(RV) "Papa Francisco,
obrigado por nos trazeres este tsunami de alegria". Papalvras de D.
Adalberto Martinez Flores, Secretário da Conferência Episcopal do
Paraguai, na saudação ao Santo Padre. Foi na tarde deste sábado no
Palácio do Desporto, Leon Condou, em Assunção, onde estavam reunidos
2.600 organismos da sociedade civil do Paraguai: desde associações, a
sindicatos, intelectuais, camponeses, etc.
Dirigindo-se ao Papa como amadíssimo Padre, amigo e irmão D. Martinez
Flores fez notar ao Papa Francisco que há 28 anos quando o Papa João
Paulo II visitou o Paraguai, não havia nem sequer 10% dos grupos
organizados que há hoje no país. Sinal da liberdade de que se goza hoje
no Paraguai onde, todavia, é urgente a necessidade de traçar objectivos
comuns para toda a nação, fixar metas, estabelecer consensos para se
chegar às transformações estruturais e culturais indispensáveis para
tornar possível a construção da Pátria sonhada e tão bem expressa pelo
poeta paraguaio, Carlos Miguel Giménes: uma Pátria sem filhos
desgraçados, democrática, prospera… E foi para receber do Papa uma luz
no sentido de fortalecer o tecido social e moral, a paz social, a
reconciliação no país, que representantes da sociedade civil quiseram
encontrar-se com francisco. Acolheram-no com um grande espectáculo de
música e teatro, inspirado na figura de São Francisco, algo que o Papa
seguiu com sorriso, aplauso, interesse.
Seguiram-se algumas perguntas
dirigidas ao Papa em espanhol e línguas paraguaias por representantes de
diversas categorias das associações e grupos representados, na
realidade mais do que o Papa tinha preparado, mas quis responder a
todos:
Francisco saudou e disse que ia
responder dando a sua opinião sobre as perguntas feitas pelos
representantes dos diversos grupos, sinal de que o Paraguaio não está
morto, mas há seiva na sua veia a germinar…
Depois o Papa admitiu que efectivamente há coisas que estão mal,
injustiças, mas o facto de os ver e ouvir ajuda-o a renovar a esperança
no Senhor que continua no meio do seu povo…
A um jovem que citou a Evangeli Gaudium em que o Papa afirma que com
Deus é possível um mundo fraterno, justo, de paz e dignidade para todos,
e perguntou o que significa tudo isso para uma sociedade iníqua, embora
cheia de liberdades públicas, como o Paraguaio, o Papa respondeu,
recordando que a juventude é um tempo de ideais e é importante que
comecem a intuir que a verdadeira felicidade está na luta por um mundo
mais fraterno e que compreendam que felicidade e prazer não são
sinónimos. O Paraguai é um país com muitos jovens e “a primeira coisa a
fazer é evitar que essa força, essa luz não se apague nos vossos
corações” – disse, exortando os jovens a aspirarem a coisas que valem a
pena, a não terem medo de deixar tudo para trás para se darem por elas, a
darem o seu melhor. E recomendou-lhes que não o façam sozinhos, mas em
dialogo com os outros, em escuta dos mais velhos que são os guardiões do
património espiritual. E que encontrem também conforto na oração em
Jesus, pois que Ele nunca decepciona. Ele é o segredo para quantos
buscam “fraternidade, justiça, paz e dignidade para todos”.
A segunda pergunta foi dirigida ao Papa, por um representante do
povo indígena e foi centrada na necessidade de construir uma cultura
que privilegie o diálogo. Como podem os grupos ali representados gerar
esse tipo de cultura e levar avante um projecto que garanta o bem-estar
para todos?
Na verdade o diálogo não é fácil, respondeu o Papa. Para que haja
diálogo é necessário a cultura do encontro; “reconhecer que a
diversidade não só é boa, mas necessária”. Por isso, o ponto de partida
não pode ser: “o outro está enganado”. O bem comum, pressupõe a procura
de alternativas, de algo novo, não puxar a brasa para a sua sardinha,
mas sim, discutir juntos, pensar uma melhor solução para todos. Muitas
vezes tudo isto vem envolvido em conflitos. Há que assumir o conflito,
disse o Papa, resolvê-lo, transformá-lo no elo de ligação de um novo
processo, porque a unidade é superior ao conflito.” As verdadeiras
culturas não estão fechadas, disse o Papa. São chamadas a encontrar
outras culturas, considerar os outros como pessoas, “sem este
pressupostos essencial de fraternidade, não se chega ao diálogo”.
Em relação à terceira questão colocada por uma camponesa em língua
guarani, acerca do clamor da Igreja a favor da inclusão social dos
pobres, e que concluía perguntando que desafios isto comporta para dos
dirigentes ali reunidos, a resposta de Francisco foi que um aspecto
fundamental nesta matéria é “o modo como vemos os pobres, não com uma
visão ideológica. “A primeira coisa é ter uma preocupação genuína pela
sua pessoa, valorizá-los na sua própria bondade”, “estar dispostos a
aprender com eles” e como cristãos “ver neles “o rosto de Cristo”.
O Papa disse depois que produzir riqueza é importante, mas sempre em função do bem comum, e não de poucos.
E afirmando que “A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma
nova e cruel versão no feiticismo do dinheiro e na ditadura duma
economia sem rosto”, o Papa pediu aos paraguaios para não cederem a “um
modelo económico idolatra que exige sacrificar vidas humanas no altar do
dinheiro e do lucro.
Recordou ainda que no Paraguai se verificou uma das experiencias de
evangelização e organização social mais interessante da história: as
chamadas “Reduções” em que o Evangelho foi a alma e vida das
comunidades, onde não fome, desemprego, analfabetismo, não havia
opressão”.
Isto ensina – disse – que “uma sociedade mais humana é possível também hoje”.
E condenando fortemente a corrupção como um terrível cancro da
sociedade, o Papa concluiu exprimindo a sua satisfação por ver nessa
variedade de associações comprometidas na construção dum Paraguai melhor
e mais próspero, uma grande sinfonia, cada um com a sua peculiaridade,
mas procurando a harmonia final. E exortou-os a amarem a sua Pátria, os
concidadãos, sobretudo os mais pobres. Por todas essas causas invocou a
protecção de Nossa Senhora de Caacupé e pediu a todos o favor de rezarem
por ele.
(DA)
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