Dia Mundial da Felicidade
Hoje, 20 de março celebra-se o Dia Mundial da felicidade. Para este dia propomos um decálogo da alegria, extraído do magistério do Papa Francisco
Sergio Centofanti – Cidade do Vaticano
“A procura da felicidade – afirma o Papa Francisco – é comum a todas as pessoas de todos os tempos e de todas as idades” porque o próprio Deus colocou “no coração de cada homem e de cada mulher um desejo irreprimível de felicidade” e “de plenitude”. Os nossos “corações estão inquietos procurando sem cessar um bem que possa saciar a sede de infinito” (Mensagem JMJ 2015), invisível nostalgia d’Aquele que nos criou e é Ele mesmo amor, alegria, paz, beleza, verdade. Reunimos em dez pontos algumas reflexões do Papa Francisco sobre o tema da felicidade.
1. O início da alegria é começar a dar atenção aos outros
O caminho da felicidade inicia contra a corrente: é preciso sair do
egoísmo e pensar nos outros. Ser tristes – diziam os Padres do deserto –
é quase sempre pensar em si mesmo. Deste modo – observa Francisco –
“quando a vida interior se fecha nos próprios interesses” e “não há mais
espaço para os outros”, não se deleita mais “da doce alegria”. De facto
“não se pode ser feliz sozinho”. O Papa convida a redescobrir a
generosidade, porque “Deus ama quem doa com alegria” (2Cor 9,7). É
preciso vencer a tentação de se fechar em si mesmo, de se isolar,
acreditando-se auto-suficiente, porque todos precisamos de fraternidade.
A vida adquire sentido “ao procurar o bem do próximo”, desejando a
felicidade dos outros: “Se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor,
isto já é suficiente para justificar o dom da minha vida” (Evangelii gaudium, 182).
2. Livrar-mo-nos da melancolia
Francisco gosta muito de citar uma passagem do Eclesiástico: “Filho,
se tens posses, faz o bem a ti mesmo… Não te prives do bem de um dia”
(Eclo 14, 11.14). “Deus deseja a felicidade dos seus filhos ainda aqui
na terra, porque somos chamados à plenitude eterna, porque ele criou
todas as coisas” para que possamos “aproveitá-las”. “O cristianismo –
recorda o Papa - não consiste numa série de proibições que sufocam os
nossos desejos de felicidade, mas num projeto de vida que pode fascinar
os nossos corações!” (Mensagem JMJ 2015).
Portanto o cristão expulsa a tentação maligna da melancolia e da
tristeza. Deus quer que sejamos positivos”, simples para alegrar-mo-nos com as
pequenas coisas de todos os dias e não prisioneiros “de infinitas
complicações” e pensamentos negativos. O Papa recorda um famoso ditado: a
verdadeira santidade é alegria, porque “um santo triste é um triste
santo”.
3. Não o poder, o dinheiro ou os prazeres efêmeros, mas o amor da alegria
“A felicidade não se compra no supermercado – sublinha Francisco – a felicidade está apenas no amar e no deixar-se amar” (Palavras à Peregrinação de Macerata a Loreto,
9 de junho de 2018). “Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza
de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos
de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos
impelidos a procurar sempre mais” (Mensagem JMJ 2014). “A alegria
não é a emoção de um momento: é outra coisa! A verdadeira alegria não
vem das coisas, do ter, não! Nasce do encontro, da relação com os
demais, nasce do sentir-se aceite, compreendido, amado e do aceitar, do
compreender e do amar: e isto não pelo interesse de um momento, mas
porque o outro, a outra é uma pessoa. A alegria nasce da gratuitidade de
um encontro!” (Discurso aos seminaristas, 6 de julho de 2013). O
que dá felicidade não são as coisas efémeras, mas apenas o amor sacia a
sede do infinito que há dentro de nós.
