(RV) Coragem, oração e humildade: estes são os
traços que caracterizam os grandes “arautos” que ajudaram a Igreja a
crescer no mundo, que contribuíram à sua missionariedade. Foi o que
disse o Papa na missa celebrada na manhã de terça-feira (14/02) na
capela da Casa Santa Marta.
Precisamos de “semeadores de Palavra”, de “missionários, de
verdadeiros arautos” para formar o povo de Deus, como foram Cirilo e
Metódio, “irmãos intrépidos e testemunhas de Deus que fizeram da Europa
mais forte", padroeiros do continente. Na homilia, o Papa indicou as
três características da personalidade de um “enviado” que proclama a
Palavra de Deus, inspirando-se no Evangelho de Lucas que a liturgia
propõe.
A primeira característica é a “franqueza”, que inclui força e coragem:
“A Palavra de Deus não pode ser levada como uma proposta – “bom, se
você gostar...” – ou como uma ideia filosófica ou moral, boa – “você
pode viver assim …” … Não. É outra coisa. Precisa ser proposta com esta
franqueza, com aquela força, para que a Palavra penetre, como diz o
próprio Paulo, até os ossos. A Palavra de Deus deve ser anunciada com
esta franqueza, com esta força … com coragem. A pessoa que não tem
coragem – coragem espiritual, coragem no coração, que não está
apaixonada por Jesus, e dali vem a coragem! – não, dirá, sim, algo de
interessante, algo moral, algo que fará bem, um bem filantrópico, mas
não tem a Palavra de Deus. E esta palavra é incapaz de formar o povo de
Deus. Somente a Palavra de Deus proclamada com esta franqueza, com esta
coragem, é capaz de formar o povo de Deus”.
Do capítulo décimo do Evangelho de Lucas foram extraídas outras duas
características próprias de um arauto da Palavra de Deus. Um Evangelho
“um pouco estranho”, afirmou o Papa, porque rico de elementos acerca do
anúncio. “A messe é abundante, mas são poucos os operários. Rezai
portanto ao Senhor da messe para que mande operários para a sua messe”,
repetiu Francisco, e é assim, portanto, que depois da coragem está a
“oração”:
“A Palavra de Deus deve ser proclamada com oração também, sempre. Sem
oração, se pode fazer uma bela conferência, uma bela palestra: boa,
boa; mas não é a Palavra de Deus. Somente de um coração em oração pode
sair a Palavra de Deus. A oração, para que o Senhor acompanhe este
‘semear’ a Palavra, para que o Senhor regue a semente e ela brote, a
Palavra. A Palavra de Deus deve ser proclamada com oração: a oração
daquilo que anuncia a palavra de Deus”.
No Evangelho consta também um terceiro ‘trecho interessante’. O Senhor envia os discípulos “como cordeiros no meio de lobos”:
“O verdadeiro pregador é o que sabe ser fraco, sabe que não se pode
defender sozinho. ‘Tu vais como cordeiro no meio de lobos’. ‘Mas,
Senhor, para que eles me comam?’. ‘Tu, vais, é este o caminho’. E creio
que o Crisóstomo faz uma reflexão muito profunda quando diz: “Se tu não
fores como cordeiro, mas como lobo entre os lobos, o Senhor não te
protegerá: defende-te sozinho”. Quando o pregador se acha muito
inteligente ou quando quem tem responsabilidade de levar adiante a
Palavra de Deus e quer dar uma de esperto... ‘Ah, eu sei me sair com
esta gente!’, ele termina mal. Negociará com a Palavra de Deus: aos
poderosos, aos soberbos...”.
E para ressaltar a humildade dos grandes arautos, Francisco cita um
episódio que lhe contaram de um sacerdote que “se vangloriava de pregar
bem a Palavra de Deus e se sentia um lobo”: depois de uma bela pregação –
recorda o Papa, foi ao confessionário e encontrou um grande pecador que
chorava... queria pedir perdão”. Este confessor – prossegue Francisco –
‘começou a encher-se de vaidade e a curiosidade o levou a perguntar
qual era a Palavra que o havia tocado ao ponto de leva-lo ao
arrependimento. “Foi quando o senhor disse ‘mudemos de assunto’. “Não
sei se é verdade” – esclareceu o Papa – “mas isto confirma que se acaba
sempre mal quando a Palavra de Deus é usada ‘sentindo-se seguros de si’ e
não como cordeiros, que o Senhor defenderá”.
“Esta é a missionariedade da Igreja; e os grandes arautos, “que
semearam e ajudaram a crescer as Igrejas no mundo, foram homens
corajosos, de oração e humildes”. A oração final é para que os Santos
Cirilo e Metódio nos ajudem a proclamar a Palavra de Deus assim como
eles o fizeram”, concluiu o Pontífice. (BS)
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