(RV) Seguir o Senhor que nos doa tudo, e não
buscar as riquezas. Foi o que afirmou o Papa na missa matutina na Casa
Santa Marta (28/02). Comentando o Evangelho do dia, o Papa ressaltou a
“plenitude” que Deus nos doa: uma plenitude “aniquilada” que termina na
Cruz.
“Não se pode servir a dois senhores”, ou servimos Deus ou as
riquezas. Na vigília da Quarta-feira de Cinzas, Francisco falou que
nesses dias antes da Quaresma a Igreja “nos faz reflectir sobre a
relação entre Deus e as riquezas”. E recorda o encontro entre o “jovem
rico, que queria seguir o Senhor, mas no final era tão rico que escolheu
as riquezas”.
O Papa observou que o comentário de Jesus assusta um pouco os
discípulos: “Quanto é difícil que um rico entre no Reino dos Céus. É
mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha”. Hoje,
prosseguiu, o Evangelho de Marcos nos mostra Pedro que pergunta ao
Senhor o que será deles já que deixaram tudo para trás. É como se Pedro
pedisse contas ao Senhor”:
“Não sabia o que dizer: ‘Sim, este foi embora, mas nós?’. A resposta
de Jesus é clara: ‘Eu vos digo: não há ninguém que deixe tudo sem
receber tudo’. ‘Pois bem, nós deixamos tudo’. ‘Receberão tudo’, com
aquela medida transbordante com a qual Deus oferece os dons. ‘Receberão
tudo. Quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos,
por causa de mim e do Evangelho receberá cem vezes mais agora, durante
esta vida - casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições
- e, no mundo futuro, a vida eterna’. Tudo. O Senhor não sabe dar menos
do que tudo. Quando Ele doa algo Ele doa a si mesmo, que é tudo”.
Todavia, acrescentou o Papa, “há uma palavra” neste trecho do
Evangelho “que nos faz reflectir: receber já agora neste tempo cem vezes
mais em casas, irmãos, com perseguições”.
Francisco explicou que isto é “entrar” em “outro modo de pensar, em
outro modo de agir. Jesus dá todo si mesmo, porque a plenitude, a
plenitude de Deus é uma plenitude aniquilada na Cruz”:
“Este é o dom de Deus: a plenitude aniquilada. E este é o estilo do
cristão: buscar a plenitude, receber a plenitude aniquilada e seguir
este caminho. Não é fácil, isso não é fácil. E qual é o sinal, qual é o
sinal deste ir avante em doar tudo e receber tudo? É o que ouvimos na
primeira leitura: ‘Faz todas as tuas oferendas com semblante sereno, e
com alegria consagra o teu dízimo. Dá a Deus segundo a doação que ele te
fez, e com generosidade, conforme as tuas posses. Semblante sereno,
alegria… O sinal que nós estamos neste caminho do tudo e nada, da
plenitude aniquilada, é a alegria”.
Ao invés, o jovem rico, disse o Papa, “ficou com o semblante fechado e
foi embora triste”. “Não foi capaz de receber, acolher esta plenitude
aniquilada – advertiu – assim como os Santos, o próprio Pedro, a
acolheram. E em meio às provações, às dificuldades, tinham o semblante
sereno, o olhar alegre e a alegria do coração. Este é o sinal,
evidenciou Francisco, que concluiu a homilia recordando o Santo chileno
Alberto Hurtado:
“Ele trabalhava sempre, dificuldade atrás de dificuldade ...
trabalhava pelos pobres ... Foi realmente um homem que abriu caminhos no
seu país … A caridade para a assistência aos pobres … Mas foi
perseguido, muitos sofrimentos. Mas ele, quando justamente estava ali,
aniquilado na cruz, a frase foi: ‘Contento, Señor, Contento’, ‘Feliz,
Senhor, feliz’. Que ele nos ensine a caminhar nesta estrada, nos dê a
graça de caminhar nesta estrada um pouco difícil do tudo e do nada, da
plenitude aniquilada de Jesus Cristo e dizer sempre, sobretudo nas
dificuldades: ‘Feliz, Senhor, feliz’”.
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