4. Ter senso de humor
O caminho da alegria – afirma o Papa Francisco – é feito também de
senso de humor: saber rir das coisas, dos outros e de ti mesmo é
profundamente humano, é um comportamento “próximo da graça. É aquele
relativismo bom, o relativismo da alegria” que “nasce do Espírito
Santo”. “Sem perder o realismo”, tornamo-nos capazes de iluminar os
outros “com um espírito positivo e rico de esperança”. É de particular
importância a auto-ironia para vencer a tentação do narcisismo: os
narcisistas – disse o Papa – “olham-se ao espelho, penteiam-se”. E dá
este conselho: quando se olharem ao espelho “riam-se de vós mesmos.
Isto fará bem” (Discurso aos estudantes dos Colégios Eclesiásticos,
16 de março de 2018). Mais ou menos o que dizia Bento XVI citando
Chesterton: “Sabem porque os anjos voam? Porque não dão peso a nada”. E
o Papa Ratzinger acrescentava: “Porque não se levam à sério” e “nós
talvez poderíamos voar um pouco mais se não nos déssemos tanta
importância”.
5. Saber agradecer
Alegria é também conseguir ver os dons que se recebe todos os dias. É
o maravilhamento diante da beleza da vida e das coisas grandes e
pequenas que preenchem as nossas jornadas. O Papa Francisco indica o
exemplo de São Francisco de Assis, que era “capaz de se comover de
gratidão perante um pedaço de pão duro, ou de louvar, feliz, a Deus só
pela brisa que acariciava o seu rosto” (Gaudete et exsultate,
127). “Às vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com o estarmos tão
fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons
de Deus” (Gaudete et exsultate, 126). Viver com alegria, ao
invés, é a “capacidade de apreciar o essencial” com sobriedade e de
partilhar, capacidade de renovar “todos os dias a admiração pela bondade
das coisas, sem sucumbir à opacidade do consumo voraz” (Angelus, 29 de janeiro de 2017). Um coração que sabe ver o bem, sabe agradecer e louvar, é um coração que sabe exultar.
6. Saber perdoar e pedir perdão
Em um coração cheio de ódio e rancores não há lugar para a
felicidade. Quem não perdoa faz mal principalmente a si mesmo. O ódio
gera tristeza. Francisco fala da alegria de quem perdoa os outros e sabe
pedir perdão. A raiz desta alegria está em compreender que será
perdoado por Deus. O Papa cita o profeta Sofonias: “Alegra-te exulta
porque o Senhor aboliu a sentença contra ti” (Cfr. Sof 3-14-15),
ou seja “perdoou-te, não és culpado, esqueceu” as tuas culpas.
Infelizmente – observa Francisco – às vezes “não somos conscientes do
perdão” de Deus e isto pode-se ver nos rostos tristes. Recorda o que
dizia um filósofo: “Os cristãos dizem que têm um Redentor; acreditarei
no Redentor, quando eles tiverem a cara de remidos, alegres por terem
sido redimidos” (Missa na capela da Casa de Santa Marta, 21 de dezembro de
2017). Portanto eis o que faz o perdão: “Alarga o coração, gera partilhamentos, doa serenidade e paz” (Angelus, 26 de dezembro de 2018).
7. A alegria do compromisso e do repouso
O Papa convida e provar a alegria de trabalhar com os outros e pelos
outros para construir um mundo mais justo e fraterno. Significa viver as
fadigas do dia a dia com o espírito das Bem-aventuranças: este é o
“caminho da verdadeira felicidade” que Jesus indicou. Trata-se de “uma
novidade revolucionária, de um modelo de felicidade oposto” ao
“pensamento dominante” (Mensagem JMJ 2014). Bem-aventurados os
“simples, os humildes que deixam espaço a Deus, que sabem chorar pelo
próximo e pelos próprios erros, permanecem mansos, lutam pela justiça,
são misericordiosos para com todos, preservam a pureza do coração,
trabalham sempre pela paz e vivem na alegria, não odeiam e até quando
sofrem respondem ao mal com o bem. (Angleus, 1º de novembro de
2017). As Bem-aventuranças “não requerem gestos sensacionais”, não são
para super-homens, mas é um estilo de vida para os que precisam de Deus.
