01 março, 2019

D. Américo: “Entrega total, sem ‘ses’ nem ‘mas’, para o anúncio de Jesus Cristo”

O novo Bispo Auxiliar de Lisboa confessa sentimentos “mistos”, de “alegria e aflição”, ao saber da nomeação do Papa, e assegura “entrega total” à sua nova missão, porque “quem ama com Deus, está sempre garantido”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, D. Américo Aguiar dirige-se aos jovens da diocese para os provocar a “saírem do sofá” e serem “protagonistas” da Jornada Mundial da Juventude, que o Patriarcado recebe em 2022.




Como acolheu a nomeação para Bispo Auxiliar de Lisboa?
Tudo isto acontece num contexto muito próximo da Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. Passei mais de um mês a ouvir o hino ‘Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua Palavra’ e tudo se materializou muito epidermicamente, e no coração, com este anúncio. É sempre uma surpresa, seja para quem for, seja quando for. Nunca estamos preparados para que isso possa verdadeiramente acontecer. E quando acontece, é algo que não dominamos. São sentimentos mistos, de alegria, de aflição – ninguém me entregou um livro de instruções! –, e por isso temos consciência da nossa pequenez, da nossa impossibilidade de corresponder de imediato, totalmente, àquilo que é o desafio, mas também temos a certeza que quem acompanha Deus, quem ama com Deus, está sempre garantido.

Escolheu como lema episcopal ‘In manus Tuas’, que era também o lema de D. António Francisco dos Santos. É uma homenagem ao antigo Bispo do Porto, falecido em 2017?
É verdade. O senhor D. António tinha como lema ‘In manus Tuas’ (‘Nas Tuas mãos’) e das primeiras coisas que me surgiu foi essa necessidade, de coração, profunda de o homenagear, de tanto que ele nos ensinou e do tanto que ele se deu na totalidade. E também de ter a certeza que ele, o senhor D. Armindo, o cardeal Ribeiro, o cardeal Policarpo, o D. Tomás, todos aqueles que serviram o Porto, que serviram Lisboa e que serviram tantas dioceses e o mundo, eu sou um sucessor deles. Por isso, é com alegria que, no senhor D. António Francisco, faço esta homenagem, reutilizando o seu lema, que é o lema de Nosso Senhor na cruz, as últimas palavras de Jesus.

Escolheu como lema episcopal ‘In manus Tuas’, que era também o lema de D. António Francisco dos Santos. É uma homenagem ao antigo Bispo do Porto, falecido em 2017?
É verdade. O senhor D. António tinha como lema ‘In manus Tuas’ (‘Nas Tuas mãos’) e das primeiras coisas que me surgiu foi essa necessidade, de coração, profunda de o homenagear, de tanto que ele nos ensinou e do tanto que ele se deu na totalidade. E também de ter a certeza que ele, o senhor D. Armindo, o cardeal Ribeiro, o cardeal Policarpo, o D. Tomás, todos aqueles que serviram o Porto, que serviram Lisboa e que serviram tantas dioceses e o mundo, eu sou um sucessor deles. Por isso, é com alegria que, no senhor D. António Francisco, faço esta homenagem, reutilizando o seu lema, que é o lema de Nosso Senhor na cruz, as últimas palavras de Jesus.

É muito ligado aos últimos Bispos do Porto. De que forma estes relacionamentos o podem ajudar na sua nova missão?
Não me posso queixar de não saber no que me estou a meter! Porque eu, desde a minha ordenação, que trabalhei nos bastidores de muitos santos bispos. Quando entrei para o seminário, ainda estava Bispo do Porto o senhor D. Júlio Tavares Rebimbas, que foi Auxiliar de Lisboa, com o título de Arcebispo de Mitilene, de seguida foi Bispo do Porto o senhor D. Armindo Lopes Coelho, que me ordenou, em 2001, de seguida esteve Administrador Apostólico o senhor D. João Miranda Teixeira, felizmente vivo, seguiu-se o senhor D. Manuel Clemente, felizmente reinante, o senhor D. Pio, que foi Administrador Apostólico da Diocese do Porto, seguiu-se efemeramente o senhor D. António Francisco dos Santos, que tanto nos marcou, o senhor D. António Taipa, Administrador Diocesano, que foi o meu reitor no seminário, e agora o senhor D. Manuel Linda; por isso, não me posso queixar de desconhecimento daquilo que significa verdadeiramente, e nos nossos dias, de um modo especial, um feliz martírio daquilo que significa nos martirizarmos na entrega total, sem ‘ses’ nem ‘mas’, para o anúncio de Jesus Cristo.

