(RV) Dia
quase primaveril em Roma, com céu limpo e sol brilhante sobre os
numerosos fiéis e turistas que se reuniram na Praça de São Pedro com o
olhar elevado à janela do terceiro andar do Palácio Apostólico, donde o
Papa Francisco fez, como todos os domingos ao meio dia, a sua breve
reflexão sobre o evangelho do dia. O de hoje, disse, oferece uma
daquelas páginas que melhor exprimem a “revolução” cristã, ou seja o da
verdadeira justiça e não a de “olho por olho, dente por dente”. É o
evangelho de São Mateus, capítulo 5, versículos 38-48. Perante a lei do
talhão que era a de pagar com a mesma moeda, ou seja a morte ao
assassino, a amputação a quem tinha ferido alguém, etc., Jesus ensina a
pagar o mal com o bem. É só quebrando a cadeia do mal que se pode mudar
realmente as coisas. A represália não leva nunca à resolução do
conflito.
Para Jesus – disse o Papa – a recusa da violência pode mesmo
comportar a renuncia ao legitimo direito, aceitar sacrifícios, mas esta
renuncia não quer dizer que “as exigências da justiça sejam ignoradas ou
contraditas; antes pelo contrário, o amor cristão que se manifesta de
forma especial na misericórdia, representa uma realização superior da
justiça”.
“O que Jesus nos quer ensinar é a “clara distinção que devemos fazer
entre a justiça e a vingança”. “distinguir , a justiça da vingança,
repetiu Francisco. E recordou que a justiça é consentida, enquanto que a
vingança é proibida.
“É nosso dever praticar a justiça. É-nos, pelo contrário,
proibido vingar ou fomentar, de forma for, a vingança, enquanto
expressão do ódio e da violência”
O que Jesus quer – prosseguiu o Papa – não é propor uma nova ordem
civil, mas sim o mandamento do amor em relação ao próximo que compreende
também o amor pelo inimigo, o que não significa aprovação do mal feito
pelo inimigo, mas pôr-se num plano superior, de magnanimidade,
semelhante ao do Pai celeste que “faz brilhar o seu sol sobre os maus e
sobre os bons, e faz chover sobre os justo e sobre os injustos”. E o
Papa recordou estas palavras de Jesus, que não são, todavia fáceis de
pôr em prática, reconheceu:
“Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” – dizia Jesus”. E isto não é fácil, ehn!.
Mas não devemos esquecer que também o inimigo é “uma pessoa humana”
criada à imagem de Deus, só que ofuscada por uma conduta indigna”. E
quando falamos de inimigos, não devemos pensar noutras pessoas,
longínquas, não. Devemos pensar também em nós mesmos, no facto que
podemos também nós entrar em conflito com o nosso próximo e por vezes
mesmo com os nossos familiares:
“Quantas inimizades nas famílias, quantas?! Pensemos nisso.
Os inimigos são também aqueles que falam mal de nós, nos caluniam e nos
fazem mal. E não é fácil digerir isso! A todos eles somos chamados a
responder com o bem, que tem também ele as suas estratégias, inspiradas
no amor”.
E o Papa concluiu pedindo a Nossa Senhora para que nos ajude a seguir
Jesus nesta exigente caminhada que exalta verdadeiramente a dignidade
humana e nos faz viver como filhos do nosso Pai que está nos Céus. Que
nos ajude a praticar a paciência, o diálogo, o perdão e a ser artesão de
comunhão e de fraternidade na nossa vida quotidiana, sobretudo nas
nossas famílias.
Depois da reza das Ave Marias, o Papa recordou com estas palavras a República Democrática do Congo, o Paquistão e o Iraque...
“Caros irmãos e irmãs, continuam, infelizmente, a chegar
notícias de recontros violentos e brutais na região do Kasai Central da
República Democrática do Congo. Sinto forte a dor pelas vítimas,
especialmente as crianças arrancadas às próprias famílias e à escola
para ser usadas como soldados. Asseguro a minha proximidade e oração,
também pelo pessoal religioso e humanitário que actua naquela difícil
região; e renovo um premente apelo à consciência e à responsabilidade
das Autoridades nacionais e da Comunidade internacional, a fim de que se
tomem decisões adequadas e tempestivas para socorrer esses nossos
irmãos e irmãs. Rezemos por eles e por todas as populações que também
noutras partes do Continente africano e do mundo sofrem devido à
violência e à guerra. Penso, de modo particular, nas caras populações do
Paquistão e do Iraque, atingido por cruéis actos terroristas nos dias
passados. Rezemos pelas vítimas, pelos feridos e seus familiares.
Rezemos ardentemente para que cada coração endurecido pelo ódio se
converta à paz, segundo a vontade de Deus. Rezemos em silêncio por
eles".
Seguiu-se silêncio e uma oração...
O Papa saudou depois os peregrinos da Itália e do mundo presentes na
Praça de São Pedro e concluiu desejando a todos um bom domingo e pedindo
para não nos esquecermos de rezar por ele.
(DA)
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