Corpo incorrupto de São João Maria Vianney no Santuário do Cura d'Ars
em Ars, França
"Esta intuição do
Cura d’Ars deveria ajudar-nos a renovar, não só a maneira de fazer a
confissão, a maneira de entender a confissão, mas renovar a maneira de
trabalhar a própria vida cristã. De sermos discípulos e missionários. Só
seremos missionários quando pudermos ser discípulos. E só seremos
discípulos quando nos convertermos das nossas próprias ideias e ações
para deixar a medida no Evangelho de Cristo."
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
"Se eu fosse padre, queria conquistar muitas almas", disse certa vez São João Maria Vianey, antes de ser ordenado sacerdote.
“O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos,
que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo,
quis que a sua Igreja continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua
obra de cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios membros. É
esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da
Penitência e o da Unção dos enfermos (CIC 1421) (...). Aqueles que se
aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia de Deus o
perdão da ofensa feita a Ele e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a
Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade,
exemplo e oração, trabalha pela sua conversão” (CIC 1422).
São João Maria Vianney vivia em tempo de muito rigorismo, “de
penitências muito pesadas dadas às pessoas, uma forma de pagar com rigor
a sua ofensa a Deus”. Mesmo ele, recebendo a sua formação neste contexto,
acabou por herdar esse rigorismo, até se deparar com os ensinamentos de
Santo Afonso Ligório e ter experimentado a misericórdia de Deus. “Foi
um homem que atraiu multidões por causa da misericórdia e do jeito que
ele tinha de acolher as pessoas. Um homem que tinha uma inteligência
fabulosa em matéria de relações interpessoais, um homem que amava Deus,
amava o seu povo e amava o que fazia”.
Padre Paulo Dalla Dea, Missionário da Misericórdia no
Santuário do Cura D’Ars, em França, destaca este aspeto da misericórdia
de São João Maria Vianney, manifestado especialmente na confissão:
“O Cura d’Ars trabalhou muito esta questão da misericórdia, porque
ele dizia que não adianta chegares com uma lista de pecados para te
confessares. Vais trazer a mesma lista na próxima confissão! Então ele
mandou instalar uma capela, a capela do Ecce homo, onde tem o corpo do
Cristo morto, mas com a ferida do lado aberta, voltada para as pessoas.
Ele queria que as pessoas meditassem sobre a morte de Cristo e entrassen
pelo coração de Cristo. Tivessm o dom do arrependimento, para que, de
facto, na próxima confissão, pudessem confessar outros pecados, e
começar a caminhar no caminho de Deus.
A grande revolução do Cura d’Ars, é que ele agia com misericórdia,
ele não trabalhava com listas de pecado, mas trabalhava de facto com o
sentimento de arrependimento e uma vontade de mudança de vida. Isto
fazia a conversão das pessoas. Isto mudava a vida das pessoas. Por isso
as história do demónio que ficava até irritado com o Cura d’Ars e não se
irritava com os outros padres com a confissão. Porque uma confissão que
demanda, que põe em marcha uma conversão, faz toda a diferença na vida
cristã. E esta era a grande dificuldade do demónio com o Cura d’Ars. Ele
não só atendia a confissão, mas mudava a vida das pessoas para
melhor. Esta é a dinâmica da confissão. Esta dinâmica ele pegou não no
jansenismo, não no rigorismo da sua época, mas no ligorismo, na Teologia
Moral de Santo Afonso de Ligório, que pode fazer com que a sua
experiência se transformasse em numa experiência boa, numa experiência má, de amachucado, de ferida, se transformasse na experiência do amor
curativo de Deus.”
O Cura d’Ars, teve esta intuição, da confissão como um modo de
fortalecimento da vida cristão, de conversão e fidelidade do cristão:
Em Ars, até hoje, existe a tradição de atender a confissão. As pessoas
vêm para Ars e querem-se confessar. Então nós temos um padre em cada hora
e meia, em turnos, temos padres toda manhã e toda tarde, para
atender os peregrinos. Mas a orientação é esta, não simplesmente atender
uma pessoa e dar a absolvição, mas demandar onde é que ela de facto se
arrepende e onde ela pode converter-se. Esta era a grande intuição do
Cura d’Ars: a confissão como um modo de fortalecimento da vida cristã, o
modo de conversão do cristão, o modo de fidelidade do cristão, não a si
mesmo, não às próprias ideias, mas fidelidade ao Evangelho de Jesus.
Esta era a grande intuição do Cura d’Ars. Isto nós, como Missionários da
Misericórdia, eu e outros padres que aqui trabalham, tentamos colocar
em prática em cada penitente que chega. Esta intuição do Cura d’Ars
deveria ajudar-nos a renovar, não só a maneira de fazer a confissão, a
maneira de entender a confissão, mas renovar a maneira de trabalhar a
própria vida cristã. De sermos discípulos e missionários. Só seremos
missionários quando pudermos ser discípulos. E só seremos discípulos
quando nos convertermos das nossas próprias ideias e ações para deixar a
medida no Evangelho de Cristo. Nós seguimos Jesus. Não é Jesus que nos
segue. E a confissão aju-nos a questionar, a perceber, e a mudar de
vida.
VN
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