Crescer na fé. Sim, mas como? É o que pergunta o Papa no sétimo capítulo da “Christus vivit”, em que diz: os jovens amadurecem se for usada com eles "a linguagem da proximidade" e oferecem-se "locais apropriados" para fazer experiência. Tamandani Kamuyanja, jovem de 25 anos do Malauí, confirma. A entrada num Movimento eclesial, garante ela, ensinou-lhe a amar o Evangelho.
209. Queria apenas assinalar, brevemente, que a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas de ação. Uma é a busca, a convocação, o chamamento que atraia novos jovens para a experiência do Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram esta experiência.
210. Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem organizar festivais, competições desportivas, e sabem também evangelizar nas redes sociais com mensagens, canções, vídeos e outras intervenções. Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem.
211. Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximarem-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo. A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, esforçam-se por viver coerentemente com a sua fé. Ao mesmo tempo, devemos procurar, ainda com maior sensibilidade, como encarnar o querigma na linguagem dos jovens de hoje.
212. Quanto ao crescimento, quero fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou no seu coração, propõe-lhes encontros de «formação» onde se abordam apenas questões doutrinais e morais: sobre os males do mundo atual, sobre a Igreja, a doutrina social, sobre a castidade, o matrimónio, o controle da natalidade e sobre outros temas. Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos. Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande quantidade de conteúdos doutrinais e procuremos, antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a vida cristã. Como dizia Romano Guardini, «na experiência dum grande amor (…), tudo o que acontece transforma-se num episódio interno àquela».[112]
213. Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço.
214. Sobre isto, insisti muito na Exortação Evangelii gaudium e acho que seria oportuno lembrá-lo. Por um lado, seria um erro grave pensar que, na pastoral juvenil, «o querigma é deixado de lado a favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há algo mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que este anúncio. Toda a formação cristã é, em primeiro lugar, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne».[113] Por isto, a pastoral juvenil deveria incluir sempre momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fá-lo-á valendo-se de vários recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos através das redes sociais. Mas nunca se deverá substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie de «doutrinação».
215. Além disto, qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliarrm-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximarrm-se dos pobres. Se o amor fraterno é o «novo mandamento» (Jo 13, 34), «o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 10) e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens.
Ambientes adequados
216. Em todas as nossas instituições, devemos desenvolver e reforçar muito mais a nossa capacidade de receção cordial, porque muitos dos jovens que chegam encontram-se numa situação profunda de orfandade. E não me refiro a certos conflitos familiares, mas a uma experiência que atinge igualmente crianças, jovens e adultos, mães, pais e filhos. Para muitos órfãos e órfãs, nossos contemporâneos – talvez para nós mesmos –, comunidades como a paróquia e a escola deveriam oferecer percursos de amor gratuito e promoção, de afirmação e crescimento. Hoje, muitos jovens sentem-se filhos do fracasso, porque os sonhos dos seus pais e avós acabaram queimados na fogueira da injustiça, da violência social, do «salve-se quem puder». Quanto desenraizamento! Se os jovens cresceram num mundo de cinzas, não é fácil para eles sustentar o fogo de grandes ilusões e projetos. Se cresceram num deserto vazio de sentido, como poderão ter vontade de se sacrificar para semear? A experiência de descontinuidade, desenraizamento e queda das certezas basilares, favorecida pela cultura mediática atual, provoca esta sensação de profunda orfandade à qual devemos responder, criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver.
217. Criar «lar» é, em última análise, «criar família; é aprender a sentir-se unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, unidos de modo a sentir a vida um pouco mais humana. Criar lares, “casas de comunhão”, é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, menos indiferentes e anónimos. É criar laços que se constroem com gestos simples, diários e que todos podemos realizar. Como todos sabemos muito bem, um lar precisa da colaboração de todos. Ninguém pode ficar indiferente ou alheio, porque cada qual é uma pedra necessária na sua construção. Isto implica pedir ao Senhor que nos conceda a graça de aprender a ter paciência, aprender a perdoar-nos; aprender em cada dia a recomeçar. E quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes sete, todas as vezes que for necessário. Criar laços fortes requer a confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão. Deste modo concretiza-se o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo; aqui todos nascemos de novo, porque sentimos a eficácia da carícia de Deus que nos permite sonhar o mundo mais humano e, consequentemente, mais divino».[114]
218. Neste contexto, é preciso oferecer lugares apropriados aos jovens, nas nossas instituições: lugares que eles possam gerir a seu gosto, com a possibilidade de entrar e sair livremente, lugares que os acolham e onde lhes seja possível encontrarem-se, espontânea e confiadamente, com outros jovens tanto nos momentos de sofrimento ou de aborecimento como quando desejam festejar as suas alegrias. Algo do género foi realizado por alguns oratórios e outros centros juvenis, que em muitos casos são o ambiente onde os jovens vivem experiências de amizade e enamoramento, onde se encontram e podem partilhar música, atividades recreativas, desporto e também a reflexão e a oração com pequenos subsídios e várias propostas. Assim abre caminho àquele indispensável anúncio de pessoa a pessoa, que não pode ser substituído por nenhum recurso ou estratégia pastoral.
219. «A amizade e o intercâmbio, frequentemente mesmo em grupos mais ou menos estruturados, possibilita reforçar competências sociais e relacionais num contexto onde não se sentem avaliados nem julgados. A experiência de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e a ajuda mútua no testemunho. Os jovens são capazes de guiar outros jovens, vivendo um verdadeiro apostolado no meio dos seus próprios amigos».[115]
220. Isto não significa que se isolem e percam todo o contacto com as comunidades paroquiais, os movimentos e outras instituições eclesiais. Mas os jovens inserir-se-ão melhor em comunidades abertas, vivas na fé, desejosas de irradiar Jesus Cristo, alegres, livres, fraternas e comprometidas. Tais comunidades podem ser os canais que os levam a sentir que é possível cultivar relações preciosas.
210. Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem organizar festivais, competições desportivas, e sabem também evangelizar nas redes sociais com mensagens, canções, vídeos e outras intervenções. Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem.
211. Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximarem-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo. A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, esforçam-se por viver coerentemente com a sua fé. Ao mesmo tempo, devemos procurar, ainda com maior sensibilidade, como encarnar o querigma na linguagem dos jovens de hoje.
212. Quanto ao crescimento, quero fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou no seu coração, propõe-lhes encontros de «formação» onde se abordam apenas questões doutrinais e morais: sobre os males do mundo atual, sobre a Igreja, a doutrina social, sobre a castidade, o matrimónio, o controle da natalidade e sobre outros temas. Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos. Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande quantidade de conteúdos doutrinais e procuremos, antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a vida cristã. Como dizia Romano Guardini, «na experiência dum grande amor (…), tudo o que acontece transforma-se num episódio interno àquela».[112]
213. Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço.
214. Sobre isto, insisti muito na Exortação Evangelii gaudium e acho que seria oportuno lembrá-lo. Por um lado, seria um erro grave pensar que, na pastoral juvenil, «o querigma é deixado de lado a favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há algo mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que este anúncio. Toda a formação cristã é, em primeiro lugar, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne».[113] Por isto, a pastoral juvenil deveria incluir sempre momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fá-lo-á valendo-se de vários recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos através das redes sociais. Mas nunca se deverá substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie de «doutrinação».
215. Além disto, qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliarrm-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximarrm-se dos pobres. Se o amor fraterno é o «novo mandamento» (Jo 13, 34), «o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 10) e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens.
Ambientes adequados
216. Em todas as nossas instituições, devemos desenvolver e reforçar muito mais a nossa capacidade de receção cordial, porque muitos dos jovens que chegam encontram-se numa situação profunda de orfandade. E não me refiro a certos conflitos familiares, mas a uma experiência que atinge igualmente crianças, jovens e adultos, mães, pais e filhos. Para muitos órfãos e órfãs, nossos contemporâneos – talvez para nós mesmos –, comunidades como a paróquia e a escola deveriam oferecer percursos de amor gratuito e promoção, de afirmação e crescimento. Hoje, muitos jovens sentem-se filhos do fracasso, porque os sonhos dos seus pais e avós acabaram queimados na fogueira da injustiça, da violência social, do «salve-se quem puder». Quanto desenraizamento! Se os jovens cresceram num mundo de cinzas, não é fácil para eles sustentar o fogo de grandes ilusões e projetos. Se cresceram num deserto vazio de sentido, como poderão ter vontade de se sacrificar para semear? A experiência de descontinuidade, desenraizamento e queda das certezas basilares, favorecida pela cultura mediática atual, provoca esta sensação de profunda orfandade à qual devemos responder, criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver.
217. Criar «lar» é, em última análise, «criar família; é aprender a sentir-se unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, unidos de modo a sentir a vida um pouco mais humana. Criar lares, “casas de comunhão”, é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, menos indiferentes e anónimos. É criar laços que se constroem com gestos simples, diários e que todos podemos realizar. Como todos sabemos muito bem, um lar precisa da colaboração de todos. Ninguém pode ficar indiferente ou alheio, porque cada qual é uma pedra necessária na sua construção. Isto implica pedir ao Senhor que nos conceda a graça de aprender a ter paciência, aprender a perdoar-nos; aprender em cada dia a recomeçar. E quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes sete, todas as vezes que for necessário. Criar laços fortes requer a confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão. Deste modo concretiza-se o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo; aqui todos nascemos de novo, porque sentimos a eficácia da carícia de Deus que nos permite sonhar o mundo mais humano e, consequentemente, mais divino».[114]
218. Neste contexto, é preciso oferecer lugares apropriados aos jovens, nas nossas instituições: lugares que eles possam gerir a seu gosto, com a possibilidade de entrar e sair livremente, lugares que os acolham e onde lhes seja possível encontrarem-se, espontânea e confiadamente, com outros jovens tanto nos momentos de sofrimento ou de aborecimento como quando desejam festejar as suas alegrias. Algo do género foi realizado por alguns oratórios e outros centros juvenis, que em muitos casos são o ambiente onde os jovens vivem experiências de amizade e enamoramento, onde se encontram e podem partilhar música, atividades recreativas, desporto e também a reflexão e a oração com pequenos subsídios e várias propostas. Assim abre caminho àquele indispensável anúncio de pessoa a pessoa, que não pode ser substituído por nenhum recurso ou estratégia pastoral.
219. «A amizade e o intercâmbio, frequentemente mesmo em grupos mais ou menos estruturados, possibilita reforçar competências sociais e relacionais num contexto onde não se sentem avaliados nem julgados. A experiência de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e a ajuda mútua no testemunho. Os jovens são capazes de guiar outros jovens, vivendo um verdadeiro apostolado no meio dos seus próprios amigos».[115]
220. Isto não significa que se isolem e percam todo o contacto com as comunidades paroquiais, os movimentos e outras instituições eclesiais. Mas os jovens inserir-se-ão melhor em comunidades abertas, vivas na fé, desejosas de irradiar Jesus Cristo, alegres, livres, fraternas e comprometidas. Tais comunidades podem ser os canais que os levam a sentir que é possível cultivar relações preciosas.
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