Vidas abertas aos outros pelo Espírito Santo
O
Renovamento Carismático Católico chegou a Portugal há 40 anos.
“Impulsionados pelo Espírito Santo”, os membros deste ‘movimento’ da
Igreja procuram a “intimidade com Deus” para estarem ao serviço dos
outros, em especial nas “diversas atividades paroquiais”.
“Por vezes somos vistos um pouco fora do comum, mas
não é assim. O Renovamento Carismático requer uma linha de
interiorização muito grande. É certo que levantamos as mãos porque é
todo o nosso corpo que quer louvar o Senhor... mas sem exageros, porque
por vezes isso também existe”. Quem o diz é Garcia Estêvão, membro do
Renovamento Carismático há 25 anos. Para este paroquiano de Benfica, com
78 anos, é no Renovamento Carismático que sente “a presença do Senhor”.
As circunstâncias que o fizeram começar uma “experiência maravilhosa”
estão bem presentes na sua memória. “Conheci o Renovamento Carismático
na Casa de Retiros da Buraca, há 25 anos, depois de ter sido convidado
por uma pessoa. Fui a primeira vez e nunca mais larguei”, conta ao
Jornal VOZ DA VERDADE. Casado e com dois filhos, este empregado de
escritório – ainda em exercício, realça que a sua caminhada neste
movimento da Igreja o tornou mais desperto para interpretar os
acontecimentos na sua vida. “Há coisas que acontecem e que vemos que o
Espírito Santo está ali, como se fosse palpável”, afirma, convicto,
recordando uma etapa decisiva: “Depois de uma caminhada e de uma
envolvência, acontece, através de uma etapa, a ‘Efusão do Espírito
Santo’. Isso dá abertura para o Espírito Santo sair e não termos medo de
falar no nome do Senhor. Eu comecei a sentir isso maravilhosamente.
Primeiro, na comunidade ‘Pneumavita’, mas também ligado à equipa
diocesana, através do ‘Grupo de Oração’, mas sempre disponível para a
paróquia”, aponta.
O Espírito que age
Na paróquia de São João de Deus, em Lisboa, existe
também um ‘Grupo de Oração’. Desse grupo faz parte Ana Cristina Pires,
que ao Jornal VOZ DA VERDADE reafirma a importância da ‘Efusão do
Espírito Santo’ e mostra como a sua vida mudou após essa etapa. “Sempre
fui uma pessoa um bocadinho triste e, a partir dessa altura, toda a
gente me diz que fiquei mais alegre. Houve uma grande transformação em
mim, ao longo dos anos”, revela.
Ana Cristina, com 55 anos, refere uma situação onde
pôde ver a atuação do Espírito Santo e para a qual foi “despertada”
através da sua caminhada no Renovamento Carismático. “O meu marido teve
um enfarte, recentemente. Apesar de ter ficado muito assustada, senti a
presença do Espírito através de um amigo que estava presente naquele
momento, que era médico, e foi possível fazer a reanimação. Mesmo com
esta provação, o Senhor esteve ali, com o meu marido e com a graça de
ter um médico a seu lado. Tudo isto é o Espírito Santo que age em nós”,
afirma.
Tal como Garcia Estêvão, também para Ana Cristina
Pires a evangelização passa pela disponibilidade de todos os membros
para servir, no local onde estão. “Nós estamos muito disponíveis na
paróquia, para ajudar o irmão. Somos um grupo aberto, que nos deixamos
envolver pelo Espírito Santo. Deixamos que o Espírito Santo aja através
de nós... e isso é muito bom”, revela.
Igreja nascente
Existe tendência para atribuir a origem do Renovamento
Carismático no Brasil, provavelmente por aí ter atualmente maior
expressão; contudo, o Renovamento Carismático teve a sua origem, em
1967, nos Estados Unidos da América, mais concretamente na cidade norte
americana de Pittsburgh, estado da Pensilvânia. “Naquela cidade, na
Universidade do Espírito Santo, um grupo de alunos e professores
reunia-se frequentemente para falar da sua fé. Era um grupo que se
sentia bastante tíbio, sem entusiasmo porque estavam convencidos que o
seu progresso espiritual dependia do esforço que cada um fazia”, conta,
ao Jornal VOZ DA VERDADE, o diácono Armando Marques, atual responsável
pelo Renovamento Carismático no Patriarcado de Lisboa. “Facilmente
começaram a pensar que na ‘Igreja nascente’ não era nada disso. A Igreja
nasceu com a vinda do Espírito Santo e havia uma relação muito próxima
entre os primeiros cristãos e o Espírito Santo”. Com o permanente apoio
do cardeal belga Leo-Jozef Suenens, que, por nomeação do Papa Paulo VI,
foi um dos quatro moderadores do Concílio Vaticano II, o Renovamento
Carismático propagou-se por todo o mundo, “levando o cardeal a afirmar
que o Renovamento Carismático tinha sido a segunda graça de então, logo a
seguir ao Vaticano II. Hoje, contamos com aproximadamente 150 milhões
de membros em todo o mundo”, lembra o diácono Armando.
