29 março, 2020

Francisco reitera apelo por cessar-fogo global

 
 
O Papa Francisco aderiu ao apelo lançado em 24 de março pelo secretário-geral da ONU por um cessar-fogo global e para que as forças estejam unidas no combate à pandemia do coronavírus.
 
Vatican News

“Nos dias passados, o secretário-geral das Nações Unidas lançou um apelo por um "cessar-fogo global e imediato em todas as partes do mundo", recordando a atual emergência do COVID-19, que não conhece fronteiras”, recordou o Papa Francisco, após rezar o Angelus neste V Domingo da Quaresma. O Pontífice então, lançou um apelo ao diálogo e aos esforços de paz:

Uno-me a todos os que acolheram esse apelo e convido todos a segui-lo, interrompendo todas as formas de hostilidade bélica, favorecendo a criação de corredores para ajuda humanitária, abertura à diplomacia, a atenção àqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade. Que o esforço conjunto contra a pandemia possa levar todos a reconhecer a nossa necessidade de fortalecer os laços fraternos como membros de uma única família humana. Em particular, desperte nos responsáveis das Nações e nas outras partes envolvidas, um renovado compromisso em superar as rivalidades.  Os conflitos não são resolvidos por meio da guerra! É necessário superar antagonismos e os contrastes, mediante o diálogo e uma construtiva procura da paz.

 
Pelas pessoas obrigadas a viver em grupos

Após, como já tinha feito no início da Missa celebrada em 11 de março na capela da Casa de Santa Marta, o Papa recordou os encarcerados, mas também, outras pessoas obrigadas a viver em grupos:

Neste momento o meu pensamento dirige-se de maneira especial a todas as pessoas que sofrem a vulnerabilidade de serem forçadas a viverem em grupo: casas de repouso, quartéis ... Em particular, gostaria de mencionar as pessoas nas prisões. Li um relatório oficial da Comissão de Direitos Humanos que fala sobre o problema das prisões superlotadas, que poderiam tornar-se uma tragédia. Peço às autoridades que sejam sensíveis a este grave problema e de tomar as medidas necessárias para evitar futuras tragédias. 

Apelo de Guterres pelo fim das guerras

Em 24 de março, o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, tinha lançado um apelo para que fosse colocado um fim às guerras e se combatesse a pandemia que assola o mundo.

As pessoas envolvidas nos conflitos armados no mundo" - disse Guterres - "estão entre as mais vulneráveis" e "correm o risco maior de padecer de um devastador sofrimento devido ao Covid-19".

Após o apelo, foram verificados os primeiros passos em direção a um cessar fogo, com "tréguas humanitárias" em diversos países onde ainda perduram sangrentos conflitos e violências internas, como no Iêmen, nas Filipinas e em Camarões.

Sinais positivos também no nordeste da Síria, onde no sábado, 28, a Comissão de investigação da ONU reiterou o pedido para que se evitasse "piorar a tragédia", fazendo referência ao Covid-19 como uma "ameaça mortal" para os civis sírios, e em particular para os 6,5 milhões de deslocados dentro do país. 

A guerra em pedaços

Na verdade, o cenário não deixa dúvidas. Há pelo menos setenta países em todo o mundo envolvidos em algum tipo de guerra ou conflito interno. Muitos deles esquecidos. Os nove anos de conflito na Síria, por exemplo, já provocaram a morte de 380 mil pessoas, debilitando o sistema de saúde local. Somente 64% dos hospitais e 52% dos centros de assistência básica existentes antes de 2011 estão atualmente em atividade, enquanto 70% dos profissionais de saúde abandonaram o país.

Conflitos internos flagelam a Líbia, Sudão, Somália, Nigéria, Burkina Faso, Paquistão, Índia, Afeganistão, Iraque, Faixa de Gaza, Ucrânia. Na Península coreana a tensão é sempre elevada. Nas últimas horas a Coreia do Norte lançou dois mísseis balísticos nas águas entre a Península coreana e o Japão. Depois há a guerra contra o tráfico de drogas, principalmente em países da América Latina, onde no México, em particular, são registradas milhares de mortes em cada ano.  

Com coronavírus, maior facilidade de movimento para os "senhores da guerra"

E a emergência do coronavírus ameaça diminuir a atenção sobre estas situações. Francesco Vignarca, coordenador da Rede Italiana do Desarmamento, recordou ao Vatican News, que quando esta atenção é desviada para outra coisa, “aqueles que agem em conflitos pelo seu próprio interesse, os chamados senhores da guerra, obviamente movem-se com maior facilidade. O risco é portanto, por um lado, que os mesmos problemas de saúde também tenham impacto nestes mesmos países. E, por outro, que aqueles que agem na guerra em seu próprio benefício o façam de forma ainda mais violenta".
 
"Certamente, para alguns países - observa Francesco - o impacto do coronavírus será provavelmente menor, pois infelizmente eles já têm outros problemas de saúde, muitas vezes a fome ou problemas de acesso às necessidades básicas. Mas o risco, é que o impacto os atinja". E cita. por exemplo, o facto de que no Reino Unido há a controvérsia sobre a redução da ajuda internacional humanitária, pois agora existe esta emergência a ser enfrentada.  

Oportunidade para repensar onde alocar os recursos

O coordenador da Rede Italiana do Desarmamento destaca que a situação criada pela pandemia do coronavírus, também é uma oportunidade para repensar onde alocar recursos. E recorda que os gastos militares em todo o mundo ultrapassaram um trilião e 800 biliões de dólares em 2019. E completa:

Nestes dias, temos sublinhado como nos últimos anos as despesas militares em Itália aumentaram, enquanto que as despesas com a saúde diminuíram. Se quisermos evitar o impacto de problemas como o coronavirus, ou outras situações como guerras, devemos manter a nossa atenção elevada, mas acima de tudo mudar a direção dos nossos investimentos e as opções no âmbito das escolhas públicas. Caso contrário, questões como a Síria, que há 9 anos está em guerra de forma dramática, como o Iêmen, que dentro de alguns dias irá, infelizmente, celebrar entre aspas o aniversário de 5 anos de bombardeios, continuarão a ocorrer."

VN

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