08 outubro, 2019

Papa: atenção para não escolher a ideologia em lugar da fé


Papa Francisco - Missa na Capela da Casa de Santa Marta, esta manhã  (Vatican Media)

Adriana Masotti – Cidade do Vaticano 

A primeira leitura da liturgia do dia, extraída do Livro do profeta Jonas, prossegue a narração bíblica iniciada na segunda-feira (7) e que será concluída na quarta (8), em que se descreve a relação contraditória entre Deus e o próprio Jonas. O Papa busca o trecho precedente em que se lê o primeiro chamamento do Senhor que quer enviar o profeta a Nínive para pregar naquela cidade a conversão. Mas Jonas tinha desobedecido à ordem e  dirigiu-se para o lado oposto, distante do Senhor, porque aquela tarefa para ele era muito difícil.

Depois, ele embarcou para Társis e, durante a tempestade provocada pelo Senhor, foi jogado ao mar porque se sentia culpado daquele desastre, foi engolido por uma baleia e, então, após três dias e três noites, foi novamente jogado na praia. E Jesus, como disse Francisco, “pega nesta figura de Jonas no ventre do peixe durante três dias como a imagem da própria Ressureição”. 

Diante da conversão, Deus arrepende-se

Na leitura desta terça-feira, o segundo chamamento: Deus dirige-se de novo a Jonas e, desta vez, Jonas obedece, vai a Nínive e aquelas pessoas acreditam na sua palavra e querem converter-se tanto, que Deus “corrige-se em relação ao mal que tinha ameaçado fazer-lhes e não o faz”.

“O teimoso Jonas, porque esta é a história de um teimoso, o teimoso Jonas fez bem o próprio trabalho e depois foi-se embora”, comenta Francisco. Na quarta-feira (9) vamos ver como a história vai terminar, isto é, como Jonas fica irritado com o Senhor porque é muito misericordioso e porque cumpre o contrário daquilo que tinha ameaçado fazer pela boca do próprio profeta. Jonas repreende o Senhor:

Senhor, não era talvez isto que diziaa quando eu estava no meu país? Por este motivo apressei-me para fugir para Társis, porque sei que tu és um Deus misericordioso e piedoso, vagaroso em irar-se, de grande amor e que se arrepende em relação ao mal ameaçado. Mais ou menos, Senhor, tira-me a vida: eu contigo não quero mais trabalhar porque para mim é melhor morrer do que viver”, prossegue o Papa. É melhor morrer do que continuar este trabalho de profeta contigo que, no final, fazes o contrário daquilo que me mandaste fazer.

A indignação de Jonas pela misericórdia do Senhor

E ele sai da cidade, constrói uma cabana e de lá espera para ver o que o Senhor fará. Jonas esperava que Deus destruísse a cidade. O Senhor então fez crescer  um pé de mamona para lhe fazer sombra. Mas deica logo que um verme roa a raiz e ela seque. Jonas fica novamente indignado com Deus por aquele pé de mamona. “Tiveste compaixão de uma planta”, diz a ele o Senhor, pela qual não fizeste nenhum esforço,  e “eu não deveria ter compaixão de uma grande cidade como Nínive?”

Aquele diálogo entre o Senhor e Jonas é entre dois obstinados, observa o Papa:

Jonas, obstinado com as suas convicções de fé e o Senhor obstinado na sua misericórdia: ele nunca nos deixa. Bate na porta do coração até ao fim, está lá. Jonas, obstinado porque concebia a fé com condições; Jonas é o modelo daqueles cristãos "desde que", cristãos com condições. "Eu sou cristão, mas desde que as coisas sejam feitas assim" - "Não, não, estas mudanças não são cristãs" - "Isso é heresia" - "Isto não está certo" ... Cristãos que condicionam Deus, que condicionam a fé e a ação de Deus. 

Os cristãos "desde que" têm medo de crescer

Francisco enfatiza que é este "desde que" que faz com que tantos cristãos se fechem "nas próprias ideias e acabem na ideologia: é o mau caminho da fé para a ideologia". "E hoje existem tantos assim" -  prossegue o Papa - e esses cristãos têm medo: "de crescer, dos desafios da vida, dos desafios do Senhor, dos desafios da história", apegados "às suas convicções, às suas primeiras convicções, às suas próprias ideologias”.

São os cristãos que – afirma ainda o Pontífice - "preferem a ideologia à fé" e se afastam da comunidade", têm medo de se colocarem nas mãos de Deus e preferem julgar tudo, mas a partir da pequenez do próprio coração". E conclui:

As duas figuras da Igreja, hoje: a Igreja daqueles ideólogos que se escondem nas suas próprias ideologias, ali, e a Igreja que mostra o Senhor que se aproxima de todas as realidades, que não sente repugnância: as coisas não causam repugnância ao  Senhor, os nossos pecados não lhe são repugnantes. Ele aproxima-se para acariciar os leprosos, os doentes. Porque Ele veio para curar, veio para salvar, não para condenar.



VN

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