23 agosto, 2019

Emergência ambiental na Amazónia: região implora por uma ética ecológica de desenvolvimento


 Imagen de terça-feira (20) da Planet Labs, empresa americana
que mantém mais de cem satélites em órbita

A região tem sido afetada por aquela que, segundo especialistas, é a maior onda de incêndios florestais no Brasil em sete anos: os focos aumentaram 82% entre janeiro e agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2018. A repercussão, a nível internacional, fez chefes de Estado e bispos brasileiros a posicionarem-se: é necessária uma orientação ética ecológica na Amazónia, para além de fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”, afirmou o vice-presidente da CNBB Dom Jaime Spengler. 

Andressa Collet – Cidade do Vaticano 

A comunidade internacional também se tem manifestado em defesa da Amazónia que, atualmente, é destaque na imprensa mundial pela emergência ambiental. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu uma reunião neste final de semana durante o encontro do G7.

O aumento no número de focos de incêndio em florestas tem sido um dos assuntos mais repercutidos, inclusive nas mídias sociais, com a #PrayForAmazonia (em tradução livre, “Reze pela Amazónia”). A repercussão dos internautas, mas também de chefes de Estado, faz referência às imagens e aos dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que mostram um aumento de 82% no número de focos de incêndio florestal entre janeiro e agosto de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. O Mato Grosso é o estado com mais ocorrências. A relação, segundo especialistas, é com o desmatamento e não com uma seca mais forte.
“ Este círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos para uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que ainda está longe de chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos. ”
Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande/MS, relata a situação vivida localmente, como a atuação constante dos bombeiros para apagar focos de incêndio. A consciência para o alerta deste “círculo vicioso de poluição ambiental”, comenta Dom Dimas, precisa de partir dos cristãos para uma “verdadeira cruzada em defesa da Casa Comum”:

“É com tristeza que a sociedade brasileira e internacional constatam este permanente e crescente índice da utilização de queimadas como alternativa para limpeza, fins agrários, e isto em todos os campos do Brasil. Em Campo Grande não é diferente. Neste Estado, os bombeiros nos últimos meses, já tiveram que apagar focos de incêndio em quase 300 lugares – mas certamente são am por ficar insensíveis perante, por exemplo, do que acontece na Amazónia. Afinal de contas, a Amazónia não é um património privado, nem é só do governo, ela é um património de todos os brasileiros. E este círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’, convocando todos para uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que ainda está longe de chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos. Precisamos de novo resgatar a Laudato si’ e a história mesmo da Igreja no Brasil, que já promoveu várias Campanhas da Fraternidade em torno do tema ecológico. Eu lembro-me de que já em 1979 houve uma Campanha com o título ‘Preserve o que é de todos’. Então, a consciência ecológica é por uma ‘ecologia integral’ que precisa de ser assimilada pelo nosso bom povo brasileiro e, particularmente, por aqueles que têm o ofício de cuidar do que é de todos.” 

A CNBB pede fiscalização séria 

As queimadas fora de controle na Amazónia também “chamam a atenção e preocupam” a CNBB. O vice-presidente, Dom Jaime Spengler, afirma que é necessária uma fiscalização séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados”.

“Segundo especialistas, o fator que melhor explica o aumento no número de focos de calor naquela região é o desmatamento. Provavelmente há também outras situações que caracterizam crimes ambientais e que merecem atenção. Esses elementos apontam para a sempre necessária fiscalização séria. Papel de destaque, neste âmbito, possui os órgãos de controle que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou desacreditados. Há vozes, é verdade, que defendem o desenvolvimento da região através da exploração do subsolo, das florestas, do avanço da agricultura,... Certamente tudo isto pode sim cooperar para o desenvolvimento da região, mas a que preço? Pode cooperar para o desenvolvimento da região desde que as iniciativas sejam orientadas por uma ética, digamos, ecológica; pela responsabilidade socioeconómica e ambiental. Além disto, não se pode esquecer a dignidade e a nobreza dos ecossistemas da região. Recordo-me que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato si’, fala do perverso sistema de propriedade e consumo atual. É impressionante esta expressão. Por isso, a necessidade de encontrar novos caminhos para a promoção da ‘ecologia integral’, no respeito ao ambiente, aos povos nativos e à própria terra." 
“ Pesquisadores de renome têm alertado com insistência sobre a urgência de cuidado sério para os diversos ecossistemas. Não se pode aceitar que expressões de impacto ou opiniões vagas sustentadas ou influenciadas por interesses nebulosos ou escusos, interfiram na vida deste património extraordinário que é a região pan-amazónica. ”
 VN

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