09 outubro, 2019

Papa: atacar um membro da Igreja é atacar o próprio Cristo

 
 
"A condição de raiva - porque Saulo estava com raiva - e a situação conflituosa de Saulo convida todos a perguntarem: como vivo a minha vida de fé? Vou de encontro aos outros ou sou contra os outros? Pertenço à Igreja universal (bons e maus, todos) ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro Deus ou adoro as formulas dogmáticas? Como é minha vida religiosa? A fé em Deus que professo torna-me amigável ou hostil para com aqueles que são diferentes de mim?"
 
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano

O Santo Padre encontrou-se na manhã desta quarta-feira (09/10) na Praça de São Pedro, no Vaticano, com milhares de fiéis e peregrinos, provenientes da Itália e de diversos países, para a habitual Audiência Geral.

Na sua catequese semanal, o Papa refletiu sobre o Apóstolo São Paulo, que se converteu de perseguidor a evangelizador. Este foi o instrumento que o Senhor escolheu.

Partindo deste trecho dos Atos dos Apóstolos, o Papa citou o episódio de apedrejamento de Santo Estevão, comparando-o a um jovem chamado Saulo, uma figura que, ao lado de Pedro, é a mais presente e incisiva nos Atos dos Apóstolos.

Saulo, disse Francisco, é descrito, no início, como alguém que aprovou a morte de Santo Estevão e queria "destruir a Igreja". Mas, depois, tornou-se o instrumento escolhido por Deus para proclamar o Evangelho às nações.

Com a autorização do Sumo Sacerdote, Saulo começou a perseguir e a prender os cristãos, pensando que estava a sevir a Lei do Senhor. E aqui o Papa recordou os perseguidos pelas ditaduras no mundo, e explicou:

O jovem Saulo é apresentado como uma pessoa intransigente, isto é, alguém intolerante com os que pensavam diferente dele, absolutiza a própria identidade política ou religiosa e reduz o outro a um inimigo potencial a ser combatido. Um ideólogo. Em Saulo, a religião é transformada em ideologia: ideologia religiosa, ideologia social, ideologia política”.

Somente depois de ter sido transformado por Cristo, ensinará então que a verdadeira batalha não é contra homens de carne e sangue, mas contras os dominadores deste mundo tenebroso e contra os espíritos do mal que inspiram as suas ações.

Aqui, Francisco convidou cada um a interrogar-se sobre como vive a própria fé:

"Vou de encontro ao outro ou sou contra os outros?  Pertenço à Igreja universal (bons e maus, todos) ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro a Deus ou adoro as fórmulas dogmáticas? Como é a minha vida religiosa? A fé em Deus que professo torna-me mais amigável ou hostil em relação a quem é diferente de mim?"

Mas enquanto Saulo tem a intenção de acabar com a comunidade cristã, o Senhor o segue para tocar o seu coração e convertê-lo a ele. "É o método do Senhor: toca no coração", recordou o Pontífice. O Ressuscitado, então, apareceu-lhe no caminho para Damasco, evento narrado três vezes no Livro dos Atos dos Apóstolos.

Pelo binómio "luz" e "voz", típico das teofanias - explica Francisco - o Ressuscitado aparece a Saulo e pede-lhe contas de sua fúria fratricida: "Saulo, Saulo, por que me persegues?":

"Aqui, o Ressuscitado manifesta o seu ser 'um só' com os que nele crêem: atacar um membro da Igreja é atacar o próprio Cristo! Também estes que são ideólogos, porque querem a "pureza" - entre aspas - da Igreja, atacam Cristo."

Levantando-se, Saulo não viu mais nada, pois tinha ficado cego; aquele homem forte, autoritário e independente tornou-se fraco, carente e dependente dos outros porque não enxergava. Aquele encontro com Cristo o ofuscou! E Francisco ponderou:

Daquele encontro ‘corpo a corpo’ entre Saulo e o Senhor Jesus Ressuscitado, tem início uma transformação que mostra a ‘Páscoa pessoal’ de Saulo, a sua passagem da morte para a vida: aquilo que antes era glória torna-se "lixo" a ser lançado fora, para adquirir o verdadeiro ganho que é Cristo e a vida nele".

Paulo recebe o Batismo, marcando para ele, assim como para cada um de nós, o início de uma vida nova, e é acompanhado por um novo olhar em relação a Deus, sobre si mesmo e sobre os outros, que de inimigos tornam-se agora irmãos em Cristo. 

O Papa concluiu a sua catequese pedindo ao Pai para que "faça experimentar também em nós, o impacto do seu amor, que somente pode fazer de um coração de pedra um coração de carne, capaz de acolher em si, os mesmos sentimentos de Cristo."

Ao términar a sua catequese semanal, o Santo Padre passou a saudar os grupos de peregrinos em diversas línguas, inclusive aos fiéis de língua portuguesa, concedendo a todos a sua Bênção Apostólica.



VN

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