O Papa Francisco
aderiu ao apelo lançado em 24 de março pelo secretário-geral da ONU por
um cessar-fogo global e para que as forças estejam unidas no combate à
pandemia do coronavírus.
Vatican News
“Nos dias passados, o secretário-geral das Nações Unidas lançou um
apelo por um "cessar-fogo global e imediato em todas as partes do
mundo", recordando a atual emergência do COVID-19, que não conhece
fronteiras”, recordou o Papa Francisco, após rezar o Angelus neste V Domingo da Quaresma. O Pontífice então, lançou um apelo ao diálogo e aos esforços de paz:
Uno-me a todos os que acolheram esse apelo e convido todos a
segui-lo, interrompendo todas as formas de hostilidade bélica,
favorecendo a criação de corredores para ajuda humanitária, abertura à
diplomacia, a atenção àqueles que se encontram em situação de maior
vulnerabilidade. Que o esforço conjunto contra a pandemia possa levar
todos a reconhecer a nossa necessidade de fortalecer os laços fraternos
como membros de uma única família humana. Em particular, desperte nos
responsáveis das Nações e nas outras partes envolvidas, um renovado
compromisso em superar as rivalidades. Os conflitos não são resolvidos
por meio da guerra! É necessário superar antagonismos e os contrastes,
mediante o diálogo e uma construtiva procura da paz.
Pelas pessoas obrigadas a viver em grupos
Após, como já tinha feito no início da Missa celebrada em 11 de
março na capela da Casa de Santa Marta, o Papa recordou os encarcerados,
mas também, outras pessoas obrigadas a viver em grupos:
Neste momento o meu pensamento dirige-se de maneira especial a
todas as pessoas que sofrem a vulnerabilidade de serem forçadas a viverem
em grupo: casas de repouso, quartéis ... Em particular, gostaria de
mencionar as pessoas nas prisões. Li um relatório oficial da Comissão de
Direitos Humanos que fala sobre o problema das prisões superlotadas,
que poderiam tornar-se uma tragédia. Peço às autoridades que sejam
sensíveis a este grave problema e de tomar as medidas necessárias para
evitar futuras tragédias.
Apelo de Guterres pelo fim das guerras
Em 24 de março, o secretário geral das Nações Unidas, António
Guterres, tinha lançado um apelo para que fosse colocado um fim às
guerras e se combatesse a pandemia que assola o mundo.
As pessoas envolvidas nos conflitos armados no mundo" - disse
Guterres - "estão entre as mais vulneráveis" e "correm o risco maior de
padecer de um devastador sofrimento devido ao Covid-19".
Após o apelo, foram verificados os primeiros passos em direção a um
cessar fogo, com "tréguas humanitárias" em diversos países onde ainda
perduram sangrentos conflitos e violências internas, como no Iêmen, nas
Filipinas e em Camarões.
Sinais positivos também no nordeste da Síria, onde no sábado, 28, a
Comissão de investigação da ONU reiterou o pedido para que se evitasse
"piorar a tragédia", fazendo referência ao Covid-19 como uma "ameaça
mortal" para os civis sírios, e em particular para os 6,5 milhões de
deslocados dentro do país.
A guerra em pedaços
Na verdade, o cenário não deixa dúvidas. Há pelo menos setenta países
em todo o mundo envolvidos em algum tipo de guerra ou conflito interno.
Muitos deles esquecidos. Os nove anos de conflito na Síria, por
exemplo, já provocaram a morte de 380 mil pessoas, debilitando o sistema
de saúde local. Somente 64% dos hospitais e 52% dos centros de
assistência básica existentes antes de 2011 estão atualmente em
atividade, enquanto 70% dos profissionais de saúde abandonaram o país.
Conflitos internos flagelam a Líbia, Sudão, Somália, Nigéria, Burkina
Faso, Paquistão, Índia, Afeganistão, Iraque, Faixa de Gaza, Ucrânia. Na
Península coreana a tensão é sempre elevada. Nas últimas horas a Coreia
do Norte lançou dois mísseis balísticos nas águas entre a Península
coreana e o Japão. Depois há a guerra contra o tráfico de drogas,
principalmente em países da América Latina, onde no México, em
particular, são registradas milhares de mortes em cada ano.
Com coronavírus, maior facilidade de movimento para os "senhores da guerra"
E a emergência do coronavírus ameaça diminuir a atenção sobre estas
situações. Francesco Vignarca, coordenador da Rede Italiana do
Desarmamento, recordou ao Vatican News, que quando esta atenção é
desviada para outra coisa, “aqueles que agem em conflitos pelo seu
próprio interesse, os chamados senhores da guerra, obviamente movem-se
com maior facilidade. O risco é portanto, por um lado, que os mesmos
problemas de saúde também tenham impacto nestes mesmos países. E, por
outro, que aqueles que agem na guerra em seu próprio benefício o façam
de forma ainda mais violenta".
"Certamente, para alguns países - observa Francesco - o impacto do
coronavírus será provavelmente menor, pois infelizmente eles já têm
outros problemas de saúde, muitas vezes a fome ou problemas de acesso às
necessidades básicas. Mas o risco, é que o impacto os atinja". E cita.
por exemplo, o facto de que no Reino Unido há a controvérsia sobre a
redução da ajuda internacional humanitária, pois agora existe esta
emergência a ser enfrentada.
Oportunidade para repensar onde alocar os recursos
O coordenador da Rede Italiana do Desarmamento destaca que a situação
criada pela pandemia do coronavírus, também é uma oportunidade para
repensar onde alocar recursos. E recorda que os gastos militares em todo
o mundo ultrapassaram um trilião e 800 biliões de dólares em 2019. E
completa:
“Nestes dias, temos sublinhado como nos últimos anos as despesas
militares em Itália aumentaram, enquanto que as despesas com a saúde
diminuíram. Se quisermos evitar o impacto de problemas como o
coronavirus, ou outras situações como guerras, devemos manter a nossa
atenção elevada, mas acima de tudo mudar a direção dos nossos
investimentos e as opções no âmbito das escolhas públicas. Caso
contrário, questões como a Síria, que há 9 anos está em guerra de forma
dramática, como o Iêmen, que dentro de alguns dias irá, infelizmente,
celebrar entre aspas o aniversário de 5 anos de bombardeios, continuarão
a ocorrer."
VN
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