O Papa Francisco durante os Exercícios espirituais em Ariccia
(Vatican Media)
A reflexão do abade concentra-se primeiramente nas portas abertas. “Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o versículo 10 do Livro de Isaías.
Cidade do Vaticano
O acolhimento e a hospitalidade marcaram a meditação, realizada na manhã desta quinta-feira (14/03), pelo abade beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni, nos Exercícios espirituais para o Papa Francisco e os membros da Cúria Romana, na Casa do Divino Mestre, em Ariccia.
Começa com uma reflexão sobre o esplendor de Jerusalém, conforme
descrito no capítulo 62 do Livro do Profeta Isaías. A imagem da
Jerusalém que é descrita não é “uma cidade ideal”, esclarece o monge,
mas sim “um ideal de cidade”.
As portas abertas das cidades
A reflexão do abade concentra-se primeiramente nas portas abertas.
“Passem, passem pelas portas, abram caminho para o povo”, diz o
versículo 10 do Livro de Isaías.
“Bonita é a imagem de portas abertas, para que toda a humanidade
possa finalmente entrar, encontrar-se e experimentar a grande promessa
de Deus que se torna realidade, o futuro que se torna presença de luz,
amor, paz e justiça para todos aqueles que caminham em direção ao rosto
do Senhor, guiados pela sua Palavra. Contrária a esta perspectiva é a
construção de toda a forma de muro, barreira e baluarte que não tem dentro
de si uma porta hospitaleira e convidativa”, disse o abade beneditino.
Toda cidade é lugar de acolhimento
Para Giorgio La Pira, como prefeito de Florença, era necessário que
da cidade saísse “uma mensagem renovada de paz e esperança”: “Esperanças
de paz, esperanças civis, esperanças de Deus e esperanças do homem.”
O abade Bernardo Francesco Maria Gianni recorda que o Papa Francisco advertiu-nos de que estamos a viver uma Terceira Guerra Mundial em pedaços,
em fragmentos lacerantes em várias partes do mundo. Acho bonito,
profético e profundamente atual este apelo do prefeito para fazer de
Florença e não só, mas de toda cidade, o lugar de acolhimento no qual se
renova uma mensagem de paz e esperança.
Esta é uma tarefa que o prefeito La Pira atribuiu ao seu serviço de
homem político, mas é um serviço que a Igreja não pode deixar de apoiar,
desejar, propor e testemunhar no nosso tempo aos prefeitos e aos homens
políticos do mundo inteiro, para que a cidade realmente volte a ser,
segundo a perspetiva que Isaías nos faz sonhar, um “símbolo para todos
os povos”.
Oração na base de uma missão de paz
La Pira sabia que Florença poderia ser “uma renovada e reencontrada
capital da paz e da justiça” graças à oração e contemplação: “Sem essas
raízes místicas, a lei doada pelos seus mosteiros de clausura e pelos
seus santos, não seria aquilo que é: cidade de contemplação e beleza
teologal”, observa o abade beneditino.
Hospitalidade de São Bento
Bernardo Francesco Maria Gianni recorda as palavras de São Bento
sobre a hospitalidade em que o Santo exorta a acolher todos os
convidados como se fossem Cristo, mas diz que a troca do beijo da paz
não deve ser feita antes da oração. Ter outro diante de mim envolve
riscos. Portanto, a de São Bento, disse o abade, não é uma
“hospitalidade, é uma hospitalidade lúcida que aceita o risco evangélico
do amor e fortalece o homem que se expõe a esse risco com a única força
que o fiel tem, ou seja, a oração”. Repercorrendo ainda as instruções
sobre o acolhimento dos convidados, o abade observa que é marcada pela
oração e por um profundo sentido de humanidade.
Especialmente os pobres e os peregrinos são acolhidos com toda
a consideração e cuidado possível, pois é neles que se recebe Cristo de
modo particular.
Hospitalidade como escola de misericórdia
O abade recorda que São Bento, em absoluto retiro no início de sua
vida monástica, esqueceu-se de que o dia da Páscoa tinha chegado. O Senhor
enviou-lhe um sacerdote com comida e água para interromper o jejum e a
solidão.
Quando Bento viu chegar esse hóspede, a sua expressão nos dá a medida
de como tenha sido esse evento misterioso da chegada do sacerdote: “É
realmente Páscoa, pois tive a graça de te ver”. Uma passagem da
solidão à comunhão, do jejum à alegria fraterna da partilha, da morte
para a vida.
É por isso que a hospitalidade é uma escola de misericórdia que fez
Bernard de Clairvaux dizer: “O misericordioso compreende a verdade de
seu próximo, conformando-se a ele com simpatia, de modo a viver as suas
alegrias e tristezas como se fossem suas, fraco com os fracos, pronto
para se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram.”
Fazer nossa a lógica de Jesus
O abade exorta a aprender de uma hospitalidade radicalmente
evangélica. “Ressoam ainda as palavras lembradas pelo Papa Francisco em
que a força da fraternidade, que a adoração de Deus em espírito e
verdade gera entre os humanos, é a nova fronteira do cristianismo”,
disse o abade.
“Todo o detalhe da vida do corpo e da alma, em que brilham o amor e a
redenção da nova criatura que está a formar-se em nós, surpreende, como o
verdadeiro milagre de uma ressurreição que já está em andamento.”
“Que o Senhor nos ajude a multiplicar esses milagres. Podemos
multiplicá-los na medida em que fazemos nossa a lógica, aparentemente
perdedora, do amor do Senhor Jesus, que é uma lógica, nãonos podemos
esquecer, inevitavelmente crucificada, de modo que a Páscoa seja gerada
como um beijo do Espírito Santo com o qual o Pai restitui a plenitude da
vida ao que foi cortado e rompido”, conclui o abade Bernardo Francesco
Maria Gianni.
VN
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