Diversidade
A entrada do Renovamento Carismático em Portugal
dá-se, em 1974, em Fátima. Através do padre José Lapa, Espiritano, o
movimento propagou-se pela maioria das dioceses de Portugal. Atualmente
“conta com cerca de 15 mil membros”, avança o diácono Armando Marques.
Na Diocese de Lisboa existem 71 ‘Grupos de Oração’ que contam, no total,
com cerca de 2500 membros. A estes números podem somar-se ainda as
comunidades, com “especificidades próprias mas dentro dos princípios do
Renovamento Carismático”, tais como a Comunidade Bethânia, a Comunidade
Emanuel, a Comunidade Canção Nova ou a Comunidade Pneumavita. “O
movimento tem uma grande diversidade. Não é muito uniforme”, classifica o
responsável do movimento no Patriarcado de Lisboa, reforçando que
“todas as comunidade estão sob jurisdição do Bispo local”.
Semanalmente, os ‘Grupos de Oração’ reúnem-se para
“rezar, fazer a leitura orante da Bíblia, ajudarem-se mutuamente e
prepararem-se para a evangelização”, aponta o diácono Armando. Dentro de
cada grupo “existe uma pequena estrutura que é o núcleo, composto por
3, 5 ou 7 pessoas, que ficam responsáveis, isto é servidores”. “A
evangelização é feita sobretudo dentro das paróquias. As pessoas estão
nas paróquias e procuram integrar-se, sobretudo na visita aos doentes e
nas diversas atividades paroquiais”, sublinha.
Ao serviço dos outros
O diácono Armando Marques conheceu o Renovamento
Carismático Católico, há 25 anos. Atualmente, nomeado para o trabalho
pastoral nas paróquias da Terrugem, Montelavar e Pêro Pinheiro, da
Vigararia de Sintra, este clérigo sentiu-se “tocado por esta onda de
graça que é o Renovamento Carismático” através de um ‘Grupo de Oração’
que existe em Sintra. “Algo me dizia que devia ir àquela reunião do
chamado ‘Grupo Nazaré’. E foi então que fiquei apaixonado pelo
Renovamento Carismático”, conta este avô de 10 netos.
No Renovamento Carismático, “tentamos meter Deus na
nossa vida, procurando assim que a intimidade que ganhamos com Deus
possa crescer, cada vez mais. Como responsável, tento incutir isso nas
pessoas, através dos ensinamentos, procurando fazer com que essa
intimidade com Ele seja sincera, autêntica, e verdadeira, mas com muita
humildade, despindo-nos de nós próprios para podermos estar ao serviço
dos outros”, afirma o diácono Armando, destacando que é “esta vivência
que faz com que caminhemos e demos passos na conversão”. “Como qualquer
cristão, nós também recebemos os dons do Espírito Santo mas procuramos
ter consciência do Espírito Santo que vive em cada um de nós”, afirma.
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Sínodo Diocesano 2016
“Seguindo as orientações do nosso Bispo, D. Manuel
Clemente, temos refletido, nos nossos ‘Grupos de Oração’ sobre a
exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’”.
Diácono Armando Marques, responsável pelo Renovamento Carismático no Patriarcado de Lisboa
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“A ‘Efusão do Espírito Santo’ dá abertura para o Espírito Santo sair e não termos medo de falar no nome do Senhor.”
Garcia Estêvão
“Somos um grupo aberto, que nos deixamos envolver pelo Espírito Santo. Deixamos que o Espírito Santo aja através de nós...”
Ana Cristina Pires
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Papa Francisco: “Uma corrente de graça na Igreja e para a Igreja”
No 37º Encontro Nacional do Renovamento Carismático
Católico, que decorreu em junho de 2014, no Estádio Olímpico de Roma, o
Papa Francisco alertou os participantes para o “perigo da organização
excessiva” e pediu para não “aprisionarem o Espírito Santo”, de forma a
poderem sair “pelas ruas a evangelizar, anunciando o Evangelho”. Para o
diácono Armando Marques, este discurso do Papa Francisco foi “um lastro
seguro pelo qual o Renovamento Carismático se pode pautar e guiar”.
Estas palavras do Papa Francisco são “uma espécie de constituição. Nunca
nenhum Papa tinha sido tão concreto”, lembra o responsável pelo
Renovamento Carismático no Patriarcado de Lisboa.
texto por Filipe Teixeira; fotos por Filipe Teixeira, http://govvota.blogspot.pt
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