(RV) Na manhã desta
quinta-feira, às 10 horas locais, 16 horas em Roma, o Papa Francisco
celebrou a Missa de abertura do V Congresso Eucarístico Nacional
boliviano, na Praça de Cristo Redentor em Santa Cruz, segunda cidade do
País.
Na homilia, o Papa reevocando a leitura do Evangelho em que os
apóstolos pediam a Jesus para mandar embora a multidão porque não havia
nada para lhes dar de comer, recordou que hoje vivemos em situações
semelhantes no mundo de hoje. Perante a fome no mundo, podemos perder a
memória de ser um povo amado por Deus, e dizer que os números não batem
certo, que é impossível enfrentar essa situação e desesperar-nos pelo
cansaço. E num coração desesperado é muito fácil que a lógica do mundo
de hoje encontre espaço, aquela lógica que tende a “transformar tudo em
objecto de troca, de consumo”, que vê tudo como “negociável”.
“Uma lógica que pretende deixar espaço para muito poucos, descartando todos aqueles que não produzem”.
Perante isto, Jesus retoma a palavra para nos dizer que devemos dar
de comer a todos. Um convite que continua a dizer nesta praça – disse o
Papa:
“Sim, basta de descartes. Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Jesus mostra, portanto o caminho e o Papa prosseguiu detendo-se sobre
as três palavras que caracterizam o gesto de Jesus naquele momento de
multiplicação do pão e dos peixes para matar a fome à multidão:
Ele toma um pouco de pão e alguns peixes, bendiz a Deus por eles,
divide-os e entrega para os discípulos partilharem com os outros. Toma,
bendiz, entrega. O ponto de partida é tomar muito a sério a vida dos
outros, disse o Papa, considera-los, valorizá-los como pessoas. A
riqueza maior de um povo mede-se na vida dos seus povo, na dignidade de
cada um, mesmo que aparentemente não tenha nada a oferecer ou a
partilhar.
Em seguida Jesus bendiz o pão e os peixes, dons recebidos de Deus, e
neste gesto de bendizer, de louvar, pede ao Pai o dom do Espírito Santo.
Esse acto de bendizer tem, portanto, uma dupla perspectiva: agradecer e
transformar. Reconhecer que a vida é sempre um dom, um presente que,
colocado nas mãos de Deus, adquire uma força de multiplicação.
Entrega: Tudo em Jesus é bênção e entrega. E bênção é missão de
repartir, partilhar o que se recebeu, pois que só na entrega e no
compartilhar é que as pessoas encontram a fonte da alegria e a
experiencia de salvação. O Papa convidou a imaginar como os pães e os
peixes iam passando de mãos em mãos até chegar aos mais afastados.
“Jesus consegue gerar uma corrente entre os seus:
“Todos estavam compartilhando o seu, transformando-o em dom para os
outros, e foi assim que comeram até ficarem saciados. E, incrivelmente,
sobrou: recolheram sete cestos de sobras. Uma memória tomada, abençoada e
entregue, sempre sacia um povo.”
Um tema, o da partilha do pão que se coaduna muito bem com o evento
que essa Missa inaugurava: o Congresso nacional Eucarístico que se vai
realizar em Tarija sob o lema “O Pão repartido para a Vida no Mundo”. E
Eucaristia é “Pão repartido”, “É sacramento de comunhão que nos faz sair
do individualismo para vivermos juntos o seguimento de Jesus e nos dá a
certeza de que aquilo que temos e somos, se tomado, abençoado e
entregue, pelo poder de Deus, pelo poder do seu amor, transforma-se em
pão de vida para os outros”…
E nesta homilia em que o Papa começou por pôr no centro as mães que
viu neste dias carregar os filhos às costas, o trabalho das pessoas, o
cansaço que leva muitas vezes a desencorajamento e à perda de memória de
que somos filhos de um Deus que nos quer salvar, Francisco frisou que
uma vida memoriosa precisa dos outros:
“Uma vida memoriosa precisa dos outros, do intercâmbio, do encontro,
duma solidariedade real que seja capaz de entrar na lógica do tomar,
bendizer e entregar, na lógica do amor”.
E concluiu indicando Maria como exemplo de mulher que soube carregar
sobre si a memória do seu povo, a vida do seu filho, proclamando com
alegria que Deus “encheu de bens os famintos”.
(DA)
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