23 outubro, 2019

Santa Sé: que a humanidade proteja a Terra da força das armas nucleares


Testes nucleares

A Santa Sé está convencida de que os tratados são “vitais na arquitetura do desarmamento nuclear” e completam-se reciprocamente a fim de construir um mundo sem armas nucleares. 

Amedeo Lomonaco/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano 

O observador permanente da Santa Sé na ONU, em Nova Iorque, dom Bernardito Auza, participou da 74ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (22/10), sobre os armamentos nucleares.

“Vivemos tempos tumultuados e talvez não haja ameaças mais graves do que as encontradas no campo do desarmamento nuclear. Os tratados são revogados e violados, o sistema de controle de armamentos enfraqueceu mais do que antes”, disse o arcebispo filipino no seu discurso.

A corrida aos armamentos nucleares foi renovada e as inovações tecnológicas “tornam difícil a monitorização internacional. A humanidade tem a responsabilidade de proteger a Terra, a nossa Casa comum, da força destruidora das armas nucleares. Os Estados não devem poupar esforços para eliminar as armas nucleares e o desarmamento geral e completo a fim de que a família humana possa experimentar os frutos da paz”.

Os tratados são vitais para o desarmamento 

Dom Auza recordou a Encíclica “Pacem in terris” do Papa João XXIII. “Não tem sentido dizer que a guerra possa ser usada como instrumento de justiça.” É com esta convicção que a Santa Sé ratificou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares e, mais recentemente, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares”, ressalvou o prelado. A Santa Sé está convencida de que estes tratados são “vitais na arquitetura do desarmamento nuclear” e completam-se reciprocamente a fim de cinstruir um mundo sem armas nucleares. 

São necessários diálogo e confiança 

Para que a promessa dos tratados se realize plenamente, é preciso trabalhar incansavelmente a fim de restabelecer o diálogo e combater a falta de confiança, que infelizmente marcam a situação atual em relação ao processo de desarmamento. A conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que se realizará em 2020, será uma ocasião importante a fim de restaurar o diálogo e reconstruir”, concluiu dom Auza.

Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares

Aprovado pela Assembleia Geral da ONU, em 1968, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares entrou em vigor em 5 de março de 1970. Estabelece que os Estados em posse de armamentos nucleares devem comprometer-se a procurar um desarmamento generalizado e total. Os países que não possuem armas nucleares também se comprometem a não adotar tais armas. O Tratado também estabelece que a transferência de material e tecnologias nucleares usados para fins pacíficos deve ocorrer sob o controle estrito da Agência Internacional de Energia Atómica. 

Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de setembro de 1996, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares ainda não entrou em vigor. Prevê a obrigação de não realizar nenhum teste nuclear. Para garantir a sua implementação, é estabelecido que, após a entrada em vigor do Tratado, seja criada uma organização internacional especial: a “Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares”.

Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares

Aprovado em 2017, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares torna ilegal o uso, a ameaça, a posse e o estacionamento de armas nucleares. Entrará em vigor 90 dias após a ratificação de pelo menos 50 Estados.

Papa: armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas

O Papa Francisco deteve-se várias vezes no tema do desarmamento nuclear. Ao receber os membros do Corpo Diplomático credenciado junto da Santa Sé, em 7 de janeiro passado, sublinhou que a ameaça do uso de armas atómicas deve ser condenada firmemente: “De modo especial preocupa o facto de que o desarmamento nuclear, amplamente almejado e em parte perseguido nas últimas décadas, esteja agora a dar lugar à pesquisa de novas armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas. Por conseguinte, mesmo considerando o risco de uma explosão acidental dessas armas  por um erro de qualquer tipo, deve ser condenada com firmeza a ameaça do seu uso - diria, a imoralidade do seu uso - assim como a sua posse, precisamente porque a sua existência é funcional à lógica de medo que não diz respeito apenas às partes em conflito, mas a todo o género humano.”

 Foto de Joseph Roger O'Donnell, Nagasaki 1945

O fruto da guerra 

A foto acima foi tirada, em 1945. Interpela e abala as consciências. Mostra um garoto de 10 anos carregando nos ombros o corpo do seu irmãozinho morto depois da explosão da bomba atómica em Nagasaki. A imagem abalou fortemente o Papa Francisco, que em 2017, quis reproduzi-la num cartão. A fotografia é acompanhada pelo comentário “... o fruto da guerra” e sua assinatura manuscrita. A foto foi realizada pelo fotógrafo sia Estados Unidos, Joseph Roger O'Donnell, enviado após as explosões nucleares às duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, devastadas pela bomba atómica. Em Nagasaki, ele vê dois meninos. Um parece dormir nos ombros do outro. Na realidade está morto. O seu irmão, com um rosto que mostra um sofrimento digno, está a esperar para que seja cremado. A foto tornou-se um símbolo trágico da ferocidade da guerra e do poder destruidor das armas nucleares.

VN

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