26 outubro, 2019

Papa: as diagnoses feitas pelo Sínodo são a sua vitória

 
 Papa Francisco encerra os trabalhos sinodais
 
Francisco fez uma longa análise sobre o Sínodo, pedindo que se dê atenção ao conjunto do que foi feito e não nos percamos em "miudezas".
 
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano

Depois de participar ativamente nas três semanas de trabalhos sinodais, o Papa Francisco tomou a palavra no final da tarde deste sábado para se dirigir a todos os participantes e encerrar as sessões.

Como é seu estilo, falou a partir da sua experiência, partilhando a sua perspectiva e revelando algumas decisões.

Antes de tudo, agradeceu a todos pelo testemunho de “trabalho, escuta e busca” por colocar em prática o “espírito sinodal”. “Estamos sempre a perceber mais o que é este caminhar juntos e estamos tamém a entender o que significa discernir, o que significa escutar, o que significa incorporar a rica tradição da Igreja nos momentos conjunturais”.

Exortação pós-sinodal

Francisco citou o compositor austríaco Gustav Mahler, que dizia que a tradição é a salvaguarda do futuro e não a custódia das cinzas. E confidenciou que ainda não tomou uma decisão sobre o tema do próximo Sínodo, que pode ser precisamente o da sinodalidade, já que foi um dos três temas que recebeu votação maioritária.

Sobre a Exortação pós-sinodal, o Papa recordou que não é obrigatória, que o mais simples seria dizer: “Eis aqui o documento, vejam vocês”. “Em todo caso, uma palavra do Papa sobre o que se viveu no Sínodo pode ser uma boa coisa e gostaria de fazê-lo antes do final do ano, de modo que não passe muito tempo.”

As quatro dimensões

O Pontífice falou na sequência sobre as quatro dimensões tratadas no Sínodo Amazónico: cultural, ecológica, social e pastoral.

Quanto à primeira, foram abordados temas como a inculturação, a valorização das culturas e a tradição. Sobre a segunda, o Papa manifestou a sua admiração pelo Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, um dos pioneiros na conscientização do problema ecológico e da exploração compulsiva, da qual a Amazónia é um dos alvos principais.

Já a dimensão social chama em causa a exploração das pessoas e a destruição da identidade cultural. A quarta dimensão – a pastoral – é  “a principal”. “O anúncio do Evangelho é urgente, urgente. Porém, que seja entendido, assimilado e compreendido por essas culturas.” Para Francisco, uma das expressões fundamentais é “criatividade nos novos ministérios”, inspirados emMinisteria Quaedam de Paulo VI.

O Papa assumiu o compromisso de reforçar a Comissão para o estudo do diaconato permanente. “V´s sabeis que se chegou a um acordo entre todos que não era claro. (…) Recolho o desafio que foi lançado: “que sejamos ouvidas”… recolho este desafio”, disse Francisco no meio aos aplausos.

Outro tema mencionado pelo Pontífice foi “reforma”: para a formação sacerdotal, para o zelo apostólico e para a redistribuição do clero, inclusive entre continentes. A este ponto, fez um agradecimento aos verdadeiros sacerdotes “fidei donum” que “não se apaixonam pelo Primeiro Mundo”.

Mulheres, reformas e ritos

Francisco falou também da mulher: “Nós não nos damos conta do que significa a mulher na Igreja.” O seu papel vai muito além da “parte funcional”, afirmou mais uma vez entre aplausos.

A Rede Eclesial Pan-amazónica (Repam) também foi mencionada como modelo a seguir para uma “semi-conferência episcopal” para a região ou um “Celam amazónico” (Conselho Episcopal Latino-americano). Outra sugestão, desta vez dentro da Cúria Romana, seria criar uma seção amazónica no Dicastério para a Promoção Humana Integral.

Quanto à abertura a novos ritos, Francisco disse que este aspeto cabe à Congregação para o Culto Divino e pode-se fazer seguindo certos critérios e “eu sei que se pode fazer muito bem e fazer as propostas necessárias para a inculturação”.

Elite católica

Por fim, os agradecimentos a quem trabalhou “escondido” nas secretarias e também aos meios de comunicação. Aos profissionais da imprensa, um conselho: do Documento final, ressalta sobretudo a parte da “diagnose” feita, porque “é realmente a parte em que o Sínodo mais se expressou: diagnose cultural, social, pastoral, ecológica, porque a sociedade deve assumir a sua responsabilidade.

Mais importante do que saber o que foi decidido sobre um aspeto particular, disciplinar, ou “qual partido venceu”, é saber que “todos vencemos com as diagnoses feitas e com o que foi avante nas questões pastorais e intereclesiásticas”.

Francisco falou de grupos da elite cristã, sobretudo católica, que se preocupam com “miudezas” e se esquecem das grandes coisas. A propósito, citou uma frase do escritor francês Charles Péguy: “Porque não têm a coragem de estar com o mundo, crêem estar com Deus. Porque não têm a coragem de comprometerem-se nas opções de vida do homem, crêem lutar por Deus. Porque não amam ninguém, crêem amar a Deus”.

Ao se desculparem pela “petulância”, o Papa concluiu de maneira “tradicional”: pedindo que rezem por ele.

VN

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