06 outubro, 2016

Papa: trabalhar como instrumentos de comunhão




(RV) O Papa Francisco presidiu à celebração das Vésperas, na tarde desta quarta-feira dia 5 de outubro, na Igreja dos Santos André e Gregorio al Celio, em Roma, por ocasião do 50º aniversário das relações estreitas e profundas entre a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica. A cerimónia ecuménica contou com a participação do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, Primaz da Comunhão Anglicana.

Em sua alocução, o Pontífice citou uma passagem do Livro do Profeta Ezequiel que descreve Deus como o Pastor que reúne suas ovelhas perdidas. “Elas tinham se dispersado umas das outras nos dias nebulosos e escuros.”

“O Senhor nos dirige esta noite, através do profeta, duas mensagens”, disse o Pontífice, acrescentando:

“Em primeiro lugar, uma mensagem de unidade. Deus, como Pastor, quer a unidade em seu povo e deseja que sobretudo os Pastores lutem por isso. Em segundo lugar, nos é dito o motivo das divisões do rebanho: nos dias nebulosos e escuros, perdemos de vista o irmão que estava ao nosso lado, nos tornamos incapazes de reconhecê-lo e nos alegrar de nossos dons respectivos e da graça recebida. Isto aconteceu porque se concentraram ao nosso redor, a escuridão da incompreensão e da suspeita, e acima de nós, as nuvens escuras das divergências e controvérsias, formadas muitas vezes por razões históricas e culturais e não somente por motivos teológicos.”

“Mas temos a certeza sólida de que Deus ama habitar entre nós, seu rebanho e tesouro precioso. Ele é um Pastor incansável que continua agindo, nos exortando a caminhar rumo à unidade, que pode ser alcançada somente com a ajuda de sua graça. Por isso, permaneçamos confiantes, porque em nós, que somos vasos de argila frágeis, Deus ama derramar a sua graça. Ele está convencido de que podemos passar da escuridão à luz, da dispersão à unidade e do pecado à plenitude. Este caminho de comunhão é o percurso de todos os cristãos e a missão particular dos pastores da Comissão Internacional anglicana e católica pela unidade e missão.”

Segundo Francisco, trabalhar como instrumentos de comunhão sempre e em todo lugar é um grande chamado. 

“Isso significa promover ao mesmo tempo a unidade da família cristã e a unidade da família humana. Os dois âmbitos não se opõem, mas se enriquecem reciprocamente. Quando, como discípulos de Jesus, oferecemos o nosso serviço de maneira conjunta, um ao lado do outro, quando promovemos a abertura e o encontro, vencendo a tentação do fechamento e isolamento, trabalhamos contemporaneamente pela unidade dos cristãos e da família humana. Reconhecemo-nos como irmãos que pertencem a tradições diferentes, mas são impelidos pelo mesmo Evangelho a empreender a mesma missão no mundo. Então, seria sempre bom, antes de começar qualquer atividade, que vocês se fizessem estas perguntas: Por que não fazemos isso junto com os nossos irmãos anglicanos? Podemos testemunhar Jesus agindo junto com os nossos irmãos católicos?”

Segundo o Papa, é partilhando concretamente as dificuldades e as alegrias do ministério que nos reaproximamos uns dos outros. “Que vocês sejam promotores de um ecumenismo audacioso e real, sempre à procura de abrir novos caminhos, dos quais se beneficiarão em primeiro lugar os seus confrades nas Províncias e Conferências Episcopais. Trata-se de seguir sempre e sobretudo o exemplo do Senhor, a sua metodologia pastoral que o Profeta Ezequiel nos recorda: buscar a ovelha perdida, reconduzir ao rebanho a ovelha dispersa, curar a que está ferida e doente. Somente assim se reúne o povo disperso.”

O Papa se deteve no caminho comum da sequela do Cristo Bom Pastor, referindo-se à férula pastoral de São Gregório Magno, que simboliza o grande significado ecumênico deste encontro.

“Deste lugar, São Gregório escolheu e enviou São Agostinho de Cantuária e seus monges aos povos anglo-saxões, inaugurando uma grande página de evangelização que é nossa história comum”, disse Francisco.

O Papa frisou que o amor do Cordeiro vitorioso sobre o pecado e a morte é a mensagem verdadeira e inovadora a ser levada às ovelhas perdidas de hoje e aos que ainda não conhecem o rosto compassivo e o abraço misericordioso do Bom Pastor. “O nosso ministério consiste em iluminar as trevas com esta luz,  com a força inerme do amor que vence o pecado e supera a morte. A missão dos Pastores é a de ajudar o rebanho a ele confiado a fim de que seja em saída, em movimento para anunciar a alegria do Evangelho.”

Francisco pediu a Deus a graça de imitar o espírito e o exemplo dos grandes missionários, através dos quais o Espírito Santo revitalizou a Igreja que se reanima quando sai de si para viver e anunciar o Evangelho nas estradas do mundo.

O Pontífice convidou a pensar no que aconteceu em Edimburgo, na Escócia, nas origens do movimento ecumênico: “O fogo da missão permitiu superar as barreiras e abater os muros que nos isolavam e tornavam impensável um caminho comum. Rezemos juntos por isso: O Senhor nos conceda que daqui saia um impulso renovado de comunhão e missão.”

(MJ)

Sem comentários:

Enviar um comentário