03 agosto, 2019

A confissão como um modo de fortalecimento da vida cristã, a grande intuição do Cura d’Ars

 
Corpo incorrupto de São João Maria Vianney no Santuário do Cura d'Ars
em Ars, França 
 
"Esta intuição do Cura d’Ars deveria ajudar-nos a renovar, não só a maneira de fazer a confissão, a maneira de entender a confissão, mas renovar a maneira de trabalhar a própria vida cristã. De sermos discípulos e missionários. Só seremos missionários quando pudermos ser discípulos. E só seremos discípulos quando nos convertermos das nossas próprias ideias e ações para deixar a medida no Evangelho de Cristo."
 
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

"Se eu fosse padre, queria conquistar muitas almas", disse certa vez São João Maria Vianey, antes de ser ordenado sacerdote.

“O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo,  quis que a sua Igreja continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o da Unção dos enfermos (CIC 1421) (...). Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa feita a Ele e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão” (CIC 1422).

São João Maria Vianney vivia em tempo de muito rigorismo, “de penitências muito pesadas dadas às pessoas, uma forma de pagar com rigor a sua ofensa a Deus”. Mesmo ele, recebendo a sua formação neste contexto, acabou por herdar esse rigorismo, até se deparar com os ensinamentos de Santo Afonso Ligório e ter experimentado a misericórdia de Deus.  “Foi um homem que atraiu multidões por causa da misericórdia e do jeito que ele tinha de acolher as pessoas. Um homem que tinha uma inteligência fabulosa em matéria de relações interpessoais, um homem que amava Deus, amava o seu povo e amava o que fazia”.

Padre Paulo Dalla Dea, Missionário da Misericórdia no Santuário do Cura D’Ars, em França, destaca este aspeto da misericórdia de São João Maria Vianney, manifestado especialmente na confissão:

O Cura d’Ars trabalhou muito esta questão da misericórdia, porque ele dizia que não adianta chegares com uma lista de pecados para te confessares. Vais trazer a mesma lista na próxima confissão! Então ele mandou instalar uma capela, a capela do Ecce homo, onde tem o corpo do Cristo morto, mas com a ferida do lado aberta, voltada para as pessoas. Ele queria que as pessoas meditassem sobre a morte de Cristo e entrassen pelo coração de Cristo. Tivessm o dom do arrependimento, para que, de facto, na próxima confissão, pudessem confessar outros pecados, e começar a caminhar no caminho de Deus.

A grande revolução do Cura d’Ars, é que ele agia com misericórdia, ele não trabalhava com listas de pecado, mas trabalhava de facto com o sentimento de arrependimento e uma vontade de mudança de vida. Isto fazia a conversão das pessoas. Isto mudava a vida das pessoas. Por isso as história do demónio que ficava até irritado com o Cura d’Ars e não se irritava com os outros padres com a confissão. Porque uma confissão que demanda, que põe em marcha uma conversão, faz toda a diferença na vida cristã. E esta era a grande dificuldade do demónio com o Cura d’Ars. Ele não só atendia a confissão, mas mudava a vida das pessoas para melhor. Esta é a dinâmica da confissão. Esta dinâmica ele pegou não no jansenismo, não no rigorismo da sua época, mas no ligorismo, na Teologia Moral de Santo Afonso de Ligório, que pode fazer com que a sua experiência se transformasse em numa experiência boa, numa experiência má, de amachucado, de ferida, se transformasse na experiência do amor curativo de Deus.”

O Cura d’Ars, teve esta intuição, da confissão como um modo de fortalecimento da vida cristão, de conversão e fidelidade do cristão:

Em Ars, até hoje, existe a tradição de atender a confissão. As pessoas vêm para Ars e querem-se confessar. Então nós temos um padre em cada hora e meia, em turnos, temos padres toda manhã e toda tarde, para atender os peregrinos. Mas a orientação é esta, não simplesmente atender uma pessoa e dar a absolvição, mas demandar onde é que ela de facto se arrepende e onde ela pode converter-se. Esta era a grande intuição do Cura d’Ars: a confissão como um modo de fortalecimento da vida cristã, o modo de conversão do cristão, o modo de fidelidade do cristão, não a si mesmo, não às próprias ideias, mas fidelidade ao Evangelho de Jesus. Esta era a grande intuição do Cura d’Ars. Isto nós, como Missionários da Misericórdia, eu e outros padres que aqui trabalham, tentamos colocar em prática em cada penitente que chega. Esta intuição do Cura d’Ars deveria ajudar-nos a renovar, não só a maneira de fazer a confissão, a maneira de entender a confissão, mas renovar a maneira de trabalhar a própria vida cristã. De sermos discípulos e missionários. Só seremos missionários quando pudermos ser discípulos. E só seremos discípulos quando nos convertermos das nossas próprias ideias e ações para deixar a medida no Evangelho de Cristo. Nós seguimos Jesus. Não é Jesus que nos segue. E a confissão aju-nos a questionar, a perceber, e a mudar de vida.

VN

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