O retiro em Ariccia está a ser conduzido pelo pregador Pe. Bovati
(Vatican Media)
Na quinta
meditação dos Exercícios Espirituais da Quaresma em Ariccia, que o Papa
Francisco segue do Vaticano, o pregador Pe. Bovati aprofunda o tema da
“travessia noturna” que pode intimidar e suscitar dúvidas sem a âncora
de salvação representada pela Palavra de Deus.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
As pessoas hoje “têm medo porque se sentem ser de pó”: o antídoto
desse medo não é “uma compensação” calibrada sobre os genéricos “valores
humanos”, mas é somente a Palavra de Deus que aparece na história dos
homens e os encoraja concretamente, indicando a direção para “a
travessia noturna”, sem atalhos ou varinhas mágicas. Sobretudo “no
momento em que se experimenta a dificuldade ou mesmo o desastre”.
Meditação desta quarta-feira de manhã
Os textos extraídos do livro do Êxodo (14, 1-31) e do Evangelho de
Mateus (14, 22-32), propostos por Pe. Pietro Bovati na manhã desta
quarta-feira (4), foram atualizados com profunda vivacidade durante a
quinta meditação dos Exercícios Espirituais para a Cúria Romana que
estão sendo realizados na cidade de Ariccia.
A intenção deste dia de oração, confidenciou o pregador, “é de
acolher o sentido espiritual de alguns relatos” da Escritura, “trazendo
indicações que nos ajudem na missão que o Senhor nos confiou com o nosso
chamamento sacerdotal e com o chamamento de responsabilidade na Igreja”. O
jesuíta trouxe novamente o exemplo de Moisés, “o servo de Deus”, “pessoa
obediente e também corajosa, dócil e ao mesmo tempo instrumento de
docilidade aos outros”. Moisés “é oferecido a nós como modelo para ser
imitado”.
A travessia noturna
O Pe. Bovati recordou que o encontro recebeu o título de “travessia
noturna”, já que através da palavra “noite”, “somos chamados a entrar
numa perspetiva de obscuridade que comporta dimensões de inquietação,
de desorientação”. E, ao mesmo tempo, “a noite é o lugar do mistério,
onde Deus se manifesta”. Ma há inclusive “o aspeto do caminho que,
porém, se apresenta como uma travessia, isto é, como uma estrada que faz
passar, como no evento pascal, através de um estreitamento e, como tal,
ainda desperta medo e até rejeição”.
No final das contas, acrescentou o pregador, “são temáticas que falam
do coração humano, do processo daqueles que estão na dúvida,
intimidados e, assim, procuram o socorro na Palavra de Deus, do homem que o
Senhor suscitou para completar essa passagem”. Na verdade, “as pessoas
têm medo porque se sentem ser de pó. É como a erva do campo, um sopro
efémero: é a experiência de cada homem”.
A força e a coragem que vêm da fé em Deus
Um “sentir” que, explicou o pregador, “acontece também para nós, e
pela qual a proposta evangélica é vista como uma orientação de
perdedores ou de inconscientes; e, quem tenta percorrer a estrada sente
medo, desânimo, muitas vezes desilusão, porque não vê as vantagens
prometidas”. A missão do homem de Deus, explicou o Pe. Bovati, “é dar
força a quem está inseguro, incutindo coragem através da fé em Deus,
fazendo com que o coração confie no Senhor, na sua presença e na sua
intervenção. É essa a palavra de consolação, que não tem nada a ver com
uma simples “compensação” no momento em que se experimenta a dificuldade
ou até mesmo o desastre”.
O pregador afirmou ainda que “o poder dado a Moisés não é um poder
mágico, não é uma varinha mágica que faz aquilo que quer a quem a usa; o
poder divino conferido ao profeta realiza eventos prodigiosos para que
eles, antes de tudo, sejam mediações de salvação para os outros, para os
indefesos; são destinados apenas ao bem dos pobres: então, é um poder
de amor, misericordioso”.
Não tenham medo!
Inclusive no capítulo 14, de Mateus, fala-se de “uma travessia do mar
feita a caminhar sobre as águas” e “de um barco ameaçado pela
tempestade”. Assim “retoma o tema da travessia, do perigo, da noite, do
medo e da intervenção do Salvador: os discípulos estão sozinhos,
assustados, e quando vêem Jesus que vem ao seu encontro, ao findar da
noite, caminhando sobre o mar, isto, em vez de os tranquilizar,
aumenta a consternação e o medo porque acreditam viver uma
experiência falsa e terrificante, como aquela quando aparece um
fantasma, que é o sinal de morte”.
Jesus encoraja-os: “não tenham medo”. A mesma coisa deve ser feita
por quem hoje testemunha o amor de Deus: “entrar nas casas para dizer
‘sou eu que quervosso bem, que levo a consolação do Senhor’, com a
consolação com a qual nós mesmos fomos consolados”.
O Pe. Bovati reconheceu que este é um ministério, antes de tudo,
“misericordioso”, porque é o caminho que leva à vida. Mas “é
misericordioso também porque ampara quem tem pouca fé, quem vacila, quem
tem medo de desistir”. Então, finalizou o pregador, “nós, no relato,
vemos a mão do Cristo, figura da mão poderosa de Deus que se estende
sobre o homem de pouca fé, salvando-o das ondas e levando-lhe a paz e
ao inteiro barco inteiro, então, que todos possam aceder à confissão de louvor,
dizendo: realmente Tu és o Filho de Deus!”.
VN
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