(RV) Esta
tarde, às 15.45, hora local, o Papa teve na Igreja de Nossa Senhora da
Assunção em Tbilisi um encontro com os sacerdotes, religiosos,
religiosas e seminaristas. Ao todo cerca de 250 pessoas. Um encontro
denso, distensivo e alegre, mas cheio de ensinamentos importantes.
O Papa ouviu, tomando notas, os testemunhos de um jovem de 23 anos,
Kahka, de uma mãe de família, Irina, de um seminarista georgiano, Kote,
que está para ser diácono, e de um sacerdote arménio.
No seu discurso, improvisado, o Papa amalgamou as questões por eles
apresentadas, começando por provocar uma risada ao falar de uma velhota
arménia muito humilde, com um dente de ouro à velha maneira, e que
percorreu várias horas de autocarro, para ir da Geórgia onde vive, à
Arménia ver o sucessor de Pedro e que incansavelmente seguia o Papa nas
suas deslocações. E ao perguntar-lhe porque fazia isso, ela respondeu
que era a fé.
Um preâmbulo para o Papa falar da firmeza da fé e dos pilares em que
assenta: a capacidade de receber dos outros a fé e de a transmitir aos
filhos, aos outros – disse Francisco, recordando que, por essa razão, em
Cracóvia, deu aos jovens a missão de falar com os avós, de receber
deles e das mães, a água fresca da fé e a fazê-la crescer: “receber a
herança da fé e fazê-la germinar”. Assim como uma planta sem raízes não
cresce, também uma fé sem mães e avós não cresce. Mas se a recebermos e
não a doarmos também não cresce – sublinhou Francisco.
Em poucas palavras, firmes na fé significa memória (do passado), coragem (no presente), esperança (no futuro) – rematou o Papa.
Referindo-se ao jovem seminarista que disse que tem orgulho de ser
católico e sacerdote georgiano, recordando que quando era pequeno, na
missa disse à mãe que queria ser como aquele Padre que estava a
celebrar, o Papa disse-lhe que isto é todo um percurso, mas que a
palavra-chave é memória, memória da primeira chamada, do momento em que o
Espirito Santo nos tocou. Todos na vida temos momentos de escuridão, os
consagrados também os têm. E quando isto acontece – aconselhou o Papa -
não desistir do caminho, não parar, mas voltar com o pensamento aquele
momento em que se foi tocado pelo Espírito, perseverar na vocação,
naquela carícia através da qual Deus me disse “vem comigo”. E assim a fé
permanece firme – disse o Papa – recordando que todos somos pecadores,
precisamos de nos confessar e que a Misericórdia e o amor de Jesus é
maior do que os nossos pecados.
O testemunho de Irina que falou da importância da fé no matrimónio,
deu a oportunidade ao Papa para se deter sobre a beleza do matrimónio e
sobre as ameaças que incubem hoje em dia sobre este sacramento cristão:
Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e por isso
quem paga o preço do divórcio não são só os próprios esposos e as
crianças que sofrem muito com isso, mas é também a imagem de Deus que
fica manchada – disse o Papa. Por isso é preciso fazer de tudo para
salvar o matrimónio. É normal que haja dificuldades, litígios, sobretudo
quando se mete pelo meio o diabo apresentando uma mulher mais bonita ou
um homem mais competente – disse o Papa, mas nunca ir dormir sem fazer
as pazes, porque a guerra fria do dia seguinte é muito pior. E em vez de
fazer discursos, optar por uma carícia…
É preciso fazer todo o possível para salvar o matrimónio, ajudando os
casais. E se ajuda acolhendo, acompanhando, discernindo, integrando. Na
comunidade católica deve-se fazer isso. E no casal nunca esquecer estas
palavras: posso?, obrigada, perdão… ter sempre em conta a opinião do
outro.
O Papa recordou ainda um outro inimigo do matrimónio hoje: a teoria
de género, uma guerra mundial para destruir o matrimónio, não com armas,
mas com colonizações ideológicas.
Referindo-se de novo à figura da velhota e da mãe à qual o menino
disse que queria ser como aquele homem que celebrava a missa, o Papa
disse que as mulheres naquela região do mundo têm fama de ser mulheres
de fé. E recordou que a Mãe de Jesus é a nossa mãe, a Igreja, esposa de
Jesus é a nossa mãe e que com a Mãe Igreja e a Mãe de Jesus podemos ir
para a frente. A mulher. Parece que o Senhor tem preferência pelas
mulheres como veículos de fé – disse o Papa frisando que será a Mãe
Igreja, a mulher, a defender a fé. Os Monges orientais já diziam que
quando há turbulência espiritual é preciso refugiar-se sob o manto de
Nossa Senhora.
As últimas palavras do Papa foram relativas ao ecumenismo. Recomendou
que se deixe à Teologia o tratamento dos problemas abstractos e que se
seja amigo do vizinho ortodoxo, sem procurar convertê-lo. Nunca fazer
proselitismo com os ortodoxos. São nossos irmãos, irmãs. Mas devido a
complexidades históricas, nos separamos – disse Francisco, pedindo a
graça de sermos todos libertados da mundanidade e a sermos homens e
mulheres da Igreja. “Firmes na fé, sob o manto da Santa Mãe de Deus”,
disse Bergoglio, que concluiu rezando juntamente com a assembleia a “Ave
Maria” . (DA)
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