31 outubro, 2016

Não resignar-se à divisão - Papa na oração ecuménica em Lund


(RV) Francisco começou por evocar as palavras de Jesus que na última ceia recomendou aos apóstolos a permanecerem N’Ele porque Ele também teria permanecido neles, e disse que ali em Lund estavam reunidos para manifestar o desejo comum.

de permanecer unidos a Jesus e para, juntos, darem um testemunho mais eficaz de fé, esperança e caridade. Um momento também propício – frisou Francisco – para darem graças a Deus pelo muitos irmãos de diferentes comunidades eclesiais que não se resignaram com a divisão, mas mantiveram viva a esperança da reconciliação entre todos os que crêem no único Senhor.

Nós católicos e luteranos, começamos a caminhar juntos pela senda da reconciliação. Agora, no contexto da comemoração comum da Reforça de 1517, temos uma nova oportunidade para acolher um percurso comum, que se foi configurando ao longo dos últimos 50 anos no diálogo ecuménico entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica. Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós. Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que impediram frequentemente de nos compreendermos uns com os outros”.

O Papa convidou depois a olhar para o passado com amor e honestidade, a reconhecer o erro e a pedir perdão, pois que só Deus é o juiz. E com a mesma honestidade e amor – disse – “temos de reconhecer que a nossa divisão se afastava da intuição originária do povo de Deus, cujo anélito é, naturalmente estar unido”. A este respeito recordou que historicamente a divisão foi mais da vontade de homens de poder do que do povo. No entanto, de ambas as partes – ressaltou -  havia a vontade de professar e defender a verdadeira fé. Mas “nos fechamos em nós mesmos com medo ou preconceito relativamente à fé que os outros professam com uma acentuação e uma linguagem diferentes.” – sublinhou Francisco citando João Paulo II que dizia que não devemos ceder à tentação de nos tornarmos árbitros da história, mas sim a compreender melhor os acontecimentos e a ser portadores da verdade. O Papa recordou ainda que Deus é o dono da vinha e que devemos deixar-nos comover pelo seu olhar. O que Ele deseja é que permaneçamos ramos vivos unidos ao seu Filho, Jesus. “É ele que nos sustenta e encoraja a procurar os modos para tornar a unidade uma realidade cada vez mais evidente” – disse Francisco continuando:

Sem dúvida, a separação foi uma fonte imensa de sofrimentos e incompreensões, mas ao mesmo tempo levou-nos a tomar consciência sinceramente de que sem Ele, nada podemos fazer, dando-nos a possibilidade de compreender melhor a nossa fé. Com gratidão reconhecemos que a Reforma contribuiu para dar maior centralidade à Sagrada Escritura na vida da Igreja. Através da escuta comum da Palavra de Deus nas Escrituras, o diálogo entre a Igreja católica e a Federação Luterana Mundial, cujo cinquentenário celebramos, deu passos importantes

O Papa disse ainda que a experiência de Martinho Lutero interpela-nos, pois a pergunta que continuamente o atormentava era “como posso ter um Deus misericordioso?”. Isto tem a ver com a justa relação com Deus, que é uma questão central na vida. E Lutero descobriu este Deus misericordioso na Boa Nova de Cristo encarnado, morto e ressuscitado. E Jesus intercede por nós pedindo ao Pai a unidade dos seus discípulos. É isto que nos conforta e impele a unir-nos a Jesus para implorar do Pai que nos conceda o dom da unidade, para que o mundo creia na força  da sua misericórdia. “E nós cristãos, seremos testemunhas credíveis da misericórdia de Deus, na medida em que o perdão, a renovação e a reconciliação forem uma experiencia cristã entre nós” – concluiu Francisco recordando mais uma vez que sem Deus não se é nada. E dessa Catedral – rematou – cristãos e católicos “pedimos o seu auxílio para sermos membros vivos unidos a Ele, sempre carecidos da sua graça para podermos levar, juntos, a Sua Palavra ao mundo, que tem necessidade da sua ternura e misericórdia”.

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