Testes nucleares
A Santa Sé está convencida de que os tratados são “vitais na arquitetura do desarmamento nuclear” e completam-se reciprocamente a fim de construir um mundo sem armas nucleares.
Amedeo Lomonaco/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
O observador permanente da Santa Sé na ONU, em Nova Iorque, dom Bernardito Auza, participou da 74ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (22/10), sobre os armamentos nucleares.
“Vivemos tempos tumultuados e talvez não haja ameaças mais graves do
que as encontradas no campo do desarmamento nuclear. Os tratados são
revogados e violados, o sistema de controle de armamentos enfraqueceu
mais do que antes”, disse o arcebispo filipino no seu discurso.
A corrida aos armamentos nucleares foi renovada e as inovações
tecnológicas “tornam difícil a monitorização internacional. A humanidade
tem a responsabilidade de proteger a Terra, a nossa Casa comum, da força
destruidora das armas nucleares. Os Estados não devem poupar esforços
para eliminar as armas nucleares e o desarmamento geral e completo a fim
de que a família humana possa experimentar os frutos da paz”.
Os tratados são vitais para o desarmamento
Os tratados são vitais para o desarmamento
Dom Auza recordou a Encíclica “Pacem in terris” do Papa João XXIII. “Não tem sentido dizer que a guerra possa ser usada como instrumento de justiça.” É com esta convicção que a Santa Sé ratificou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares e, mais recentemente, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares”, ressalvou o prelado. A Santa Sé está convencida de que estes tratados são “vitais na arquitetura do desarmamento nuclear” e completam-se reciprocamente a fim de cinstruir um mundo sem armas nucleares.
São necessários diálogo e confiança
Para que a promessa dos tratados se realize plenamente, é preciso trabalhar incansavelmente a fim de restabelecer o diálogo e combater a falta de confiança, que infelizmente marcam a situação atual em relação ao processo de desarmamento. A conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que se realizará em 2020, será uma ocasião importante a fim de restaurar o diálogo e reconstruir”, concluiu dom Auza.
Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares
Aprovado pela Assembleia Geral da ONU, em 1968, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares entrou em vigor em 5 de março de 1970. Estabelece que os Estados em posse de armamentos nucleares devem comprometer-se a procurar um desarmamento generalizado e total. Os países que não possuem armas nucleares também se comprometem a não adotar tais armas. O Tratado também estabelece que a transferência de material e tecnologias nucleares usados para fins pacíficos deve ocorrer sob o controle estrito da Agência Internacional de Energia Atómica.
Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares
Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de setembro de
1996, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares ainda não
entrou em vigor. Prevê a obrigação de não realizar nenhum teste nuclear.
Para garantir a sua implementação, é estabelecido que, após a entrada em
vigor do Tratado, seja criada uma organização internacional especial: a
“Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares”.
Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
Aprovado em 2017, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
torna ilegal o uso, a ameaça, a posse e o estacionamento de armas
nucleares. Entrará em vigor 90 dias após a ratificação de pelo menos 50
Estados.
Papa: armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas
Papa: armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas
O Papa Francisco deteve-se várias vezes no tema do desarmamento
nuclear. Ao receber os membros do Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé, em 7 de janeiro passado, sublinhou que a ameaça do uso de
armas atómicas deve ser condenada firmemente: “De modo especial preocupa
o facto de que o desarmamento nuclear, amplamente almejado e em parte
perseguido nas últimas décadas, esteja agora a dar lugar à pesquisa de
novas armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas. Por conseguinte,
mesmo considerando o risco de uma explosão acidental dessas armas por um erro de qualquer tipo, deve ser condenada com firmeza a ameaça do
seu uso - diria, a imoralidade do seu uso - assim como a sua posse,
precisamente porque a sua existência é funcional à lógica de medo que
não diz respeito apenas às partes em conflito, mas a todo o género
humano.”
Foto de Joseph Roger O'Donnell, Nagasaki 1945
O fruto da guerra
A foto acima foi tirada, em 1945. Interpela e abala as consciências.
Mostra um garoto de 10 anos carregando nos ombros o corpo do seu
irmãozinho morto depois da explosão da bomba atómica em Nagasaki. A
imagem abalou fortemente o Papa Francisco, que em 2017, quis
reproduzi-la num cartão. A fotografia é acompanhada pelo comentário “...
o fruto da guerra” e sua assinatura manuscrita. A foto foi realizada
pelo fotógrafo sia Estados Unidos, Joseph Roger O'Donnell, enviado após as
explosões nucleares às duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki,
devastadas pela bomba atómica. Em Nagasaki, ele vê dois meninos. Um
parece dormir nos ombros do outro. Na realidade está morto. O seu irmão,
com um rosto que mostra um sofrimento digno, está a esperar para que
seja cremado. A foto tornou-se um símbolo trágico da ferocidade da
guerra e do poder destruidor das armas nucleares.
VN
Sem comentários:
Enviar um comentário