Fecho os olhos e deixo-me
levar!
A barca da minha vida já há
muito tempo partiu, mas só agora, (o que é agora se pensar em eternidade?), me
dou conta de que inúmeras vezes ninguém comandou esta barca, ou melhor, fui eu,
que não sou ninguém, quem a comandou, e por isso tantas vezes fui ter a portos
inseguros, a tempestades horríveis, tantas vezes fui atingido por ventos que
dividem, navegando sem rumo, sem direcção, sem sentido.
Um dia entraste na minha barca
e calmamente tomaste o leme e navegaste por mares calmos, mas também
atravessaste ondas alterosas, abismos profundos, monstros inenarráveis, mas
sempre com o Teu sorriso terno, olhavas para mim e dizias com a voz repassada de amor: Não temas Eu estou
aqui!
Mas quantas vezes, apesar de
dizer com a boca que confiava em Ti, eu tirei o leme das Tuas mãos e me pus a
navegar, precipitando-me sempre em perigos constantes, até reconhecer que só Tu
sabes conduzir a minha barca e então gritava-Te, cheio de medo: Salva-me, Senhor!
E, no entanto, este passado
torna-se todos os dias presente: Tu a quereres-me salvar e eu a querer-me
convencer de que já me salvei!
Já mudei tantas coisas!
Já me libertei de tanto lixo!
Já abandonei tanta ideia
errada!
E, mesmo assim, continuo sem
saber navegar, ou melhor, sou inconstante na navegação!
Diz-me, Senhor, porque não
consigo eu libertar-me de mim próprio, para vazio de tudo ser quem Tu queres
que eu seja?
Pacientemente, como sempre,
tomas o leme novamente e dizes-me cheio de compaixão: Mas ainda não percebeste
que Eu te amo como tu és? Ainda não percebeste que cada vez que Me tiras o leme
da tua barca, Eu fico ao teu lado até Tu reconheceres que estás a navegar sem
rumo? Ainda não percebeste que toda essa luta diária és tu a fazer o que Eu
quero, ou seja, a tentares viver segundo a minha vontade?
Repousa agora por um pouco de
tempo que Eu vou-te levando a porto seguro!
Recosto-me na proa da minha
vida e adormeço a cantar baixinho: Eu me rendo, eu me rendo, eu me rendo….
Marinha Grande, 6 de Março de
2020
Joaquim Mexia Alves
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