(RV) No seu
discurso Francisco falou antes de tudo de economia e comunhão, duas
palavras – disse – que a cultura actual mantém bem separadas e muitas
vezes as considera opostas; duas palavras, porém, que o Movimento soube
unir acolhendo o convite que Chiara Lubich fez, há 25 anos, aos
empresários para se tornarem agentes de comunhão.
Colocando dentro da economia a boa semente da comunhão, vós
iniciastes uma profunda mudança no modo de ver e viver a empresa, disse
ainda o Papa, ou seja, que a empresa não apenas pode não destruir a
comunhão entre as pessoas, mas pode edificá-la e promovê-la.
A propósito do empenho dos Focolarinos o Papa abordou três questões:
dinheiro, pobreza e futuro. Sobre o dinheiro Francisco ressaltou que a
economia de comunhão é também comunhão dos lucros, expressão da comunhão
da vida, pois não se pode compreender o novo Reino trazido por Jesus,
se não se é livre dos ídolos, dos quais o dinheiro é um dos mais
poderosos.
O dinheiro é importante sobretudo quando não existe e dele depende a
comida, a escola, o futuro dos filhos, mas é ídolo quando se torna fim
do próprio agir, observou o Papa, acrescentando que o capitalismo, que
faz da busca do lucro a sua única finalidade, arrisca de se tornar uma
estrutura idolátrica, uma forma de culto à “deusa fortuna”:
“Percebe-se, pois, o valor ético e espiritual da vossa
escolha de colocar os lucros em comum. O modo e mais concreto para não
fazer do dinheiro um ídolo é partilhá-lo com os outros, sobretudo os
pobres, ou para fazer estudar e trabalhar os jovens, vencendo a tentação
idólatra com a comunhão. Quando partilhais e doais os vossos lucros,
estais a fazer um acto de alta espiritualidade, dizendo com os factos ao
dinheiro: tu não és Deus, tu não és senhor, tu não és patrão”.
O Papa abordou em seguida a segunda questão, a pobreza, sublinhando
que o capitalismo continua hoje a produzir os descartes que, em seguida,
pretende curar. O principal problema ético deste capitalismo é a
produção de descartes para depois tentar escondê-los ou tratá-los para
não fazê-los ver. Uma forma grave de pobreza de uma civilização é não
mais conseguir ver os seus pobres, que antes são descartados e depois
escondidos, disse o Papa que também acrescentou:
“A economia de comunhão, se quer ser fiel ao seu carisma, não
deve apenas curar as vítimas, mas construir um sistema em que as
vítimas são cada vez menos, e onde, possivelmente, elas já não existem.
Enquanto a economia ainda produzir uma vítima, e enquanto houver uma
pessoa descartada, a comunhão ainda não está realizada, e a festa da
fraternidade universal não é completa”.
É necessário, então, procurar mudar as regras do jogo do sistema
económico-social, prosseguiu Francisco, e para tal não basta imitar o
bom samaritano do Evangelho: é necessário imitar o Pai misericordioso da
parábola do filho pródigo e esperar em casa os filhos, os empregados e
colaboradores que erraram, e lá abraçá-los e fazer festa com eles e para
eles. “Um empresário da comunhão é chamado a fazer tudo, para que
mesmo aqueles que cometeram erros e saíram de casa, possam esperar um
emprego e uma renda digna, e não estar a comer bolotas com os porcos”,
disse Francisco.
E por fim o Papa falou da terceira questão, o futuro, observando que
os 25 anos de história do Movimento ensinam que a comunhão e a empresa
podem estar e crescer juntos, mesmo que por agora a experiência é apenas
limitada a um pequeno número de empresas. E, com a imagem do sal e do
fermento, Francisco reiterou que não é necessário sermos muitos para
mudarmos as nossas vidas: grande trabalho a fazer é tentar não perder o
"princípio activo", a alma e a qualidade que nos animam. E o Papa
exortou os Focolarinos a salvar a economia permanecendo simplesmente sal
e fermento, e sem esquecer os pobres:
“A economia de comunhão só terá futuro se a doardes a todos e
não permanecer apenas dentro da vossa "casa". Doai-a a todos, e antes
de tudo aos pobres e aos jovens, que são os que mais precisam e sabem
fazer frutificar o dom recebido! Para ter vida em abundância, deve-se
aprender a doar: não apenas os lucros das empresas, mas a vós próprios
(…). A economia de hoje, os pobres e os jovens precisam, antes de tudo,
da vossa alma, da vossa fraternidade respeitosa e humilde, da vossa
vontade de viver, e apenas depois o vosso dinheiro”.
E Francisco terminou desejando que o Movimento continue, com coragem,
humildade e alegria, a ser semente, sal e fermento de uma outra
economia: a economia do Reino, onde os ricos sabem partilhar as suas
riquezas, e os pobres são chamados bem-aventurados.
(BS)
Sem comentários:
Enviar um comentário