(RV) A última etapa da
visita do Papa ao Equador, foi o encontro com o clero, religiosas,
religiosos e seminaristas no Santuário “El Quiche” a cerca de 50 km de
Quito.
O Actual edifício do Santuário remonta a 1928 e foi elevado a título
de Santuário Nacional em 1985. Mas a história do Santuário remonta a
finais de 1500, quando na Província de Napo os habitantes de Oyacachi
foram profundamente perturbados por uma manada de ursos que devoravam
animais domésticos e pessoas. Os rituais tradicionais para pôr termo a
esse flagelo não deram resultados. Foi então que uma senhora visitou o
povoado e disse que podia interceder para afastar os ursos, desde que
lhe construíssem uma capela e se convertessem à religião cristã. Os
chefes indígenas aceitam. E é neste contexto que um homem de negócios,
Diego Robles, chega a Oyacachi e mostra aos chefes uma imagem de Nossa
Senhora. Admirados, dizem que é a senhora que os tinha visitado.
Acolheram-na, então, com respeito e admiração e construíram-lhe a
desejada capela, pondo a sua imagem no lugar onde tinham antes o seu
ídolo, uma pedra com cara de urso. Ali permaneceu por 13 anos, de 1591 a
1604, ano em que o arcebispo de Quito, a transferiu para a aldeia de
“El Quinche”.
A imagem de Nossa Senhora de “El Quinche” é uma silhueta de madeira
de cedro com 64 cm de altura, roupagem requintada, rosto moreno e
apaziguador. Traz na mão direita o ceptro e na esquerda uma criança.
A ela são dedicados numerosos cantos
em diversas línguas locais e em castelhano, alguns de há séculos atrás. A
imagem foi coroada em 1943 e a sua festa é a 21 de Novembro.
O edifício actual do Santuário é o terceiro, tendo sido o primeiro
(de 1604) demolido para construir, em 1902, o segundo, muito mais amplo e
que foi, por sua vez, destruído pela natureza. Finalmente a terceira,
cuja construção levou 25 anos, tendo ficado pronto em 1927/28. Tem uma
superfície de 2.049m2 e uma área externa de 8 mil m2, com capacidade
para acolher 15 mil peregrinos. É portanto, neste amplo “Campo Mariano”
que o Papa foi acolhido em festa e com uma chuva de flores por milhares
peregrinos, esobretudo de sacerdotes, religiosos, religiosas e
seminaristas. Basta dizer que o país tem 5.300 consagrados e dois mil e
cem padres, 16 arquidiocese e dioceses e 14 seminários. Hoje, as
vocações não são tão abundantes como outrora, lançando, portanto, o
desafio de acompanhar melhor os jovens com atitude vocacional.
O Papa elevou logo uma oração à
Virgem Maria, Mãe de “El Quinche”, pedindo-lhe para lhe ensinar a
entregar-se, a ser para os outros, as mãos de Deus…
A Ela, e aos destinatários do encontro no Campo Mariano, apresentou
também tudo o que tem vivido nestes dias no Equador: idosos, doentes,
alegrias e tristezas do povo daquele país latino-americano.
O discurso que o Papa tinha preparado para o clero, religiosas,
religiosos e seminaristas, acabou por entregá-lo, improvisando uma
conversa com eles.
Esse discurso desenrolava-se em volta do convite a aceitarem a missão
sem pôr condições, tal como fez Maria, que se prontificou a servir. E
recordou que é Deus quem nos elege, escolhe e destina. Por isso, nada de
auto-referencialidade, egoísmos, busca do lucro material ou compensação
afectiva.
“Não somos mercenários, mas sim servidores; viemos, não para ser
servidos, mas para servir, fazendo-o com despreendimento total, sem
bastão nem bolsa”.
No esteio da história do Santuário de El Quinche, Francisco recordou
que Diego de Robles não fez a imagem de Nossa Senhora por vocação, mas
para proveito económico e negou-se a fazer um altar para a imagem até
que caindo do cavalo, viu-se em perigo e sentiu a protecção da Virgem.
Voltou à aldeia e fez o pedestal da imagem. Quantas vezes, na nossa
realidade de caídos, sentimos Deus à nossa frente – exclamou o Papa,
continuando:
“Que a vanglória e o mundanismo não nos façam esquecer onde Deus nos
resgatou! Que a Virgem Maria de Quinche nos faça descer dos postos de
ambição, interesses egoístas, cuidados excessivos de nós mesmos!”
Mais ainda: A esses apóstolos de hoje, o Papa recorda que Jesus deu a
autoridade não para o próprio benefício, mas para renovar e construir a
Igreja. E recomendou-lhes:
“Não vos negueis a partilhar, não resistais a dar, não vos fecheis na
comodidade; sede mananciais que transbordam e refrescam, especialmente a
bem dos oprimidos pelo pecado, a desilusão, o rancor.”
Francisco recomendou ainda perseverança, o que “implica não mudar de
casa em casa, buscando onde nos tratem melhor, onde haja mais recursos e
comodidades. Perseverança supõe unir a nossa sorte à de Jesus até ao
fim”. Perseverar no caminho, não obstante as confusões e perigos,
sabendo que “não estamos sozinhos, que é o Povo Santo de Deus que
caminha”. “A Igreja acompanha o discípulo missionário”.
E mais uma vez, como vem fazendo ao longo do seu pontificado, o Papa
lembrou que “os pastores têm a responsabilidade de acolher com ternura e
ajudar a discernir cada espírito e cada chamada” . Há que dar as mãos
nisso. E na linha do Santuário de El Quinche que desde os tempos dos
Incas vem sendo um lugar multiétnico e multicultural, o Papa encorajou a
Igreja a ser “casa e escola de comunhão”, a ser aquilo a que ele gosta
de chamar a “cultura do encontro”. Cruzar o limiar do templo requer
tornarmo-nos como Maria, Templo do Senhor, e levar a Palavra de Deus aos
irmãos, acolher o irmão. E isto fez o arcebispo de Quito ao transferir o
santuário de Oyacachi a El Quinche, onde, interpretou o Papa – podia
acolher a todos, pois que “uma Igreja em saída, é uma Igreja que se
aproxima, que desce para não ficar distante, que sai da sua comodidade e
ousa chegar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”.
O Papa concluiu convidando a retomar as tarefas de cuidar, animar e
educar o Povo confiado aos pastores. E não faltou um toque de “Laudato
Si”, nesse lugar que fala de ursos, cedros, aves, fenda na rocha… das
flores que hoje enfeitam os arredores… o Papa rematou dizendo que “as
origens dessa devoção levam-nos para tempos onde era mais simples “a
harmonia serena com a criação”. E convidou a contemplar o Criador que
vive entre nós e naquilo que nos rodeia.… Finalmente, confiou a Nossa
Senhor de “El Quinche” a “nossa vocação”.
(DA)
Sem comentários:
Enviar um comentário