27 agosto, 2019

Por uma nova economia: palavras do Papa na Missa em Santa Marta

 
 Papa Francisco celebra Missa na Capela da Casa de Santa Marta 
(Vatican Media)
 
Continuamos a recordar as palavras do Papa que ajudam a enquadrar os objetivos da reflexão proposta pelo evento “A Economia de Francisco” de março 2020. Desta vez, fazemos memória de duas homilias na Capela da Casa de Santa Marta no ano 2016.
 
Rui Saraiva - Porto

“A Economia de Francisco” será um grande evento em agenda para os dias 26, 27 e 28 de março de 2020. Trata-se de um encontro que se inspira no Santo de Assis e que, segundo o Papa, deverá procurar novas propostas de organização económica.

Para ajudar à reflexão sobre esta importante temática recordamos aqui as palavras do Papa Francisco pronunciadas em 2016 em duas homilias na Capela da Casa de Santa Marta. 

Dinheiro e poder sujam a Igreja

Na terça-feira dia 17 de maio de 2016, na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que o dinheiro e o poder sujam a Igreja. O Santo Padre disse que o caminho que Jesus indica é o serviço, mas com frequência na Igreja busca-se poder, dinheiro e vaidade.

Partindo da passagem do Evangelho de S. Marcos, proposta pela liturgia do dia na qual os discípulos questionavam-se entre si, quem era o maior entre eles, o Papa afirmou que estas tentações mundanas comprometem também hoje o testemunho da Igreja:

“No caminho que Jesus nos indica, o serviço é a regra. O maior é aquele que serve mais, quem está mais ao serviço dos outros, e não aquele que se vangloria, que busca o poder, o dinheiro...a vaidade, o orgulho… Não, esses não são os maiores. E o que aconteceu aqui com os apóstolos, inclusive com a mãe de João e Tiago, é uma história que acontece todos os dias na Igreja, em cada comunidade. ‘Mas entre nós, quem é o maior? Quem comanda?’ As ambições… Em cada comunidade – nas paróquias ou nas instituições – existe sempre esta vontade de galgar, de ter poder.”

Na sua homilia o Papa Francisco sublinhou que a vontade mundana de estar com o poder acontece nas paróquias, nos colégios e também nos episcopados, uma atitude que não é a atitude de Jesus que veio para servir e ensina o serviço e a humildade. Mas todos somos tentados pelas atitudes de poder e de vaidade – afirmou o Papa que pediu ao Senhor para que nos ilumine para entendermos que o espírito mundano é inimigo de Deus:

“Todos nós somos tentados por estas coisas, somos tentados a destruir o outro para subir mais. É uma tentação mundana, mas que divide e destrói a Igreja, não é o Espírito de Jesus. É belo, imaginemos a cena: Jesus que diz estas palavras e os discípulos que dizem ‘não, é melhor não perguntar muito, vamos em frente’, e os discípulos que preferem discutir entre si qual deles será o maior. Vai-nos fazer bem pensar nas muitas vezes que nós vimos isto na Igreja e nas muitas vezes que nós fizemos isto, e pedir ao Senhor que nos ilumine, para entender que o amor pelo mundo, ou seja, por este espírito mundano, é inimigo de Deus”. 

Explorar trabalhadores para enriquecer é pecado mortal

Na quinta-feira, dia 19 de maio de 2016, na sua homilia na Missa em Santa Marta, o Papa Francisco afirmou que explorar os trabalhadores para enriquecer é ser como sanguessugas e isto é um pecado mortal.

O Santo Padre comentou a primeira leitura da liturgia do dia, extraída da carta de S. Tiago, e afirmou que “não se pode servir a Deus e as riquezas”. Estas, as riquezas – continuou Francisco – são boas em si mesmas, mas erram aqueles que seguem a “teologia da prosperidade”.

O Papa recordou o que diz S. Tiago: “Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos estão a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo!”

Francisco recordou a precaridade dos vínculos laborais e, em particular, citou o que lhe disse uma jovem que encontrou um emprego de 11 horas diárias por 650 euros na informalidade. E disseram-lhe que se queria podia ficar com o trabalho senão há mais quem queira: “há uma fila atrás de si”.

A exploração das pessoas hoje é uma verdadeira escravidão – denunciou o Papa: “Viver do sangue das pessoas. Isto é pecado mortal. É pecado mortal.”

O Papa Francisco propôs uma reflexão sobre a exploração das pessoas no mundo do trabalho que chega mesmo à escravidão:

“Pensemos neste drama de hoje: a exploração das pessoas, o sangue das pessoas que se tornam escravas, os traficantes de seres humanos e não somente aqueles que traficam prostitutas e crianças para o trabalho infantil, mas aquele tráfico mais ‘civilizado’: Eu pago-te mas sem direito a férias e assistência médica, tudo clandestino. Porém, eu torno-me rico!

O Santo Padre no final da sua homilia pediu ao Senhor que “nos faça entender aquela simplicidade que Jesus nos diz no Evangelho de hoje: É mais importante um copo de água em nome de Cristo que todas as riquezas acumuladas com a exploração das pessoas”. 

Para refletir sobre a economia mundial

Recordamos aqui as palavras do Papa Francisco em maio de 2016 proferidas em homilias da Eucaristia diária na Capela da Casa de Santa Marta, no Vaticano. Estas palavras ajudam-nos a enquadrar o rumo definido para o encontro de Assis que em março de 2020 terá como tema “A Economia de Francisco” e juntará empresários, universitários, estudantes e especialistas.

“A Economia de Francisco” será um grande evento especialmente dirigido para refletir sobre o futuro próximo da economia mundial numa perspetiva humana e inclusiva. Já no próximo dia 24 de setembro terá lugar em Florença uma primeira reunião preparatória do encontro de Assis.

Laudetur Iesus Christus

VN

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