Sínodo dos Bispos (Vatican Media)
A 11ª Congregação
Geral do Sínodo dos Bispos dedicado à região Pan-Amazónica teve início
às 9h da manhã desta terça-feira (hora local), na Sala sinodal, no
Vaticano, com a oração da Hora Média na presença do Papa Francisco. Os
trabalhos deste dia são guiados pelo presidente Delegado, o cardeal
brasileiro, Dom João Braz de Aviz.
Sivonei José – Cidade do Vaticano
Como ocorre todos os dias os trabalhos sinodais têm inicio com a
oração comum e com uma reflexão proposta por um dos padres sinodais.
Nesta terça-feira a meditação foi proposta pelo arcebispo metropolitanto
de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Com o título “Chamados filhos de Deus”, Dom Walmor iniciou a sua
reflexão com uma pergunta: “Como pode o amor de Deus permanecer nele?
Esta é a interpelante pergunta respondida por São João no terceiro
capítulo de sua primeira carta. A resposta a esta pergunta é a questão
central na construção da autenticidade no seguimento de Jesus. O
discípulo e a discípula são remetidos a uma verificação do tecido que
configura o núcleo mais íntimo do seu ser. A referência ao coração, a
estação da interioridade, muito além de qualquer possível e arriscado
intimismo, é pôr-se em corajoso exercício de análise e levantamentos a
respeito da constituição misericordiosa de si mesmo.
O coração do discípulo – continuou o arcebispo de Belo Horizonte – “é
visceralmente constituído dos sentimentos norteadores da competência de
ver o outro e a ele não se fechar, mas sobre ele debruçar-se,
comovendo-se, para atender-lhes demandas à luz do conhecimento deassuas
necessidades e carências”.
Falando da compaixão, afirmou que a mesma “é o selo, único e
insubstituível selo da autenticidade, cujas raízes da exemplaridade se
encontram no modo de ser do Mestre Jesus, aquele que tem compaixão dos
seus, ovelhas sem pastor, consciente da sua missão de ungido e enviado
para anunciar a boa nova aos pobres, anunciar-lhes o ano da graça, em
vez de cinzas, o óleo da alegria”.
Ao discípulo é indicado o caminho da resposta à inquietante
interrogação, "como pode o amor de Deus permanecer nele?" Uma
interrogação que há de ser o mais significativo incómodo existencial no
processo diário de qualificação discipular.
Põe-se em questão uma indispensável envergadura - disse o arcebispo -
que é projeto divino em nós. O princípio é lembrado: (1J0 3,1) "Vede
que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de
Deus! E nós o somos. Esta é a moldura da interpelação existencial posta
pela palavra de Deus agora proclamada.
Dom Walmor continuou afirmando que “um holofote aceso iluminando a
consciência humana interpela à percepção e impacto da tua condição,
filho de Deus, considerado o presente grande dado pelo pai: somos
chamados filhos de Deus. E nós o somos”.
Esta condição gratuita e amorosa impulsion-se pelo princípio do amor
cuja lógica há-de ser considerada como condição para fomentar o novo em
lugar do velho que corrompe:(1 Jo 4,10-11) "10. Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu
Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados.
"Pois esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos
uns aos outros." Só esta é a escolha possível. Não há outra. A outra
opção possível é o pecado. Ora, aquele que pratica o pecado é do diabo,
porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de
Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo". (1 Jo 3,10-13)
"Nisto se revela quem é filho de Deus e quem é filho do diabo: todo
aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como também não é de
Deus quem não ama o seu irmão. Pois esta é a mensagem que ouvistes desde
o início: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que, sendo do
Maligno, matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram
más, ao passo que as do seu irmão eram justas.
Clareia o horizonte interpelativo diário para nos incomodar e,
amparados e fecundados pela graça de Deus, - sublinhou o presidente da
CNBB - darmos conta do que nos compete, exatamente em contramão do
"possuir riquezas neste mundo e ver o nosso irmão passar necessidade, mas
diante dele fechar o nosso coração. Somos desafiados a uma finesse
relacional de modo a que não amemos só com palavras e de boca, mas por
ações e na verdade. A verdade de Cristo é a sua compaixão, as suas entranhas
de misericórdia.
E sempre exigente, porque diária e de todo momento, a tarefa de
conseguir estar, existencialmente, dentro do princípio da qualificada
filiação divina: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos
amou. Não há outra alternativa senão amar de verdade, correndo sempre o
risco de ser dada por descontada, por justificações ou comodidades, por
incompetência relacional ou entupimentos humano afetivos, por
estreitezas ou por mesquinhez. Nenhuma condição humana, com as
circunstâncias que a configuram, está isenta do distanciamento do amor
de verdade.
O arcebispo de Belo Horizonte também recordou o dia em que a Igreja
faz memória de Santa Teresa, virgem e doutora da Igreja. “Parece
oportuno reportar-nos ao que ela indica como exercício vivencial diário,
o que constitui a dinâmica da primeira morada do Castelo
Interior/Moradas, uma de suas obras clássicas: Ela descreve a primeira
morada com a indicação de duas dinâmicas sempre e permanentemente
fundamentais na conquista e manutenção da qualificação da condição de
filhos e filhas de Deus, discípulos e discípulas de Jesus, para a
competência de amar de verdade: Conhece-te a ti mesmo e a Humildade.
Ela lembra que mesmo tendo alcançado, permanente ou momentaneamente, o
matrimónio espiritual, intimidade fecunda no amor de Deus, por
limitação do humano, escorregamos e caímos no estágio sempre em primeiro lugar
que requer exercitar a humildade e o conhecimento de ti mesmo. Ninguém
pode alimentar a pretensão de ter ultrapassado o estágio deste exercício
espiritual diário sob pena de ilusão, endurecimento que entope e produz
a dureza de coração que prejudica os pobres, faz sombra à razão, faz
gostar de títulos, privilégios e dos primeiros lugares, deixando-se
levar pela disputa ou tomado por indiferenças, incapacitando para o
alcance de percepções para gestos concretos de solidariedade,
desapego, simplicidade.
Ao contrário, alimentando à semelhança do coração dos fariseus um
coração duro, o gosto pelas filacterias, amigos do dinheiro,
distanciados também da misericórdia, da justiça e da verdade. “Santa
Madre Teresa – concluiu Dom Walmor - indica-nos este fecundo caminho,
como exercício espiritual e existencial permanente, conhecermo-nos a snós mesmos e a humildade para qualificar a nossa cidadania e nos oportunizar,
fecundados pela graça de Deus, para conquistar a envergadura de verdadeiros
filhos e filhas de Deus, dando tecido bom à nossa cidadania, com força
de testemunho transformador e profética atuação no mundo testemunhando o
Reino”.
VN
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