Deus, às vezes, até “exagera” no modo como nos toca! Hoje senti isso mesmo!
Era/É um Domingo como os outros, tirando o facto de ser Domingo de Ramos e
eu ser chamado pela paróquia a servir como Ministro Extraordinário da Comunhão.
Tudo bem e tudo normal!
Mas então começam alguns factos que já vinham de trás, pelo menos um deles.
Um grande amigo meu, um amigo do coração, depois de um caminho que começou
a fazer e continua a fazer, quis estar presente nesta Missa de Domingo de Ramos,
para, por pura amizade, receber das minhas mãos pecadoras, a Comunhão, que
marca para ele um recomeço, uma nova vida, um novo caminho alicerçado em Deus.
Claro, o meu coração sentimental, já antevia dificuldades de conter a
emoção, mas tudo bem, nada que não fosse possível viver e conter.
Depois o sacerdote celebrante, meu amigo, vizinho, e sobretudo companheiro
de oração, pediu-me para eu ser o narrador da Paixão de Cristo, ou seja, o Evangelho
do dia.
Mas tudo bem ainda!
O dia está de chuva, a celebração começa cá fora com a bênção dos ramos, e
eu penso e até digo com ironia saudável, a quem está ao meu lado: O padre que
abençoe as nuvens e assim a chuva, a água abençoada, irá cair sobre todos os
ramos e sobre todas as pessoas!
A celebração continua e canta-se de um modo profundamente tocante o Salmo:
«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste.»
Começa ser demais e a presença dEle tão forte ali, junto de todos, junto de
mim, abre as cisternas dos meus olhos e o mais disfarçadamente possível deixo
cair umas lágrimas.
Claro, apetece-me gritar: Eu amo-te, meu Senhor e meu Deus!
Depois vem a narração do Evangelho!
O meu coração já fragilizado começa a contrair-se, mas quando leio que Ele
começou a orar no Horto das Oliveiras e suou sangue, sinto dentro de mim que
Ele me diz para não adormecer eu também nos meus pecados, e a voz embarga-se-me,
e uma lágrima teimosa, incontrolável, decide aflorar aos meus olhos.
Preparo-me logo para o momento do «Dito isto, expirou!»
Engulo em seco, sinto-O ali, connosco, a dizer a cada um: Como Eu te amo,
minha filha e meu filho!
E tudo continua quando Ele se faz pão e vinho, ou faz do pão e vinho, o Seu
Corpo e Sangue, e apenas posso dizer: Meu Senhor e meu Deus!
E vem a Comunhão e o meu amigo aproxima-se de mim, olha-me nos olhos, e eu
vejo Cristo nEle e até ouso ver Cristo em mim, e dou-lhe o Senhor que assim se
faz alimento de vida nova.
Fecho os olhos com força e apetece-me dizer: Ai, Senhor, assim Tu “matas-me”
de amor!
Fico por aqui, nada mais escrevo, nada mais quero pensar, nem refletir, mas
apenas, Senhor, pensar como Te serves Tu de mim, pobre pecador, e assim me
enches o coração de gozo e alegria!
Ah, Senhor, Tu vieste mesmo para todos, vieste para os pecadores, nos quais
por Tua graça me incluo!
Marinha Grande, 20 de Março de 2016
Joaquim Mexia Alves
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