Na missa matutina,
Francisco convidou a rezar pelas pessoas que têm a responsabilidade de
tomar decisões diante da pandemia de coronavírus. Comentando o
Evangelho, disse que a indiferença não pode deixar que nos esqueçamos de
quem vive na dificuldade.
VATICAN NEWS
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O Papa Francisco continua a acompanhar-nos neste momento difícil com a
missa na capela da Casa de Santa Marta dedicada ao Espírito Santo. É a
quarta celebração eucarística via streaming (VÍDEO INTEGRAL). Esta manhã, na sua introdução, convidou a rezar em especial pelas autoridades
.
Continuamos a rezar juntos, neste momento de pandemia, pelos
doentes, pelos familiares, pelos pais com as crianças em casa… mas,
sobretudo, eu gostaria de pedir-vos que rezem pelas autoridades:
eles devem decidir e muitas vezes decidir medidas que não agradam o
povo. Mas é pelo nosso bem. E muitas vezes, a autoridade sente -se
sozinha. Rezemos pelos nossos governantes que devem tomar a decisão
sobre esses medidas: que se sintam acompanhados pela oração do povo.
Comentando o Evangelho do dia do rico opulento e do pobre Lázaro (Lc
16,19-31), o Papa exortou a não ser indiferente ao drama daqueles que,
sobretudo as crianças, sofrem da fome ou fogem das guerras e encontram
diante de si somente muros. Eis o texto da homilia transcrita pelo
Vatican News:
Esta narração de Jesus é muito clara; pode parecer uma narração
para crianças: é muito simples. Jesus nos quer indicar com isto não só
uma história, mas a possibilidade de que toda a humanidade viva assim,
que todos nós vivamos assim. Dois homens, um satisfeito, porque sabia vestir-se bem, talvez buscasse os grandes estilistas da época para se
vestir; usava roupas de púrpura e linho finíssimo. E depois vivia bem,
pois todos os dias oferecia esplêndidos banquetes. Ele era feliz assim.
Não tinha preocupações, tomava precauções, talvez alguma pílula contra o
colesterol para os banquetes, mas assim a vida ia bem. Estava
tranquilo.
À sua porta estava um pobre: que se chamava Lázaro. Ele sabia que o
pobre estava ali: ele o sabia. Mas parecia-lhe natural: “Eu vivo bem e
ele… mas assim é a vida, que se vire”. No máximo, talvez – o Evangelho
não diz – às vezes dava alguma coisa, algumas migalhas. E assim a vida
dessas duas pessoas passou. Ambos passaram pela Lei de todos nós:
morrer. Morreu o rico e morreu Lázaro. O Evangelho diz que Lázaro foi
levado ao Céu, ao lado de Abraão… Do rico diz somente: foi enterrado.
Ponto. E acaba.
Há duas coisas que impressionam: o facto de que o rico soubesse que
havia este pobre e que soubesse o seu nome, Lázaro. Mas não importava, parecia-lhe natural. O rico talvez fizesse também os seus negócios que,
no final, iam contra os pobres. Conhecia bem claramente, era informado
sobre esta realidade. E a segunda coisa que me impressiona muito é a
palavra “grande abismo” que Abraão diz ao rico. “Entre nós há um grande
abismo, não podemos comunicar; não podemos passar de uma parte à outra”.
É o mesmo abismo que na vida havia entre o rico e Lázaro: o abismo não
começou lá, o abismo começou aqui.
Pensei no qual seria o drama deste homem: o drama de ser muito,
muito informado, mas com o coração fechado. As informações deste homem
rico não chegavam ao coração, não sabia comover-se, não podia comover-se
diante do drama dos outros. Nem mesmo chamar um dos jovens que serviam o
banquete e dizer “leve isto, aquilo a ele…”. O drama da informação que
não chega ao coração. Isto acontece também a nós. Todos nós o sabemos,
porque vimos no telejornal, vimos nos jornais quantas crianças sofrem hoje no mundo pela
fome; quantas crianças não têm os remédios necessários;
quantas crianças não podem ir à escola. Continentes com este drama: nós o
sabemos. Pobrezinhos….e continuamos. Esta informação não chega ao
coração de muitos de nós, muitos grupos de homens e mulheres vivem este
distanciamento entre aquilo que pensam, aquilo que sabem e aquilo que
ouvem: o coração está separado da mente. São indiferentes. Assim como o
rico era indiferente à dor do Lázaro. Há um abismo da indiferença.
Em Lampedusa, quando fui pela primeira vez, veio-me à mente esta palavra: a
globalização da indiferença. Talvez hoje nós, aqui em Roma estamos
preocupados porque “parece que as lojas estão fechadas, eu tenho que
comprar isto, e parece que não posso passear todos os dias, e parece
que…”: preocupados com as minhas coisas. E esquecemo-nos das crianças
famintas, esquecemo-nos daquela pobre gente que nos confins dos países
buscam a liberdade, aqueles migrantes forçados que fogem da fome e da
guerra e encontram somente um muro, um muro feito de ferro, um muro de
arame farpado, mas um muro que não os deixa passar. Sabemos que isto
existe, mas não chega ao coração… Nós vivemos na indiferença: a
indiferença é este drama de estar bem informado, mas não sentir a
realidade dos outros. Este é o abismo: o abismo da indiferença.
Depois há outra coisa que impressiona. Aqui sabemos o nome do
pobre. A gente sabe. Lázaro. Também o rico sabia, porque quando estava
nos ínferos pede a Abraão que envie Lázaro. Ali o reconheceu: “Manda-me
ele”. Mas não sabemos o nome do rico. O Evangelho não diz como se
chamava este senhor. Não tinha nome. Tinha perdido o nome: tinha somente somente
os adjetivos da sua vida. Rico, poderoso… muitos adjetivos. Isto é o
que o egoísmo provoca em nós: faz perder a nossa identidade real, o
nosso nome, e somente nos leva a avaliar os adjetivos. A mundanidade ajuda-nos nisto. Caímos na cultura dos adjetivos, onde o seu valor é aquilo
que possui, aquilo que pode… Mas não “qual o seu nome?”: perdeu o nome.
A indiferença leva a isto. Perder o nome. Somos somente os ricos, somos
isto, somos aquilo. Somos os adjetivos.
Peçamos hoje ao Senhor a graça de não cair na indiferença, a graça
de que todas as informações das dores humanas que temos, cheguem ao
coração e nos levem a fazer algo pelos outros.
VN
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