15 julho, 2015

P. Lombardi: verdadeira mudança parte dos pobres

(RV) Após a Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Equador, à Bolívia e ao Paraguai e já de regresso ao Vaticano, o Padre Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, prestou declarações à Rádio Vaticano, ao nosso colega do programa italiano, Alessandro Gisotti.

Destacamos aqui um excerto dessa entrevista, no qual o Padre Lombardi se refere às críticas que dizem que o Papa Francisco parece ser demasiado propenso para os movimentos populares e forças sociais descurando a classe média. O porta-voz vaticano considera que o Papa mostra que a verdadeira mudança parte dos pobres. Eis o comentário do Padre Lombardi:

“O ponto de posicionamento do Papa parece-me que seja fundamental e deve ser bem entendido: se nós reconhecemos que a situação do mundo não é ideal e que, portanto, existem realmente mudanças, e mudanças importantes e urgentes a serem feitas – quer no que diz respeito ao posicionamento da economia, do governo e do caminho da humanidade, quer no que diz respeito às consequências que este posicionamento tem, mas também sobre a criação, sobre o equilíbrio da criação, sobre o equilíbrio das relações sociais – então devemos ver qual é o ponto de perspetiva justamente no qual nos devemos colocar para entender o que é que não está certo e o que é efetivamente urgente mudar.”

“Este ponto de perspetiva – o Papa disse diversas vezes – é a atenção aos pobres.  É dali, de onde se sofrem as consequências das coisas que não estão certas, que se pode entender verdadeiramente, profundamente e existencialmente que não estão certas e que, portanto, devem mudar: dali, e não apenas para a sensibilidade evangélica que os coloca no coração do Evangelho, mas também para uma sabedoria humana que diz o que devemos mudar para construir uma sociedade mais humana e justa. Devemos olhá-la do ponto de vista das coisas que não estão certas e de quem sofre as consequências negativas. Então, neste sentido, a insistência do Papa é corajosa, é contra a corrente, mas é muito compreensível, porque, se alguém se colocar do ponto de vista do centro do funcionamento de um sistema e de quem o faz funcionar, então é muito mais difícil que as coisas mudem efetivamente e que se veja e se entenda a urgência de mudá-la.”

“Também a “classe média” certamente, tem um papel fundamental e podem existir países em que é extremamente importante. Mas se alguém olha – como faz o Papa – o mundo no seu conjunto, as situações de iniquidade, de sofrimento e os problemas que manifestam a necessidade de uma mudança são de tal forma imensos e macroscópicos que a urgência das mudanças parece evidente.”

“No Papa, encontramos também a insistência sobre o possível protagonismo ativo e criativo das pessoas que se encontram nas situações difíceis, como possíveis protagonistas ativos da mudança: não em forma de luta violenta, mas na forma de crescimento da solidariedade e da justiça. Isto parece-me o significado muito importante do discurso do Papa aos Movimentos Populares e, em certa medida, o significado também desta viagem e dos gestos de solidariedade do Papa para com estas populações. Atitudes que são propostas a nível também das dinâmicas do desenvolvimento mundial. Por isto, parece-me muito significativo que o regresso do Papa ao seu continente e a sua sensibilidade à participação e à compreensão profunda e positiva da realidade do que é o povo – de um ponto de vista quer geral, quer também especificamente cristão – seja uma contribuição extremamente importante para a reflexão da Igreja universal e também da humanidade”. (RS)

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