12 julho, 2015

Diálogo, unidade, respeito pelo pobre - Papa à sociedade civil paraguaia

(RV) "Papa Francisco, obrigado por nos trazeres este tsunami de alegria". Papalvras de D. Adalberto Martinez Flores, Secretário da Conferência Episcopal do Paraguai, na saudação ao Santo Padre. Foi na tarde deste sábado no Palácio do Desporto, Leon Condou, em Assunção, onde  estavam reunidos 2.600 organismos da sociedade civil do Paraguai: desde associações, a sindicatos, intelectuais, camponeses, etc.

Dirigindo-se ao Papa como amadíssimo Padre, amigo e irmão D. Martinez Flores fez notar ao Papa Francisco que há 28 anos quando o Papa João Paulo II visitou o Paraguai, não havia nem sequer 10% dos grupos organizados que há hoje no país. Sinal da liberdade de que se goza hoje no Paraguai onde, todavia, é urgente a necessidade de traçar objectivos comuns para toda a nação, fixar metas, estabelecer consensos para se chegar às transformações estruturais e culturais indispensáveis para tornar possível a construção da Pátria sonhada e tão bem expressa pelo poeta paraguaio, Carlos Miguel Giménes: uma Pátria sem filhos desgraçados, democrática, prospera… E foi para receber do Papa uma luz no sentido de fortalecer o tecido social e moral, a paz social, a reconciliação no país, que representantes da sociedade civil quiseram encontrar-se com francisco. Acolheram-no com um grande espectáculo de música e teatro, inspirado na figura de São Francisco, algo que o Papa seguiu com sorriso, aplauso, interesse.

Seguiram-se algumas perguntas dirigidas ao Papa em espanhol e línguas paraguaias por representantes de diversas categorias das associações e grupos representados, na realidade mais do que o Papa tinha preparado, mas quis responder a todos:

Francisco saudou e disse que ia responder dando a sua opinião sobre as perguntas feitas pelos representantes dos diversos grupos, sinal de que o Paraguaio não está morto, mas há seiva na sua veia a germinar…

Depois o Papa admitiu que efectivamente há coisas que estão mal, injustiças, mas o facto de os ver e ouvir ajuda-o a renovar a esperança no Senhor que continua no meio do seu povo…

A um jovem que citou a Evangeli Gaudium em que o Papa afirma que com Deus é possível um mundo fraterno, justo, de paz e dignidade para todos, e perguntou o que significa tudo isso para uma sociedade iníqua, embora cheia de liberdades públicas, como o Paraguaio, o Papa respondeu, recordando que a juventude é um tempo de ideais e é importante que comecem a intuir que a verdadeira felicidade está na luta por um mundo mais fraterno e que compreendam que felicidade e prazer não são sinónimos. O Paraguai é um país com muitos jovens e “a primeira coisa a fazer é evitar que essa força, essa luz não se apague nos vossos corações” – disse, exortando os jovens a aspirarem a coisas que valem a pena, a não terem medo de deixar tudo para trás para se darem por elas, a darem o seu melhor. E recomendou-lhes que não o façam sozinhos, mas em dialogo com os outros, em escuta dos mais velhos que são os guardiões do património espiritual. E que encontrem também conforto na oração em Jesus, pois que Ele nunca decepciona. Ele é o segredo para quantos buscam “fraternidade, justiça, paz e dignidade para todos”.

A segunda pergunta foi dirigida ao Papa, por um representante do  povo indígena e foi centrada na necessidade de construir uma cultura que privilegie o diálogo. Como podem os grupos ali representados gerar esse tipo de cultura e levar avante um projecto que garanta o bem-estar para todos?

Na verdade o diálogo não é fácil, respondeu o Papa. Para que haja diálogo é necessário a cultura do encontro; “reconhecer que a diversidade não só é boa, mas necessária”. Por isso, o ponto de partida não pode ser: “o outro está enganado”. O bem comum, pressupõe a procura de alternativas, de algo novo, não puxar a brasa para a sua sardinha, mas sim, discutir juntos, pensar uma melhor solução para todos. Muitas vezes tudo isto vem envolvido em conflitos. Há que assumir o conflito, disse o Papa, resolvê-lo, transformá-lo no elo de ligação de um novo processo, porque a unidade é superior ao conflito.” As verdadeiras culturas não estão fechadas, disse o Papa. São chamadas a encontrar outras culturas, considerar os outros como pessoas, “sem este pressupostos essencial de fraternidade, não se chega ao diálogo”.

Em relação à terceira questão colocada por uma camponesa em língua guarani, acerca do clamor da Igreja a favor da inclusão social dos pobres, e que concluía perguntando que desafios isto comporta para dos dirigentes ali reunidos, a resposta de Francisco foi que um aspecto fundamental nesta matéria é “o modo como vemos os pobres, não com uma visão ideológica. “A primeira coisa é ter uma preocupação genuína pela sua pessoa, valorizá-los na sua própria bondade”, “estar dispostos a aprender com eles” e como cristãos “ver neles “o rosto de Cristo”.

O Papa disse depois que produzir riqueza é importante, mas sempre em função do bem comum, e não de poucos.

E afirmando que “A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e cruel versão no feiticismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto”, o Papa pediu aos paraguaios para não cederem a “um modelo económico idolatra que exige sacrificar vidas humanas no altar do dinheiro e do lucro.

Recordou ainda que no Paraguai se verificou uma das experiencias de evangelização e organização social mais interessante da história: as chamadas “Reduções” em que o Evangelho foi a alma e vida das comunidades, onde não fome, desemprego, analfabetismo, não havia opressão”.

Isto ensina – disse – que “uma sociedade mais humana é possível também hoje”.

E condenando fortemente a corrupção como um terrível cancro da sociedade, o Papa concluiu exprimindo a sua satisfação por ver nessa variedade de associações comprometidas na construção dum Paraguai melhor e mais próspero, uma grande sinfonia, cada um com a sua peculiaridade, mas procurando a harmonia final. E exortou-os a amarem a sua Pátria, os concidadãos, sobretudo os mais pobres. Por todas essas causas invocou a protecção de Nossa Senhora de Caacupé e pediu a todos o favor de rezarem por ele.

(DA)

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