São para pessoas simples que “respiram como todos o ar poluído do mal
que há no mundo, mas ao longo do caminho nunca perdem de vista o caminho
de Jesus”: estão sempre ao lado d’Ele na fadiga e sabem repousar com
Ele para retomar o caminho com alegria.
8. Oração e fraternidade
O caminho para a alegria é dificultado pelas provas e pelos fracassos
da vida que levam ao desencorajamento. O Papa oferece duas indicações
para não perder a esperança e não desistir: perseverar na oração e nunca
caminhar sozinhos. “Podemos estar certos de que Deus responderá” à nossa
oração, mesmo se às vezes é árida. “Talvez tenhamos que insistir durante
a vida inteira, mas ele responderá” (Audiência Geral, 9 de
janeiro de 2019). “A oração muda a realidade, não nos esqueçamos disso.
Ou muda as coisas ou muda o nosso coração, mas muda sempre. Rezar é
desde o início a vitória sobre a solidão e sobre o desespero”. Segunda
indicação: Há sempre alguém na vida “que nos dá a mão para nos
levantarmos” porque “o Senhor nos salva tornando-nos parte de um povo”. O
Papa alerta sobre o perigo do individualismo: “Não permitam que o mundo
faça-vos crer que é melhor caminhar sozinho. Sozinho, nunca se
consegue. Poderás, sim, conseguir um êxito na vida, mas sem amor, sem
companheiros, sem pertença a um povo, sem aquela experiência tão bela
que é arriscarmos juntos. Não se pode caminhar sozinho” (Encontro com os jovens em Vilnius, 22 de setembro de 2018).
9. Abandonar-mo-nos nas mãos de Deus
Na vida há o tempo da cruz, há os momentos tristes em que nos sentimos
abandonados por Deus e neste silêncio de Deus é preciso mais do que
nunca abandonar-mo-nos nas suas mãos. Então – observa Francisco – vamos ao
“primeiro degrau da alegria” que é a paz, a profunda paz que vem da
entrega total a Deus. É uma “alegria sobrenatural” que nada pode
destruir e “adapta-se e transforma, e permanece sempre com uma
pequena luz que nasce da certeza” que “as graças do Senhor não acabaram,
não esgotaram as suas misericórdias” porque “é grande a sua fidelidade”
como diz Jesus: a vossa tristeza há-de converter-se em alegria” e
“ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. “A Boa-Nova é a alegria de
um Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos” (Evangelii gaudium, 237).
10. Saber sermos amados
A verdadeira alegria – afirma o Papa – nasce do encontro com Jesus,
em acreditar que Ele nos amou chegando a dar a vida por nós. A alegria é
saber que somos amados por Deus que é Pai. A verdadeira alegria não é
fruto dos nossos esforços, mas do Espírito Santo que pede apenas para
abrirmos os nossos corações para enchê-los de felicidade. “Se deixarmos que
o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então
poderemos realizar o que pedia São Paulo: ‘Alegrai-vos sempre no Senhor!
De novo o digo: alegrai-vos!’ (Gaudete et exsultate, 122)”.
Portanto a alegria é ouvir de Deus: “Tu és importante para mim, amo-te e
conto contigo”. Daqui nasce a alegria, no momento em que Jesus me
olhou: “Sentir-me amados por Deus, sentir que para Ele não somos
números, mas pessoas, e sentir que é Ele que nos chama” (Discurso aos seminaristas,
6 de julho de 2013). Os santos – observa Francisco – não são
super-homens, mas são os que descobriram o segredo da felicidade
autêntica, que mora no fundo da alma e tem como fonte o amor de Deus”
(Missa em Malmö, 1º de novembro de 2016). “A felicidade não está em
possuir algo ou tornar-mo-nos alguém, não, a verdadeira felicidade é estar
com o Senhor e viver por amor (Angelus, 1º de novembro de 2017), porque nascemos para nunca mais morrer, nascemos para gozar da felicidade de Deus! (Angelus, 1º de novembro de 2018).
VN
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