(RV) Na
manhã deste domingo, o Papa saiu da Nunciatura, onde pernoitou, às 8 da
manhã, hora local, percorrendo cerca de 4 km em viatura panorâmica, até à
Praça da Revolução “José Martí”, onde presidiu à Missa, depois de uma
volta por entre a multidão de fiéis, cerca de um milhão.
A Praça da Revolução, José Martí, é um lugar fortemente simbólico de
Cuba, palco de encontro de grandes multidões. Pode conter cerca de 600
mil pessoas. José Martí, como se sabe é um renomado jornalista e poeta
que viveu entre 1853 e 1895. Militante contra a ocupação espanhola em
Cuba, foi deportado, primeiro para a Espanha, e depois para o México.
Viveu na América Latina, Paris e Nova Iorque, antes de voltar para Cuba,
onde foi assassinado em batalha contra os espanhóis. Conhecido durante a
sua vida pelos seus ensaios políticos, José Martí é considerado hoje um
dos iniciadores da escola poética e modernista da América Latina.
Mas voltemos à Missa nessa Praça onde se ergue, para além da estátua
de José Martí, o Palácio da Revolução marcado pela bandeira cubana e
pelo rosto e Che Guevara… e onde os Papas João Paulo II e Bento XVI
tinham também rezado missa…
Na sua homilia o Papa Francisco comentou o Evangelho de São Marcos em
que Jesus pergunta aos seus discípulos de que discutiam pelo caminho? –
Os discípulos, envergonhados, não respondem, pois discutiam sobre quem
era o mais importante de entre eles aos olhos de Cristo. Jesus não
insiste na pergunta, mas ela fica na mente e no coração dos discípulos. E
é uma pergunta que Jesus nos pode fazer a nós hoje também. Quem é o
mais importante? É uma pergunta à qual não podemos fugir ao longo da
nossa vida. E a forma com se responde a esta pergunta tem marcado toda a
história da humanidade – frisou o Papa.
Jesus não insiste na pergunta, mas conhecendo o coração humano, e
como bom pedagogo assume os nossos interrogativos e aspirações,
conferindo-lhes um novo horizonte, colocando novos desafios, propondo a
lógica do amor, capaz de ser vivida por todos, porque é para todos. E
não se trata de um horizonte para poucos privilegiados em conhecimentos
ou espiritualidade. É algo para a vida diária, é uma resposta simples, a
de Jesus:
“Se alguém quer ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo
de todos. Quem quiser ser grande, sirva os outros e não se sirva dos
outros”
Jesus transtorna assim a lógica dos seus discípulos, fazendo-lhes
compreender que “a vida autentica vive-se no compromisso concreto com o
próximo” e “servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade”.
“Cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso
povos. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que Jesus nos
propõe olhar e convida concretamente a amar. Amor que se concretiza em
acções e decisões. Amor que se manifesta nas diferentes tarefas que
somos chamados, como cidadãos, a realizar. As pessoas de carne e osso,
com a sua vida, a sua história e, especialmente com a sua fragilidade,
são aqueles que Jesus nos convida a defender, a assistir, a servir.
Porque ser cristãos comporta servir a dignidade dos irmãos, lutar pela
dignidade dos irmãos e viver para a dignificação dos irmãos. Por isso à
vista concreta dos mais frágeis, “o cristão é sempre convidado a pôr de
lado as suas exigências, expectativas, desejos e omnipotências”
O Papa convidou depois a evitar servir de forma que o serviço no
fundo seja para os próprios interesses, isto é, um serviço que gera
sempre uma dinâmica de exclusão. Estamos todos chamados a fazer um
serviço que serve e não um serviço de que nos servimos. “Todos somos
convidados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor”. Mas este cuidar
por amor – adverte o Papa – não significa de modo nenhum servilismo; é
sim um fixar sempre o rosto do irmão, padecer com ele, se necessário, e
procurar a sua promoção. Por isso, frisou, “o serviço nunca é
ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas.”
E fazendo notar que o povo cubano é um povo alegre que ama a festa, a
amizade, as belas coisas, um povo que canta, louva e sabe caminhar na
esperança, não obstante as provações por que tem passado, o Papa
convidou-os a cuidarem desta vocação, destes dons que Deus lhes deu, mas
sobretudo a cuidarem e a servirem, de modo especial, a fragilidade dos
seus irmãos, pois que a “importância de um povo, duma nação, duma
pessoa, sempre se baseia no modo como serve a fragilidade dos seus
irmãos. Quem não vive para servir, não serve para viver” – rematou. (DA)
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