracterizado na sua história “por invasões, migrações” teme hoje perder a própria “identidade” se “vierem pessoas de uma outra cultura”. As migrações voltou a sublinhar Francisco “não são um perigo”, mas sim “um desafio para nos fazer crescer”.

Falou da ilha de Lesbos, onde disse “sofreu tanto” e recordou as pessoas que fogem da África e do Médio Oriente:

“Porque há guerra e fogem da guerra, ou há fome: fogem da fome. Mas qual seria a solução  ideal? Que não haja guerra e que não haja fome, quer dizer fazer as pazes, fazer investimentos naqueles lugares a fim de que haja recursos para trabalhar e ganhar a vida”.

É um convite, o do Papa, a “não explorar “. E dirige-o aos “potentes”  da Terra, assim como também aos criminosos que gerem os tráficos de seres humanos, os barcos carregados de migrantes que morrem no Mediterrâneo, um mar que se tornou num cemitério.

O Papa referiu-se depois à sua viagem a Lampedusa, dizendo que sentiu que devia ir e perguntou: como acolher então quem chega? Com respeito, sem medo. Acolher e integrar,  recomendou Francisco, pois que os migrantes trazem cultura, riqueza. Integrar é importante, sublinhou, sem esquecer que entre os migrantes há também delinquentes. E apontou também o risco de os responsáveis por crimes serem, tal como aconteceu na Bélgica, onde foram filhos de imigrantes mal integrados, guetizados… a fazer o atentado de Zaventem e concluiu recordando que quando há acolhimento, acompanhamento e integração, não há perigo com a imigração. Recebe-se cultura e dá-se cultura.

(GA/DA)

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