Amados irmãos e irmãs!
Nesta vigília, repassamos os momentos fundamentais da vida de Jesus,
em companhia de Maria. Com a mente e o coração, estivemos nos dias do
cumprimento da missão de Cristo no mundo. A Ressurreição como sinal do
extremo amor do Pai, que de novo traz tudo à vida, e como antecipação da
nossa condição futura. A Ascensão como partilha da glória do Pai, onde a
nossa própria humanidade encontra um lugar privilegiado. O Pentecostes,
expressão da missão da Igreja na história até ao fim dos tempos, sob a
guia do Espírito Santo. Além disso, nos dois últimos mistérios,
contemplamos a Virgem Maria na glória do Céu – Ela que, desde os
primeiros séculos, foi invocada como Mãe da Misericórdia.
Sob muitos aspetos, a oração do Rosário é a síntese da história da
misericórdia de Deus que se transforma em história de salvação para
aqueles que se deixam plasmar pela graça. Os mistérios que nos são
propostos são gestos concretos, em que se desenvolve a ação de Deus em
nosso favor. Através da oração e meditação da vida de Jesus Cristo,
revemos o seu rosto misericordioso que vai ao encontro de todos nas
várias necessidades da sua vida. Maria acompanha-nos neste caminho,
apontando para o Filho que irradia a própria misericórdia do Pai. Ela é
verdadeiramente a Odigitria, a Mãe que indica o percurso que somos
chamados a fazer para sermos verdadeiros discípulos de Jesus. Em cada
mistério do Rosário, sentimo-La perto de nós e contemplamo-La como
primeira discípula de seu Filho que põe em prática a vontade do Pai (cf.
Lc 8, 19-21).
A oração do Rosário não nos afasta dos cuidados da vida; pelo
contrário, insta a encarnar-nos na história de todos os dias para
sabermos individuar os sinais da presença de Cristo entre nós. Sempre
que contemplamos um momento, um mistério da vida de Cristo, somos
convidados a individuar o modo como Deus entra na nossa vida, para
depois O acolhermos e seguirmos. Assim descobrimos o caminho que nos
leva a seguir Cristo no serviço dos irmãos. Acolhendo e assimilando
dentro de nós alguns acontecimentos salientes da vida de Jesus,
participamos na sua obra de evangelização, para que o Reino de Deus
cresça e se propague no mundo. Somos discípulos, mas também missionários
e portadores de Cristo, nos lugares onde Ele nos pede para estar
presente. Não podemos, portanto, encerrar o dom de sua presença dentro
de nós. Pelo contrário, somos chamados a comunicar a todos o seu amor, a
sua ternura, a sua bondade, a sua misericórdia. É a alegria da partilha
que não se detém perante coisa alguma, porque leva um anúncio de
libertação e salvação.
Maria dá-nos a possibilidade de compreender o que significa ser
discípulos de Cristo. Desde sempre predestinada para ser a Mãe, Ela
aprendeu a fazer-Se discípula. O seu primeiro passo foi pôr-Se à escuta
de Deus. Obedeceu ao anúncio do Anjo e abriu o seu coração para acolher o
mistério da maternidade divina. Seguiu Jesus, pondo-Se à escuta de cada
palavra que saía da boca d’Ele (cf. Mc 3, 31-35); conservou tudo no seu
coração (cf. Lc 2, 19), tornando-Se memória viva dos sinais que o Filho
de Deus realizou para despertar a nossa fé. Ouvir, porém, não basta; a
escuta é certamente o primeiro passo, mas depois precisa de ser
traduzida em ação concreta. De facto, o discípulo põe a sua vida ao
serviço do Evangelho.
Por isso, a Virgem Maria foi imediatamente ter com Isabel para a
ajudar no tempo da sua gravidez (cf. Lc 1, 39-56); em Belém, deu à luz o
Filho de Deus (cf. Lc 2, 1-7); em Caná, teve a peito a situação de dois
recém-casados (cf. Jo 2, 1-11); no Gólgota, não retrocedeu frente à
dor, mas permaneceu ao pé da cruz de Jesus e, por vontade d’Ele,
tornou-Se Mãe da Igreja (cf. Jo 19, 25-27); depois da Ressurreição,
animou os Apóstolos reunidos no Cenáculo à espera do Espírito Santo, que
os transformaria em corajosos arautos do Evangelho (cf. At 1, 14). Em
toda a sua vida, Maria realizou quanto se pede à Igreja que cumpra em
perene memória de Cristo. Na sua fé, vemos como abrir a porta do nosso
coração para obedecer a Deus; na sua abnegação, descobrimos quão atentos
devemos estar às necessidades dos outros; nas suas lágrimas,
encontramos a força para consolar aqueles que estão mergulhados na
tribulação. Em cada um destes momentos, Maria exprime a riqueza da
misericórdia divina, que vem em ajuda de cada um nas suas necessidades
diárias.
Nesta tarde, invoquemos a nossa terna Mãe do Céu com a oração mais
antiga que os cristãos fizeram para se dirigir a Ela, sobretudo nos
momentos de dificuldade e martírio. Invoquemo-La com a certeza de sermos
socorridos pela sua materna misericórdia, para que Ela, «gloriosa e
bendita», nos possa servir de proteção, ajuda e bênção durante todos os
dias da nossa vida: «À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não
desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos de
todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita».
(RV)
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