(RV) Neste domingo, dia 2 de Outubro, às 15 horas do Azerbaijão, o Papa Francisco encontrou-se com as autoridades civis do país, no Centro Heydar Aliyev, da cidade de Baku. Eis na íntegra, o discurso pronunciado pelo Santo Padre:
Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Ilustres membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!
Sinto-me muito feliz por visitar o Azerbaijão e agradeço-vos pelo
cordial acolhimento nesta cidade, capital do país, debruçada sobre as
margens do Mar Cáspio; uma cidade que transformou radicalmente o seu
rosto com edifícios novos, como este onde se realiza o nosso encontro.
Estou-lhe muito grato, Senhor Presidente, pelas gentis expressões de
boas-vindas que me dirigiu em nome do Governo e do povo azerbaijano e
por me ter dado a possibilidade, graças ao seu amável convite, de
retribuir a visita que Vossa Excelência realizou no ano passado ao
Vaticano, juntamente com a sua gentil Consorte.
Cheguei a este país trazendo no coração a admiração pela complexidade
e a riqueza da sua cultura, fruto da contribuição dos muitos povos que,
ao longo da história, habitaram nestas terras, dando vida a um tecido
de experiências, valores e peculiaridades que caraterizam a sociedade
atual e se manifestam na prosperidade do Estado azerbaijano moderno. No
próximo dia 18 de Outubro, o Azerbaijão celebrará o vigésimo quinto
aniversário da sua independência e tal data oferece a possibilidade de
lançar um olhar de conjunto aos acontecimentos destas décadas, aos
progressos realizados e aos problemas que o país está a enfrentar.
O caminho percorrido até agora mostra claramente os esforços
consideráveis feitos para consolidar as instituições e favorecer o
crescimento económico e civil da nação. É um percurso que requer
constante solicitude por todos, especialmente os mais vulneráveis, um
percurso possível graças a uma sociedade que reconhece os benefícios do
multiculturalismo e da necessária complementaridade das culturas,
fazendo com que se instaurem relações de mútua colaboração e respeito
entre as várias componentes da comunidade civil e entre os membros das
diferentes confissões religiosas.
Este esforço conjunto na construção duma harmonia entre as diferenças
é muito significativo neste tempo, porque mostra que é possível
testemunhar as próprias ideias e a própria concepção da vida sem ofender
os direitos daqueles que são portadores doutras concepções e visões.
Cada afiliação étnica ou ideológica bem como todo o caminho religioso
autêntico não podem deixar de excluir atitudes e concepções que
instrumentalizem as convicções próprias, a sua identidade ou o nome de
Deus para legitimar desígnios de opressão e domínio.
Espero vivamente que o Azerbaijão continue pela estrada da
colaboração entre diferentes culturas e confissões religiosas. Que a
harmonia e a coexistência pacífica alimentem sempre mais a vida social e
civil do país, nas suas múltiplas expressões, assegurando a todos a
possibilidade de oferecer a própria contribuição para o bem comum.
Infelizmente, o mundo experimenta o drama de tantos conflitos que
encontram alimento na intolerância, fomentada por ideologias violentas e
pela negação prática dos direitos dos mais frágeis. Para uma válida
contraposição a estas derivas perigosas, é preciso que cresça a cultura
da paz, que se nutre duma incessante disponibilidade ao diálogo e da
consciência de que não há alternativa razoável à busca paciente e
assídua de soluções partilhadas, por meio de negociações leais e
constantes.
Assim como dentro das fronteiras duma nação é forçoso promover a
harmonia entre as suas várias componentes, assim também entre os Estados
é necessário avançar, com sabedoria e coragem, pelo caminho que leva ao
verdadeiro progresso e à liberdade dos povos, abrindo percursos
originais que apontem para acordos duradouros e a paz. Assim se pouparão
aos povos graves sofrimentos e dolorosas lacerações difíceis de curar.
Olhando este país, desejo expressar cordialmente a minha proximidade a
quantos tiveram de deixar a sua terra e às inúmeras pessoas que sofrem
por causa de conflitos sangrentos. Espero que a comunidade internacional
saiba oferecer, com constância, a sua ajuda indispensável. Ao mesmo
tempo, a fim de se tornar possível a abertura duma fase nova,
propiciadora duma paz estável na região, dirijo a todos o convite a não
deixem nada de intentado para se chegar a uma solução satisfatória.
Estou confiante de que, com a ajuda de Deus e a boa vontade das Partes, o
Cáucaso poderá ser o lugar onde as controvérsias e as divergências
encontrarão, através do diálogo e da negociação, a sua composição e
superação, de modo que esta área, «porta entre o Oriente e o Ocidente» –
segundo a bela imagem usada por São João Paulo II quando visitou o
vosso país [cf. Discurso na cerimónia de boas-vindas, 22 de Maio 2002:
Insegnamenti XXV/1 (2002), 838] – se torne também uma porta aberta para a
paz e um exemplo a seguir na resolução de conflitos antigos e novos.
Apesar da sua presença numericamente exígua no país, a Igreja
Católica está integrada na vida civil e social do Azerbaijão, participa
nas suas alegrias e é solidária na resolução das suas dificuldades. Além
disso o reconhecimento jurídico, tornado possível na sequência da
ratificação do Acordo Internacional com a Santa Sé em 2011, ofereceu um
quadro normativo mais estável para a vida da comunidade católica no
Azerbaijão.
Alegro-me particularmente ainda com as relações cordiais que a
comunidade católica mantém com as comunidades muçulmana, ortodoxa e
judaica, e espero que se incrementem os sinais de amizade e colaboração.
Estas boas relações são de grande importância para a convivência
pacífica e a paz no mundo, e mostram que é possível, entre os seguidores
de diferentes confissões religiosas, a cordialidade dos
relacionamentos, o respeito e a cooperação para o bem de todos.
O apego aos valores religiosos genuínos é totalmente incompatível com
a tentativa de impor, pela violência, aos outros as próprias
concepções, apoiando-se no santo nome de Deus. Ao contrário, a fé em
Deus seja fonte e inspiração de compreensão mútua, respeito e ajuda
recíproca em prol do bem comum da sociedade.
Deus abençoe o Azerbaijão com a harmonia, a paz e a prosperidade.
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