(RV) O Papa Francisco presidiu à celebração das
Vésperas, na tarde desta quarta-feira dia 5 de outubro, na Igreja dos
Santos André e Gregorio al Celio, em Roma, por ocasião do 50º
aniversário das relações estreitas e profundas entre a Comunhão
Anglicana e a Igreja Católica. A cerimónia ecuménica contou com a
participação do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, Primaz da Comunhão
Anglicana.
Em sua alocução, o Pontífice citou uma passagem do Livro do Profeta
Ezequiel que descreve Deus como o Pastor que reúne suas ovelhas
perdidas. “Elas tinham se dispersado umas das outras nos dias nebulosos e
escuros.”
“O Senhor nos dirige esta noite, através do profeta, duas mensagens”, disse o Pontífice, acrescentando:
“Em primeiro lugar, uma mensagem de unidade. Deus, como Pastor, quer a
unidade em seu povo e deseja que sobretudo os Pastores lutem por isso.
Em segundo lugar, nos é dito o motivo das divisões do rebanho: nos dias
nebulosos e escuros, perdemos de vista o irmão que estava ao nosso lado,
nos tornamos incapazes de reconhecê-lo e nos alegrar de nossos dons
respectivos e da graça recebida. Isto aconteceu porque se concentraram
ao nosso redor, a escuridão da incompreensão e da suspeita, e acima de
nós, as nuvens escuras das divergências e controvérsias, formadas muitas
vezes por razões históricas e culturais e não somente por motivos
teológicos.”
“Mas temos a certeza sólida de que Deus ama habitar entre nós, seu
rebanho e tesouro precioso. Ele é um Pastor incansável que continua
agindo, nos exortando a caminhar rumo à unidade, que pode ser alcançada
somente com a ajuda de sua graça. Por isso, permaneçamos confiantes,
porque em nós, que somos vasos de argila frágeis, Deus ama derramar a
sua graça. Ele está convencido de que podemos passar da escuridão à luz,
da dispersão à unidade e do pecado à plenitude. Este caminho de
comunhão é o percurso de todos os cristãos e a missão particular dos
pastores da Comissão Internacional anglicana e católica pela unidade e
missão.”
Segundo Francisco, trabalhar como instrumentos de comunhão sempre e em todo lugar é um grande chamado.
“Isso significa promover ao mesmo tempo a unidade da família cristã e
a unidade da família humana. Os dois âmbitos não se opõem, mas se
enriquecem reciprocamente. Quando, como discípulos de Jesus, oferecemos o
nosso serviço de maneira conjunta, um ao lado do outro, quando
promovemos a abertura e o encontro, vencendo a tentação do fechamento e
isolamento, trabalhamos contemporaneamente pela unidade dos cristãos e
da família humana. Reconhecemo-nos como irmãos que pertencem a tradições
diferentes, mas são impelidos pelo mesmo Evangelho a empreender a mesma
missão no mundo. Então, seria sempre bom, antes de começar qualquer
atividade, que vocês se fizessem estas perguntas: Por que não fazemos
isso junto com os nossos irmãos anglicanos? Podemos testemunhar Jesus
agindo junto com os nossos irmãos católicos?”
Segundo o Papa, é partilhando concretamente as dificuldades e as
alegrias do ministério que nos reaproximamos uns dos outros. “Que vocês
sejam promotores de um ecumenismo audacioso e real, sempre à procura de
abrir novos caminhos, dos quais se beneficiarão em primeiro lugar os
seus confrades nas Províncias e Conferências Episcopais. Trata-se de
seguir sempre e sobretudo o exemplo do Senhor, a sua metodologia
pastoral que o Profeta Ezequiel nos recorda: buscar a ovelha perdida,
reconduzir ao rebanho a ovelha dispersa, curar a que está ferida e
doente. Somente assim se reúne o povo disperso.”
O Papa se deteve no caminho comum da sequela do Cristo Bom Pastor,
referindo-se à férula pastoral de São Gregório Magno, que simboliza o
grande significado ecumênico deste encontro.
“Deste lugar, São Gregório escolheu e enviou São Agostinho de
Cantuária e seus monges aos povos anglo-saxões, inaugurando uma grande
página de evangelização que é nossa história comum”, disse Francisco.
O Papa frisou que o amor do Cordeiro vitorioso sobre o pecado e a
morte é a mensagem verdadeira e inovadora a ser levada às ovelhas
perdidas de hoje e aos que ainda não conhecem o rosto compassivo e o
abraço misericordioso do Bom Pastor. “O nosso ministério consiste em
iluminar as trevas com esta luz, com a força inerme do amor que vence o
pecado e supera a morte. A missão dos Pastores é a de ajudar o rebanho a
ele confiado a fim de que seja em saída, em movimento para anunciar a
alegria do Evangelho.”
Francisco pediu a Deus a graça de imitar o espírito e o exemplo dos
grandes missionários, através dos quais o Espírito Santo revitalizou a
Igreja que se reanima quando sai de si para viver e anunciar o Evangelho
nas estradas do mundo.
O Pontífice convidou a pensar no que aconteceu em Edimburgo, na
Escócia, nas origens do movimento ecumênico: “O fogo da missão permitiu
superar as barreiras e abater os muros que nos isolavam e tornavam
impensável um caminho comum. Rezemos juntos por isso: O Senhor nos
conceda que daqui saia um impulso renovado de comunhão e missão.”
(MJ)
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