A sua história de vocação está muito ligada ao escutismo, concorda?
Vou-lhe contar uma história. Quando chegou a altura de ir para a catequese, como todos os miúdos, fui para a catequese. Sou o mais novo de sete filhos e houve uma altura em que eu não quis ir para a catequese – e isto não é bom exemplo! Acontece que eu era um fã do Tio Patinhas, do Pato Donald, do Huguinho, do Zezinho e do Luizinho, os sobrinhos do Pato Donald que eram e são escoteiros-mirins. Eu era escoteiro-mirim e, a certa altura, anunciam na Paróquia de Leça do Balio, a minha paróquia, que vai abrir um agrupamento de escuteiros. Eu imediatamente me disponibilizei e fui lá inscrever-me. Foi-me perguntado o nome, a morada e qual o ano da catequese em que estava e eu respondi que não andava na catequese… ‘Tem que andar, porque isto é escutismo católico’. Fui para casa com uma depressão muito grave, era um miúdo com 14 anos, e tive de tomar uma decisão drástica na minha vida: se queria ir para os escuteiros, tinha que ir para a catequese. E assim foi, e olhe o que deu! É interessante que depois, em todo o caminho realizado, o escutismo forma-nos, totalmente, como cidadãos, como cristãos, nomeadamente no serviço. O lema ‘Sempre alerta para servir’, desde sempre e de um modo especial, essa dimensão do serviço e do trabalho em equipa, digamos que, a mim e a todos – porque escuteiro uma vez, escuteiro para sempre – nos prepara para o serviço. Este serviço a que sou chamado agora, de um modo excelente, é serviço puro e duro.

É nomeado para uma diocese que daqui a três anos vai receber o Santo Padre, e cerca de dois milhões de jovens, para a Jornada Mundial da Juventude. Que mensagem quer deixar aos jovens do Patriarcado de Lisboa?
Que conto com eles! Contamos com eles! Nada disto será possível se eles não alinharem. Porque a Jornada Mundial da Juventude não é uma coisa feita por bispos ou por cardeais, ou pelo Papa ou por Roma… Aliás, o senhor Patriarca está sempre a dizer isso: a Jornada Mundial da Juventude há de ser uma iniciativa dos jovens, feita pelo jovens, para os jovens. Nós, os velhos, haveremos de proporcionar as estruturas, aquilo que é necessário para que as coisas aconteçam. O espírito, a alma das jornadas, há de ser plenamente da responsabilidade dos jovens. Eu provoco-os, para se levantarem do sofá, como o Papa está sempre a dizer, para serem capazes de serem protagonistas nesta história. E eles têm sido. Nós temos recebido muitos SMS’s, e-mails e telefonemas com a disponibilidade, mas têm de esperar um pouco, porque as coisas têm o seu tempo e dentro de pouco tempo certamente que todos os jovens, em cada paróquia, em cada vigararia, em cada realidade, quer de Lisboa quer do país, mas de um modo especial com foco em Lisboa e de imediato, vão ser chamados a darem-se, totalmente, porque a Jornada Mundial da Juventude pode ter os números que diz, mas só pedimos é que venha um de cada vez. Será uma oportunidade única, não tanto pelo evento, porque o evento monta-se a tenda e desmonta-se a tenda e acabou. O mais importante da Jornada Mundial da Juventude é o que vai acontecer nestes três anos e meio e aquilo que acontecerá a partir do dia em que o Papa regressar a Roma.

Patriarcado de Lisboa 

Sem comentários:

Enviar um comentário