(RV) Após
a Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Equador, à Bolívia e ao
Paraguai e já de regresso ao Vaticano, o Padre Federico Lombardi,
Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, prestou declarações à Rádio
Vaticano, ao nosso colega do programa italiano, Alessandro Gisotti.
Destacamos aqui um excerto dessa entrevista, no qual o Padre Lombardi
se refere às críticas que dizem que o Papa Francisco parece ser
demasiado propenso para os movimentos populares e forças sociais
descurando a classe média. O porta-voz vaticano considera que o Papa
mostra que a verdadeira mudança parte dos pobres. Eis o comentário do
Padre Lombardi:
“O ponto de posicionamento do Papa parece-me que seja fundamental e
deve ser bem entendido: se nós reconhecemos que a situação do mundo não é
ideal e que, portanto, existem realmente mudanças, e mudanças
importantes e urgentes a serem feitas – quer no que diz respeito ao
posicionamento da economia, do governo e do caminho da humanidade, quer
no que diz respeito às consequências que este posicionamento tem, mas
também sobre a criação, sobre o equilíbrio da criação, sobre o
equilíbrio das relações sociais – então devemos ver qual é o ponto de
perspetiva justamente no qual nos devemos colocar para entender o que é
que não está certo e o que é efetivamente urgente mudar.”
“Este ponto de perspetiva – o Papa disse diversas vezes – é a atenção
aos pobres. É dali, de onde se sofrem as consequências das coisas que
não estão certas, que se pode entender verdadeiramente, profundamente e
existencialmente que não estão certas e que, portanto, devem mudar:
dali, e não apenas para a sensibilidade evangélica que os coloca no
coração do Evangelho, mas também para uma sabedoria humana que diz o que
devemos mudar para construir uma sociedade mais humana e justa. Devemos
olhá-la do ponto de vista das coisas que não estão certas e de quem
sofre as consequências negativas. Então, neste sentido, a insistência do
Papa é corajosa, é contra a corrente, mas é muito compreensível,
porque, se alguém se colocar do ponto de vista do centro do
funcionamento de um sistema e de quem o faz funcionar, então é muito
mais difícil que as coisas mudem efetivamente e que se veja e se entenda
a urgência de mudá-la.”
“Também a “classe média” certamente, tem um papel fundamental e podem
existir países em que é extremamente importante. Mas se alguém olha –
como faz o Papa – o mundo no seu conjunto, as situações de iniquidade,
de sofrimento e os problemas que manifestam a necessidade de uma mudança
são de tal forma imensos e macroscópicos que a urgência das mudanças
parece evidente.”
“No Papa, encontramos também a insistência sobre o possível
protagonismo ativo e criativo das pessoas que se encontram nas situações
difíceis, como possíveis protagonistas ativos da mudança: não em forma
de luta violenta, mas na forma de crescimento da solidariedade e da
justiça. Isto parece-me o significado muito importante do discurso do
Papa aos Movimentos Populares e, em certa medida, o significado também
desta viagem e dos gestos de solidariedade do Papa para com estas
populações. Atitudes que são propostas a nível também das dinâmicas do
desenvolvimento mundial. Por isto, parece-me muito significativo que o
regresso do Papa ao seu continente e a sua sensibilidade à participação e
à compreensão profunda e positiva da realidade do que é o povo – de um
ponto de vista quer geral, quer também especificamente cristão – seja
uma contribuição extremamente importante para a reflexão da Igreja
universal e também da humanidade”. (RS)
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